São Paulo, terça-feira, 14 de agosto de 2007

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Venezuela nega desculpas à Argentina

Para Caracas, responsabilidade no caso do venezuelano que foi pego em Buenos Aires com US$ 800 mil é individual

Na Argentina, o caso tem sido usado pela oposição para criticar a candidatura da primeira-dama, Cristina Kirchner, à Presidência

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O governo venezuelano rechaçou ontem o pedido da Argentina para que se desculpasse pelo escândalo envolvendo o empresário flagrado com quase US$ 800 mil no aeroporto de Buenos Aires. O caso tem sido usado pela oposição para atacar a candidatura presidencial da primeira-dama, Cristina Fernández de Kirchner. "Se o delito é cometido em conivência com funcionários públicos, o Estado tampouco tem de assumir a responsabilidade, porque a responsabilidade penal é individual", disse o ministro do Interior venezuelano (Justiça), Pedro Carreño.
Segundo o governo argentino, o empresário venezuelano Guido Alejandro Antonini Wilson, que se identificou como dono da maleta, deixou Caracas num avião fretado pela empresa argentina Enarsa a pedido de funcionários e do filho de um vice-presidente da estatal PDVSA, os quais também estavam na aeronave. A apreensão, feita pela Aduana argentina, ocorreu no último dia 4, dois dias antes da visita de Hugo Chávez à Argentina.
Na sexta-feira, depois de demitir um de seus principais assessores por suposto envolvimento, o ministro do Planejamento argentino, Julio de Vido, e o chefe-de-gabinete da Presidência, Alberto Fernández, cobraram desculpas e explicações de Caracas. Embora Cristina Kirchner siga à frente nas pesquisas para a eleição do dia 28 de outubro, o governo de seu marido se vê envolvido em uma série de escândalos com altos funcionários. A imprensa local tem afirmado que o governo Kirchner espera um "gesto forte" de Chávez com relação ao caso da mala.
Na Venezuela, nenhum dos funcionários do governo que estavam no avião se pronunciou até agora. A PDVSA se limitou a informar que iniciaria uma investigação própria. "Não entendo qual é o escândalo comunicacional porque um cidadão ia com uma mala", disse Carreño. "Ele que assuma a sua responsabilidade e, caso se demonstre que essa maleta saiu do país e não declarou mais de US$ 10 mil, se abrirá o processo judicial e se imporá sua responsabilidade."
Dez dias após a apreensão da mala, a ação está paralisada na Justiça argentina: ontem, o juiz Diego Zysman se negou a assumir a causa depois que a juíza original, Marta Novatti, pediu afastamento.
Zysman considerou "débeis" os motivos de Novatti para abandonar a causa -no fim da semana passada, a juíza havia pedido para deixar o caso por razões de "delicadeza e decoro", depois de ter sido acusada pelo diretor da Alfândega de ter determinado que o caso fosse tratado como uma simples "infração aduaneira" e assim permitido que Wilson deixasse a Argentina sem ser detido.
Com a recusa de Zysman, caberá ao plenário da Câmara Penal e Econômica decidir que juiz deverá comandar a investigação. O paradeiro de Wilson é desconhecido desde que ele deixou Buenos Aires, na última terça-feira.


Colaborou RODRIGO RÖTZCH, de Buenos Aires


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