São Paulo, sábado, 14 de agosto de 2004

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AMÉRICA LATINA

Às vésperas do plebiscito sobre Chávez, redes privadas, ligadas à oposição, são fiscalizadas; governo diz ser "rotina"

TVs venezuelanas sofrem inspeção-surpresa

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

Uma inspeção de surpresa do Ministério das Comunicações a canais de TVs privados, a apenas dois dias do plebiscito que pode tirar o presidente Hugo Chávez do poder, ampliou as acusações de que o governo venezuelano está usando a máquina estatal para intimidar a oposição. A operação acabou suspensa.
"Gostaria de saber se na VTV [canal público] também estão fazendo o mesmo", disse o diretor da Globovisión, Alberto Federico Ravell, ao jornal "El Nacional". "Espero que o próximo governo de [vice-presidente] José Vicente Rangel trate melhor a mídia."
Caso Chávez perca amanhã, seu vice, Rangel, assumirá até a realização de novas eleições presidenciais, dentro de 30 dias.
"Foi um ato de intimidação do governo para pressionar os canais privados a condicionar sua linha editorial", disse à Folha Jesus Torrealba, porta-voz da Coordenação Democrática (coalizão oposicionista). Já o vice-presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Ezequiel Zamora, tido como pró-oposição, classificou a inspeção de "absurda".
Em nota à imprensa, o ministro das Comunicações, Jesse Chacon, disse que "foi apenas uma inspeção de rotina para verificar as freqüências realmente utilizadas por esses meios". "Essa operação deveria fazer com que todos os venezuelanos sintamos uma grande confiança de que não haverá nenhum problema com as transmissões de domingo", disse ele.
Segundo o ministro, as duas TVs públicas não foram inspecionadas porque elas "não solicitaram mudanças de microondas para o processo de domingo".
Para um integrante da missão de observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos), a notícia das inspeções prejudicou o ambiente do acordo entre os meios de comunicação e o CNE, que haviam se reunido no início da manhã para discutir a cobertura de amanhã.
"Foi uma intimidação", disse esse integrante à Folha, sob a condição do anonimato.
Durante o encontro, realizado com a presença do chefe da missão da OEA, o embaixador brasileiro Valter Pecly, e da ONG Centro Carter, os meios de comunicação se comprometeram a não divulgar resultados de boca-de-urna antes do fim da votação e do primeiro boletim do CNE.
O CNE, por sua vez, se comprometeu a fornecer seguranças armados para acompanhar as equipes técnicas e jornalísticas das emissoras de TV.

Anúncio prévio
Outro impasse para o plebiscito de amanhã é a ameaça da oposição de anunciar resultados parciais horas antes do fim da votação, apesar da proibição do CNE e das críticas da OEA.
"Essa medida está suspensa, mas não descartada", disse Torrealba. "Se detectarmos qualquer irregularidade ou seqüestro de informações, temos a capacidade técnica necessária para fazermos um anúncio antecipado."
Outras medidas "preventivas" anunciadas pela oposição: monitorar se haverá "intimidação" dos militares que participam da segurança pública e incentivar eleitores a levar câmeras fotográficas e filmadoras para registrar eventuais irregularidades nos locais de votação.


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