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CHEIRO DE PERIGO
Nos EUA, contrato anual de cachorro que detecta bombas e treinador excede US$ 200 mil
Medo do terror valoriza cão farejador
ANTHONY RAMIREZ
DO "NEW YORK TIMES"
Em um dia de agosto, o caminhão de água pára em frente da
única entrada para veículos comerciais na sede da ONU. O motorista ergue os painéis laterais,
revelando dezenas de garrafões
azuis de água para os bebedouros. Duke, um labrador preto, e
Steve Green, seu treinador, circundam o caminhão.
Duke fareja metodicamente as
laterais do caminhão, mas não é
preciso que entre no veículo. "O
odor dos explosivos é mais pesado que o ar", diz Tim Adrat, outro treinador, que espera nas
proximidades com seu cachorro, Blass, um labrador castanho.
"Ele permearia o interior do veículo e fluiria para baixo", diz.
Caso Duke venha a se sentar,
encarando seu treinador, talvez
haja perigo. Essa é a maneira pela qual o cachorro avisa que farejou a presença de explosivos.
O motorista seria detido, o caminhão, isolado e o esquadrão
de desativação de bombas da
polícia, convocado. Mas o caminhão não apresenta nenhum
traço de odor indevido, e é admitido sem incidente.
Desde 11 de setembro de 2001,
agências governamentais, empresas, navios de turismo e ricos
preocupados se dispõem a pagar
até US$ 125 por hora pelos cães
farejadores de bombas, e o dobro por serviços de curta duração. Um contrato anual, para
um cachorro e um treinador,
pode exceder os US$ 200 mil.
No final de julho, quando o governo anunciou novas ameaças
terroristas, o pequeno grupo de
empresas que fornece esses animais registrou alta na demanda.
Mas o setor, que vem obtendo
rápido crescimento, não é regulamentado. Empresas conhecidas se preocupam com a possibilidade de rivais menos escrupulosos contornarem exigências
mais severas -uma empresa foi
condenada por fraude contra o
governo no ano passado.
Até os melhores cachorros, como seus treinadores humanos,
cometem erros. Podem identificar objetos benignos como
bombas. E também se cansam.
"Não estamos falando do cachorro do Super-Homem", disse John Harvey, ex-técnico em
detecção de bombas da polícia
de Nova York e hoje diretor de
operações caninas na Michael
Stapleton Associates, em Manhattan. A Stapleton tem 55 cães
farejadores de explosivos hoje,
ante apenas 11 em 2001.
Harvey recorda uma empresa
cliente que queria saber quanto
tempo demoraria para que um
cão farejador vasculhasse sua sede, um arranha-céus de 51 andares, em busca de explosivos.
"Um mês", disse Harvey, para
surpresa do cliente.
A empresa, que queria varreduras diárias, não entendia que
o cachorro pode perder sua concentração em dez minutos.
"Muito antes de chegar ao 51º
andar, o cão já deixou de trabalhar", disse Harvey. "Está apenas
passeando por distração".
Tradução de Paulo Migliacci
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