São Paulo, sábado, 14 de agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Grupo radical é efeito colateral de liberdade de expressão

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Os EUA levam a sério a liberdade de expressão, estabelecida na 1ª emenda à Constituição. Toleram a existência de grupos provocativamente radicais e lhes garantem o direito de fazer manifestações públicas.
Lá, você pode defender teses racistas, comunistas, nazistas. Pode até advogar pela eliminação do governo federal. Desde que não atire bombas contra prédios públicos, o pior que pode lhe acontecer é ter agentes do FBI monitorando suas ações. Nem o "Patriot Act" (as leis pós-11 de Setembro que moeram os direitos civis) mexeu muito com a liberdade de expressão.
Em vários países ocidentais, porém, as atividades desses grupos ultrarradicais são vetadas, sob pretextos que vão do incitamento ao ódio à apologia do crime.
Seria um exagero afirmar que a Alemanha, país cuja legislação, por razões bem conhecidas, veda a exibição da suástica e a existência de um partido nazista, não é uma democracia.
Mesmo o Brasil, cujo Judiciário abusa da censura e proíbe manifestações que pedem mudanças na lei, não deixa, por essas anomalias, de ser democrático.
Nenhum direito é absoluto. A liberdade de expressão facilmente se choca com outros direitos constitucionais, como privacidade, honra e, até, a segurança do Estado.
A primazia que os EUA conferem a essa liberdade, porém, não é gratuita. Ninguém precisa de autorização para dizer o que todos querem ouvir. Para fazer sentido, o instituto tem de abarcar o que a maioria não tolera.
Mais que uma frivolidade destinada a permitir que grupos radicais e artistas duvidosos possam chocar as pessoas, a liberdade de expressão deve ser interpretada como o resultado de um movimento histórico -o Iluminismo- que compeliu o Estado a abrir mão de controlar o que pensam seus súditos.
Foi um passo importante. Ideias passaram a circular livremente em ritmo e volume inéditos. Não parece exagero dizer que o Iluminismo do século 18 preparou o terreno para a revolução científica dos séculos 19 e 20.


Texto Anterior: Entrevista: "Tenho orgulho de ser branco, por que isso é errado?"
Próximo Texto: Mais chuva, mais mortes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.