São Paulo, terça-feira, 14 de agosto de 2007

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Parlamento britânico propõe diálogo com radicais islâmicos

Comissão legislativa critica atuação do governo com relação ao Hamas, ao Hizbollah e à egípcia Irmandade Muçulmana

Relatório elaborado por parlamentares da Câmara dos Comuns britânica vai na direção contrária às políticas da UE, dos EUA e de Israel

DA REDAÇÃO

Em uma direção contrária à adotada até o momento por Estados Unidos, União Européia e Israel, parlamentares britânicos defenderam em relatório divulgado ontem uma reaproximação do Reino Unido com grupos radicais islâmicos no Oriente Médio -incluindo o movimento palestino Hamas. O relatório, elaborado pelo Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara dos Comuns britânica, diz que o isolamento do Hamas é "contraproducente" e dificulta o processo de paz regional.
O Hamas é alvo de um boicote internacional desde sua vitória nas eleições palestinas, em janeiro de 2006.
A chancelaria britânica reagiu ao relatório afirmando que "está pronta para responder a qualquer movimento significativo feito pelo Hamas". O órgão insistiu, porém, que o diálogo deverá ter como base a renúncia à violência, o reconhecimento do direito de existência de Israel e o compromisso com acordos de paz anteriores.
As três exigências são rejeitadas pelo Hamas, que tem como um de seus fundamentos o não-reconhecimento de Israel.
Em uma tentativa de pôr fim ao boicote, o Hamas chegou a aceitar formar um governo de coalizão com a facção rival Fatah, grupo laico considerado mais moderado, mas o acordo fracassou em junho último. O resultado é um racha que isolou o Hamas na faixa de Gaza.
Enquanto os EUA, Israel e a União Européia consideram o Hamas um grupo terrorista e rejeitam negociações diretas, o relatório britânico abre uma brecha para o fim do isolamento. "Dado o fracasso do boicote em conseguir resultados, recomendamos que o governo considere urgentemente formas de negociar com elementos moderados do Hamas", diz o texto.
Os parlamentares defendem um esforço para formar um novo governo de unidade entre o Hamas e o Fatah.
O relatório também diz que o Reino Unido errou ao se unir ao embargo contra o Hamas mesmo depois que o grupo concordou em formar um governo de coalizão com o Fatah.

Mundo árabe
O texto defende ainda a aproximação do governo britânico com o movimento radical xiita Hizbollah no Líbano e com a Irmandade Muçulmana no Egito.
"A Irmandade Muçulmana é forte no Egito, e o Hamas e o Hizbollah não podem ser ignorados." Diplomatas britânicos devem negociar com elementos moderados desses grupos e continuar a envolver o Irã e a Síria nas políticas para a região, segue o relatório.
Apesar das recomendações, os parlamentares também não pouparam os radicais de críticas. O papel do Hizbollah no Líbano foi descrito como "maligno", e o partido de oposição egípcio Irmandade Muçulmana -que, embora ilegal desde 1954, ainda é o maior do país- teria "objetivos incertos".

Apoio e crítica
O relatório britânico também questiona as políticas externas da Casa Branca em outras partes do Oriente Médio.
Para o comitê, o plano dos EUA para a paz no Oriente Médio, conhecido como Mapa do Caminho, tornou-se irrelevante, e a estratégia atual para a ação no Iraque, com aumento no número de soldados, provavelmente fracassará.
O relatório não é a única voz dissonante na Europa. O premiê da Itália, Romano Prodi, afirmou no último domingo que é preciso reabrir o diálogo com o Hamas. "O Hamas existe. É uma estrutura complexa que devemos ajudar a desenvolver", afirmou.


Com agências internacionais

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