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AMÉRICA LATINA
Às vésperas do plebiscito sobre Chávez, redes privadas, ligadas à oposição, são fiscalizadas; governo diz ser "rotina"
TVs venezuelanas sofrem inspeção-surpresa
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Uma inspeção de surpresa do
Ministério das Comunicações a
canais de TVs privados, a apenas
dois dias do plebiscito que pode
tirar o presidente Hugo Chávez
do poder, ampliou as acusações
de que o governo venezuelano está usando a máquina estatal para
intimidar a oposição. A operação
acabou suspensa.
"Gostaria de saber se na VTV
[canal público] também estão fazendo o mesmo", disse o diretor
da Globovisión, Alberto Federico
Ravell, ao jornal "El Nacional".
"Espero que o próximo governo
de [vice-presidente] José Vicente
Rangel trate melhor a mídia."
Caso Chávez perca amanhã, seu
vice, Rangel, assumirá até a realização de novas eleições presidenciais, dentro de 30 dias.
"Foi um ato de intimidação do
governo para pressionar os canais
privados a condicionar sua linha
editorial", disse à Folha Jesus Torrealba, porta-voz da Coordenação
Democrática (coalizão oposicionista). Já o vice-presidente do
Conselho Nacional Eleitoral
(CNE), Ezequiel Zamora, tido como pró-oposição, classificou a
inspeção de "absurda".
Em nota à imprensa, o ministro
das Comunicações, Jesse Chacon,
disse que "foi apenas uma inspeção de rotina para verificar as freqüências realmente utilizadas por
esses meios". "Essa operação deveria fazer com que todos os venezuelanos sintamos uma grande
confiança de que não haverá nenhum problema com as transmissões de domingo", disse ele.
Segundo o ministro, as duas
TVs públicas não foram inspecionadas porque elas "não solicitaram mudanças de microondas
para o processo de domingo".
Para um integrante da missão
de observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos), a
notícia das inspeções prejudicou
o ambiente do acordo entre os
meios de comunicação e o CNE,
que haviam se reunido no início
da manhã para discutir a cobertura de amanhã.
"Foi uma intimidação", disse
esse integrante à Folha, sob a condição do anonimato.
Durante o encontro, realizado
com a presença do chefe da missão da OEA, o embaixador brasileiro Valter Pecly, e da ONG Centro Carter, os meios de comunicação se comprometeram a não divulgar resultados de boca-de-urna antes do fim da votação e do
primeiro boletim do CNE.
O CNE, por sua vez, se comprometeu a fornecer seguranças armados para acompanhar as equipes técnicas e jornalísticas das
emissoras de TV.
Anúncio prévio
Outro impasse para o plebiscito
de amanhã é a ameaça da oposição de anunciar resultados parciais horas antes do fim da votação, apesar da proibição do CNE e
das críticas da OEA.
"Essa medida está suspensa,
mas não descartada", disse Torrealba. "Se detectarmos qualquer
irregularidade ou seqüestro de informações, temos a capacidade
técnica necessária para fazermos
um anúncio antecipado."
Outras medidas "preventivas"
anunciadas pela oposição: monitorar se haverá "intimidação" dos
militares que participam da segurança pública e incentivar eleitores a levar câmeras fotográficas e
filmadoras para registrar eventuais irregularidades nos locais de
votação.
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