São Paulo, sábado, 14 de agosto de 2004

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CHEIRO DE PERIGO

Nos EUA, contrato anual de cachorro que detecta bombas e treinador excede US$ 200 mil

Medo do terror valoriza cão farejador

ANTHONY RAMIREZ
DO "NEW YORK TIMES"

Em um dia de agosto, o caminhão de água pára em frente da única entrada para veículos comerciais na sede da ONU. O motorista ergue os painéis laterais, revelando dezenas de garrafões azuis de água para os bebedouros. Duke, um labrador preto, e Steve Green, seu treinador, circundam o caminhão.
Duke fareja metodicamente as laterais do caminhão, mas não é preciso que entre no veículo. "O odor dos explosivos é mais pesado que o ar", diz Tim Adrat, outro treinador, que espera nas proximidades com seu cachorro, Blass, um labrador castanho. "Ele permearia o interior do veículo e fluiria para baixo", diz.
Caso Duke venha a se sentar, encarando seu treinador, talvez haja perigo. Essa é a maneira pela qual o cachorro avisa que farejou a presença de explosivos.
O motorista seria detido, o caminhão, isolado e o esquadrão de desativação de bombas da polícia, convocado. Mas o caminhão não apresenta nenhum traço de odor indevido, e é admitido sem incidente.
Desde 11 de setembro de 2001, agências governamentais, empresas, navios de turismo e ricos preocupados se dispõem a pagar até US$ 125 por hora pelos cães farejadores de bombas, e o dobro por serviços de curta duração. Um contrato anual, para um cachorro e um treinador, pode exceder os US$ 200 mil.
No final de julho, quando o governo anunciou novas ameaças terroristas, o pequeno grupo de empresas que fornece esses animais registrou alta na demanda.
Mas o setor, que vem obtendo rápido crescimento, não é regulamentado. Empresas conhecidas se preocupam com a possibilidade de rivais menos escrupulosos contornarem exigências mais severas -uma empresa foi condenada por fraude contra o governo no ano passado.
Até os melhores cachorros, como seus treinadores humanos, cometem erros. Podem identificar objetos benignos como bombas. E também se cansam.
"Não estamos falando do cachorro do Super-Homem", disse John Harvey, ex-técnico em detecção de bombas da polícia de Nova York e hoje diretor de operações caninas na Michael Stapleton Associates, em Manhattan. A Stapleton tem 55 cães farejadores de explosivos hoje, ante apenas 11 em 2001.
Harvey recorda uma empresa cliente que queria saber quanto tempo demoraria para que um cão farejador vasculhasse sua sede, um arranha-céus de 51 andares, em busca de explosivos. "Um mês", disse Harvey, para surpresa do cliente.
A empresa, que queria varreduras diárias, não entendia que o cachorro pode perder sua concentração em dez minutos. "Muito antes de chegar ao 51º andar, o cão já deixou de trabalhar", disse Harvey. "Está apenas passeando por distração".


Tradução de Paulo Migliacci


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