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RÚSSIA
Presidente ordena reforma radical no sistema político, supostamente para combater o terrorismo tchetcheno, mas atrai críticas
Putin quer centralizar poder após tragédia
DA REUTERS
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou ontem mudanças radicais no sistema político russo, visando a combater o
terrorismo. Imediatamente,
atraiu fortes críticas segundo as
quais está usando o trágico desfecho do seqüestro ocorrido numa
escola de Beslan, no sul do país,
para reforçar seu poder.
Falando dez dias após a morte
de mais de 300 reféns, incluindo
mais de uma centena de crianças,
na escola de Beslan, na Ossétia do
Norte, Putin disse a autoridades
russas que quer uma nova lei eleitoral, buscando limitar o número
de partidos políticos e controlar a
nomeação de líderes regionais.
Putin disse ainda que essas mudanças são vitais para garantir a
autoridade do Estado após a tragédia de Beslan, ocorrida depois
que terroristas islâmicos tchetchenos fizeram mais de mil reféns
numa escola na cidade.
"O combate ao terrorismo deve
tornar-se uma tarefa nacional",
declarou Putin durante um encontro entre o primeiro escalão
do governo e os governadores das
89 regiões russas.
De acordo com seus críticos, as
mudanças propostas provam que
Putin, um ex-espião da KGB que
já silenciou a maior parte da imprensa independente e transformou o Parlamento em títere do
Kremlin, busca minar os progressos democráticos feitos desde o
colapso da URSS, em 1991.
"Os últimos vestígios do sistema de controles e de equilíbrio
entre os diferentes Poderes, que
tem servido para impedir a concentração do poder nas mãos de
poucas pessoas, estão sendo abolidos", afirmou o partido oposicionista Yabloko, em nota divulgada à imprensa.
O liberal Vladimir Rizhkov, um
dos poucos deputados independentes na Duma -a Câmara Baixa do Parlamento (controlada pelo partido pró-Kremlin Rússia
Unida)-, expressou indignação.
"Imagine que, depois do 11 de
Setembro, visando prender Osama bin Laden, George W. Bush
[presidente dos EUA] propusesse
não permitir mais a realização de
eleições para governadores, buscando apontá-los diretamente de
Washington", afirmou Rizhkov.
Putin, 51, que foi reeleito com
grande vantagem sobre seus oponentes em março último, sustenta
que uma reforma do sistema político é necessária para enfrentar a
ameaça terrorista que paira sobre
a Rússia.
Para ele, a Duma deveria ser
composta exclusivamente por deputados provenientes das listas
partidárias. Na prática, isso poria
fim ao sistema de voto distrital
misto. A fácil vitória do partido
Rússia Unida na última eleição legislativa ocorreu após uma dura
campanha do Kremlin contra
partidos liberais e comunistas.
"Tentando defender os interesses do Estado e fortalecer o sistema político nacional, creio que seja necessário que a Duma seja formada apenas com base no sistema proporcional de listas partidárias", afirmou Putin.
"As principais autoridades dos
membros da Federação deverão
ser nomeadas pelo chefe de Estado e confirmadas pelo Legislativo
local", acrescentou o presidente.
Seus oponentes disseram que as
alterações no sistema eleitoral só
servirão para que o Kremlin consolide seu controle sobre a sociedade russa, não tendo nenhum
efeito concreto no que se refere ao
combate ao terrorismo.
"A vontade de uma só pessoa
será imposta a toda a sociedade. O
que ele pretende é usurpar o poder", afirmou Gennady Zyuganov, líder do Partido Comunista.
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