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Morales ordena detenção de governador
Segundo o líder boliviano, pistoleiros de Brasil e Peru contratados por oposição participaram de ação que fez 16 mortos em Pando
No início da noite, ministro anunciou que dirigente do departamento amazônico seria detido por incentivar desacato a estado de sítio
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
O presidente boliviano, Evo
Morales, determinou ontem à
noite a prisão do governador de
Pando, Leopoldo Fernández,
acusado de desafiar o estado de
sítio instaurado há dois dias e
de usar pistoleiros brasileiros
nos confrontos da quinta-feira,
que deixaram um saldo de pelo
menos 16 mortos.
Por volta das 19h, o ministro
da Presidência, Juan Ramón
Quintana, anunciou, em entrevista à rádio Erbol desde Cobija
(capital de Pando), que Fernández seria preso ainda à noite e
que o Exército ocuparia a cidade -atualmente, controla apenas no aeroporto.
Quintana disse que o governador será preso por incitar a
desobediência ao estado de sítio decretado por Morales, o
qual, entre outras medidas restritivas, proíbe reuniões. "Esse
desacato vai ter um limite, a detenção do governador", disse.
Em entrevista à Folha por
telefone no início da noite, Fernández disse que não defendera nem atacara o estado de sítio, mas afirmou que se trata de
um pretexto para isolar e militarizar Pando e depois repetir a
mesma ação nos demais departamentos "rebeldes". "Aqui está um clima de guerra."
Segundo relatos da enviada
da emissora de TV PAT, à noite
se escutavam tiros pelas ruas
da cidade, localizada na fronteira com o Brasil, que estava
sem energia. A jornalista afirmou que não havia segurança
para deixar o aeroporto.
Pela manhã, Morales havia
feito duras acusações contra
Fernández. "O que aconteceu
em Cobija - submetralhadoras, narcotraficantes, pistoleiros brasileiros e peruanos operando sob as ordens do departamento de Pando- é muito
grave, obviamente", disse, durante entrevista em La Paz.
O Itamaraty não se pronunciou ontem sobre as declarações de Morales.
Em entrevista à rádio Fides o
ministro de Governo, Alfredo
Rada, disse que os mortos nos
enfrentamentos de quinta-feira entre camponeses pró-Morales e opositores já são 16, mas
que o número pode chegar a 30
caso sejam confirmadas as descobertas de mais cadáveres pelos rios da região. O episódio
ocorreu no vilarejo de Porvenir, a 30 km da capital do departamento, Cobija.
Fernández negou a participação de brasileiros no enfrentamento e disse que a violência
foi desatada de madrugada, depois que supostos manifestantes camponeses mataram três
funcionários do Serviço Nacional de Caminhos (SNC) que
tentavam impedir sua passagem. "Um engenheiro foi morto e exibido como troféu."
Na sua versão, foi então que
cerca de cem moradores de
Porvenir atacaram os evistas,
provocando um tiroteio em
pleno centro do povoado.
Embaixada americana
Depois de ter o embaixador
Philip Goldberg expulso do
país, a representação dos EUA
decidiu retirar da Bolívia todos
os funcionários em funções não
essenciais, segundo a Folha
apurou. A ação está prevista
para começar já nesta semana.
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