São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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Pentágono dá início a "ajuda humanitária" para Geórgia

Missão anunciada por Bush é resposta a pressão interna por socorro a aliado

Ato pode gerar tensão por destacar forças dos EUA em território sob controle russo; para Kremlin, Bush precisa escolher de que lado está


DA REDAÇÃO

No primeiro anúncio palpável após dias de retórica flutuante, os EUA anunciaram ontem uma operação militar de "assistência humanitária" na Geórgia, que na véspera aceitou um plano de cessar-fogo negociado entre a União Européia e o governo da Rússia.
A ação pode elevar a tensão entre EUA e Rússia, por implicar no destacamento de militares americanos em território e espaço aéreo controlados, na prática, por Moscou.
"A missão será vigorosa e contínua", disse o presidente americano, George W. Bush, ao lado de seu secretário da Defesa, Robert Gates. O primeiro cargueiro com suprimentos chegou a Tbilisi ontem.
Segundo Bush, outros destacamentos da Força Aérea dos EUA e das forças navais no mar Negro -onde a Rússia também mantém embarcações militares- serão usados na missão em breve. "Esperamos que a Rússia cumpra seu compromisso de deixar entrar todas as formas de assistência humanitária (...) e garanta que todas as linhas de comunicação e transporte, incluindo portos, aeroportos, estradas e o espaço aéreo, permaneçam abertos."
A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, viajará para Paris, onde se reunirá com o presidente Nicolas Sarkozy, mediador do conflito, e em seguida paraTbilisi, para "transmitir o apoio inabalável dos EUA ao governo da Geórgia".
"A Rússia está arriscando suas aspirações ao tomar atitudes que são incoerentes com os princípios das instituições [internacionais]", disse Bush. A Casa Branca afirmou ainda ter "relatos críveis" de que a Rússia viola o acordo de cessar-fogo.

Presença militar
O anúncio de Bush responde sobretudo a pressões internas. Ontem, o conservador "The Wall Street Journal" disse que "a credibilidade dos EUA está em questão enquanto o governo Bush hesita em responder à invasão russa da Geórgia. Até agora o governo parece desaparecido em combate".
A missão anunciada ficou distante do envolvimento militar direto pretendido pelo presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, que chegou ao poder em 2003 com apoio dos EUA e colocou o país na rota de adesão à Otan, a aliança militar ocidental. Mas foi entendido -e maximizado- pelos georgianos como um "ponto de inflexão" no conflito.
Saakashvili chegou a dizer que a ação significa "definitivamente uma presença militar americana" e que os EUA controlariam portos e aeroportos locais -algo que foi rapidamente negado pelo Pentágono.
Horas antes, Saakashvili havia criticado as declarações iniciais dos EUA, para ele "brandas demais". "As primeiras declarações foram percebidas pelos russos quase como uma luz verde", disse ele à CNN.
Desde o início do conflito, na última quinta-feira, quando a Geórgia invadiu o território separatista da Ossétia do Sul, os EUA reagiram de forma inconsistente. Anteontem, o governo americano disse ser "irrelevante" apontar culpados na crise.
Para a Geórgia, há anos embalada em promessas de apoio e treinamento militar dos EUA, a posição foi praticamente um abandono por parte do aliado.
Saakashvili chegou a comparar as reações do Ocidente às políticas de apaziguamento antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). "O apaziguamento em 1938 causou dezenas de milhões de mortes à Europa."
Em Moscou, o chanceler russo, Sergei Lavrov, respondeu ao anúncio de Bush dizendo que os EUA devem escolher entre a Geórgia e a Rússia.
"Nós entendemos que a atual liderança georgiana é um projeto especial dos EUA, mas um dia os EUA vão ter que escolher entre defender o seu prestígio com um projeto virtual ou uma parceria real que requer ações conjuntas", disse.


Com agências internacionais


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