São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2006

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análise

Israel procura algum sinal de vitória

STEVEN ERLANGER
DO "NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM

A iniciativa israelense de aumentar suas forças terrestres no Líbano, um dia antes de sua esperada adesão ao cessar-fogo, tem dois objetivos: prejudicar o Hizbollah ao máximo e encerrar o conflito com algo que o governo, sob pressão interna, possa descrever como vitória.
Tendo começado a guerra dizendo que o objetivo era a destruição do Hizbollah, o premiê Ehud Olmert poderá afirmar apenas que o grupo foi gravemente ferido e que, com tropas internacionais, sua atuação será restrita.
Olmert e seu ministro da Defesa, Amir Peretz, foram prejudicados pela percepção de que não souberam conduzir a guerra e que relutaram em enviar tropas terrestres em grande número quando ainda havia tempo para atingir as metas declaradas. É provável que a sobrevivência do governo israelense atual tenha sido encurtada.
A discussão em Israel não diz respeito à legitimidade da guerra, amplamente aceita. As críticas ao governo se voltam ao modo como ele conduz a campanha militar.
Líderes militares se queixam de que os políticos não deixaram o Exército fazer seu trabalho, enquanto políticos dizem que o Exército prometeu o trabalho em uma ou duas semanas e com ataques aéreos.
Como é de costume em Israel, o Exército é mais bem visto do que os políticos e com certeza irá ganhar a discussão. Mas seu desempenho contra o Hizbollah vai suscitar críticas a falhas.
Também haverá críticas severas ao grau de preparo do governo, diante da imagem de milhares de israelenses mais pobres em abrigos antibomba decrépitos. No pós-guerra, Olmert, que lidera o Partido Kadima, de centro, enfrentará ainda as críticas da direita.
Parece estar com os dias contados o plano de Olmert de ampliar a política do unilateralismo, retirando até 70 mil colonos israelenses da Cisjordânia para trás da barreira [que cerca os territórios palestinos]. As guerras de foguetes fizeram a barreira parecer frágil.
O ex-embaixador israelense em Washington Itamar Rabinovich formulou a questão: "Dois conceitos morreram. Primeiro, o unilateralismo, e segundo, a separação pela barreira. Os mísseis tornam a barreira inútil."
Os israelenses temem que tenha sido prejudicada sua relação com os EUA, onde muitos se queixam de que foi dado tempo a Israel de bater duro no Hizbollah. "Sairá prejudicada em parte nossa reputação de parceiro estratégico", disse Rabinovich.
"Nossa auto-imagem é em parte a de fazedores de milagres militares, e, desta vez, não fizemos milagre."


Tradução de CLARA ALLAIN

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