São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2006

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Postos refletem ênfase na relação sul-sul

No governo Lula, Itamaraty abriu 29 novas representações, a maioria na África, América Latina e Ásia

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil nunca teve tantos postos diplomáticos no exterior como no atual governo. Desde 2003 foram abertos ou estão em processo de abertura 29 novos postos, a maioria em países em desenvolvimento.
As novas investidas do Itamaraty mostram a ênfase do governo na chamada diplomacia sul-sul, que prioriza relações com países da América Latina, África e Ásia. Com essa estratégia, até o final do ano, o país terá 167 postos no exterior.
De olho em apoio para conseguir um assento permanente em uma eventual reforma do Conselho de Segurança da ONU, parceiros para as negociações comerciais multilaterais e novos mercados, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dado atenção especial à África, onde visitou 17 países em cinco viagens e onde já abriu ou vai inaugurar 12 postos diplomáticos.
O governo vê interesses estratégicos em todos os postos. Os críticos consideram dispersão de gastos e recursos diplomáticos e vêem interesse em acomodar diplomatas.
De acordo com o Itamaraty, hoje mais de 53% das exportações brasileiras são para países em desenvolvimento. Em 2002, eram 43%.
"O estreitamento dessas relações ajuda a compor forças e reforça a unidade dos países em desenvolvimento", afirma o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "Vivem nos criticando, mas, se não tivéssemos aberto um consulado em Beirute recentemente, teríamos problemas para retirar e prestar assistência aos brasileiros no atual conflito."
Na descrição estratégica do Itamaraty há também razões menos pragmáticas. Por exemplo, no Benin um dos motivos é a ligação histórica com o país desde 1830, quando escravos alforriados retornaram e formaram a elite política local.
A África também tem sido considerado um continente estratégico pela China, por causa das reservas de matérias-primas. Em seis meses, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, fez três viagens pelo continente, que recebeu também a visita do presidente, Hu Jintao.
Outra região visada pelo Itamaraty foi o Oriente Médio. Há um ano, o governo investiu R$ 6,6 milhões na Cúpula América do Sul-Países Árabes, em Brasília. Entre os novos postos, três estão na região.
O Congresso autorizou a realização de concursos para a contratação de mais 400 diplomatas nos próximos quatro anos. O governo aumentou o orçamento do Itamaraty, um dos menores, e elevou a dotação de R$ 1,2 bilhão em 2002 para R$ 1,8 bilhão em 2005. Neste ano, foi de R$ 1,6 bilhão.
Não foi feito um levantamento sobre os custos dos novos postos. "Custa muito mais não ter quando precisamos", diz Amorim.
Por restrições orçamentárias, em 1999 o então chanceler Luiz Felipe Lampreia fechou 18 postos no exterior. Na avaliação do ex-ministro, os critérios devem ser mais seletivos.
"Não é abrindo embaixadas que se faz diplomacia. O critério deve ser cada vez menos político e cada vez mais de racionalidade administrativa."


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