São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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GUERRA À VISTA

Membros do Conselho de Segurança preparam resolução impondo prazo para o Iraque aceitar inspeções de armas

EUA obtêm apoio para ultimato a Saddam

Damir Sagolj/Reuters
Iraquianos participam das orações de sexta-feira em frente à mesquita Abdul Kader, em Bagdá


DA REDAÇÃO

Sob pressão dos EUA, o Conselho de Segurança (CS) da ONU começou a preparar ontem uma nova resolução apresentando um ultimato ao Iraque para que aceite a volta de inspetores de armas. O presidente americano, George W. Bush, disse esperar que o CS estabeleça um prazo, de "dias ou semanas, não meses ou anos", para que Bagdá cumpra determinações estabelecidas após a derrota na Guerra do Golfo (1991).
O Iraque voltou a rejeitar ontem a idéia de aceitar um retorno incondicional dos inspetores. Para um porta-voz da Casa Branca, "é evidente que o Iraque tem algo a esconder" (leia texto ao lado).
Segundo o chanceler britânico, Jack Straw, representantes dos cinco membros permanentes do CS (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China) concordaram em estipular um prazo limite para que o ditador do Iraque, Saddam Hussein, autorize inspeções para a eliminação de seus arsenais químicos, biológicos e nucleares.
"Existe um claro entendimento de que, se for exigido o retorno dos inspetores, isso implica estabelecer um prazo", disse Straw. "Há uma completa unanimidade de que é imperativa a volta ao Iraque dos inspetores de armas."
A movimentação diplomática parece ir de encontro às aspirações de Washington, que sustenta que os programas de armas de Saddam são uma ameaça à segurança internacional.
O governo Bush elegeu o Iraque como novo alvo de sua guerra contra o terrorismo e ameaça adotar medidas unilaterais contra o país. Diante de forte oposição no mundo árabe e até mesmo de aliados na Europa, Bush levou o caso à ONU -em discurso anteontem, ele pressionou a entidade a agir contra o Iraque.
São necessários votos favoráveis de 9 dos 15 integrantes do CS da ONU para a aprovação de uma resolução -desde que nenhum dos cinco membros permanentes utilize o seu direito de veto.
Assim, os americanos se esforçam para obter apoio principalmente de França, China e Rússia, países mais reticentes à idéia de uma nova guerra. Washington já conta com o voto de seu mais próximo aliado, o Reino Unido, e não teria dificuldades em convencer a maior parte dos membros não-permanentes a seguir a sua linha.
O secretário de Estado americano, Colin Powell, se encontrou ontem com integrantes do CS. Ficou satisfeito com a posição dos europeus e da Rússia e disse que o texto da resolução deve ser definido na próxima semana.
Já o chefe de política externa da União Européia, Javier Solana, disse, após encontro com Powell, que a resolução estaria pronta dentro de algumas "semanas".
Apesar dos esforços de negociação de muitos países para encontrar uma solução pacífica para a crise com o Iraque, os EUA continuam dispostos a lançar campanha militar para depor o ditador iraquiano. Washington deve tentar inserir no texto da resolução do CS -que será provavelmente elaborado pelo Reino Unido- parágrafo que autoriza o uso da força caso Saddam desrespeite as determinações da ONU.

Ceticismo de Bush
Bush disse ontem duvidar que o Iraque cumpra as resoluções que determinam a eliminação de suas armas de destruição em massa.
"Tenho dúvidas porque ele [Saddam" teve 11 anos para atender a essas demandas", declarou Bush, em encontro com líderes africanos em Nova York. "Por longos 11 anos ele disse à ONU e ao mundo que não se importa."
Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca, disse que os comentários de ontem de Bush não significam que a guerra seja inevitável.
"O presidente quer passar à ONU a mensagem de que deseja vê-la num papel relevante. Ele espera que eles definam algo forte e concreto que possa unificar a posição mundial", afirmou.
Engajado agora na via diplomática, Washington, porém, não abandonou seus preparativos militares. O Comando Central militar americano vai transferir 600 pessoas de seu quartel-general na Flórida para uma base no Qatar. E o Exército britânico já começou a movimentar armas e tropas rumo ao Oriente Médio.

Com agências internacionais

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