Em seu aniversário de 80 anos, ditador pede otimismo, mas admite que corre risco; Raúl aparece pela primeira vez

Mandatário em exercício desde 31 de julho, Raúl Castro fez sua primeira aparição ontem, ao receber Hugo Chávez em Havana

"Juventud Rebelde"/France Presse

Em foto publicada ontem, Fidel mostra referência a discurso que fez ao ser julgado em 1953

Em mensagem aos cubanos no dia em que completou 80 anos, ontem, o ditador Fidel Castro disse que enfrenta uma longa recuperação da cirurgia a que foi submetido há duas semanas e os aconselha a se preparar para qualquer "notícia adversa", mas pede que "permaneçam otimistas".
O órgão de imprensa oficial de Cuba, "Granma", publicou as primeiras fotografias de Fidel desde o anúncio de seu afastamento do poder -ele não aparece em público desde 26 de julho. As festividades marcadas para ontem foram adiadas no mesmo dia em que ele anunciou a cirurgia.
Raúl Castro apareceu em público pela primeira vez desde que assumiu provisoriamente os cargos de Fidel. Ele foi mostrado na TV estatal ao receber o presidente venezuelano. Hugo Chávez chegou a Havana na noite do sábado para visitar Fidel em seu aniversário.

"Muito feliz"
"Me sinto muito feliz", dizia a nota atribuída a Fidel Castro publicada no jornal "Juventud Rebelde" e reproduzida no "Granma".
Nas fotos, Fidel aparece usando um casaco branco e vermelho da Adidas, sentado, falando ao telefone e segurando um suplemento do "Granma" de sábado que o homenageava.
A manchete do jornal, "Absolvido pela história", era uma referência à autodefesa de Fidel no julgamento a que foi submetido em 1953, durante a ditadura de Fulgêncio Batista, pela invasão do quartel Moncada. "A história me absolverá", foi sua frase na época.
As fotos eram creditadas a Estudios Revolución, grupo ligado a Fidel que coleta imagens e documentos históricos.
O "Juventud Rebelde" também publicou uma nota escrita a mão por Fidel a cinco presos cubanos nos EUA, acusados de trabalhar no país como agentes estrangeiros ilegais.
"René, António, Gerardo, Fernando, Ramón: vamos triunfar sobre a monstruosa injustiça!", dizia a nota.
O presidente russo, Vladimir Putin, mandou seus cumprimentos ao líder cubano pelo aniversário. O Kremlin disse que Putin também desejou a Fidel uma recuperação rápida e disse que a Rússia e a Cuba comunista continuariam a ser "parceiras ativas, com o objetivo de desenvolver laços em várias esferas de interesse para os dois povos e garantindo paz e estabilidade". Putin foi o primeiro líder russo pós-soviético a visitar Cuba, em 2000.
Fidel Castro disse que seu estado de saúde durante a recuperação seria tratado como "segredo de Estado".

Reação de exilados
A comunidade cubana exilada nos EUA criticou o ditador e a imprensa da ilha.
"Infelizmente, o otimismo do "Granma" sobre a saúde de Fidel Castro está em contraste agudo com os prisioneiros políticos que estão apodrecendo em prisões cubanas simplesmente por discordar dele", disse Alfredo Mesa, porta-voz da Fundação Nacional Cubano-Americana. "Morto ou vivo, a mudança em Cuba deve vir agora."
Para o líder do Movimento Democrático, Ramón Saúl Sánchez, "é estranho que ele apareça em fotos e não em vídeo. Devemos lembrar que estamos vendo o que querem que vejamos. Sua roupa é muito incomum. Ele não é conhecido por usar essas cores claras", disse.