São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / FOCO NO BOLSO

Em alta, Obama amplia seu plano para classe média

Medidas, que custarão US$ 60 bi, incluem moratória no pagamento de hipotecas e saque a fundos de aposentadoria

Democrata amplia margem sobre McCain no "eleitorado econômico" na proporção de dois para um; adversário critica mídia e foca política

Joe Raedle/Getty Images/France Presse
Obama cumprimenta eleitores em Toledo; foco é classe média

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Com alta recente nas pesquisas embalada pela percepção dos eleitores de que se sairá melhor no comando do país durante a crise, o democrata Barack Obama anunciou ontem a ampliação de seu plano econômico. Entre as novas medidas, que se juntam à plataforma anunciada pelo senador em setembro, estão uma moratória de 90 dias para proprietários de imóveis com hipoteca atrasada.
É a mais populista de um conjunto de propostas que sua campanha chamou de "plano para a classe média" e que no total custará US$ 60 bilhões aos cofres americanos, segundo cálculo de Jason Furman. Em teleconferência na tarde de ontem, o principal assessor econômico do presidenciável democrata afirmou ainda que todas poderiam ser implantadas já, sem que nenhuma lei em vigor tenha de ser mudada.
As outras prevêem autorizar saques de até US$ 10 mil por trabalhadores em seus fundos de aposentadoria em 2008 e 2009 sem penalidades, idéia já proposta por McCain; crédito fiscal temporário de US$ 3.000 para cada vaga nova de trabalho criada por uma empresa nos EUA nos próximos dois anos; e auxílio a governos estaduais e municipais em dificuldades.
A mais vaga pede o redirecionamento das ações do Departamento do Tesouro na atual operação de resgate do mercado financeiro, para que inclua em suas prioridades auxiliar o mercado de hipotecas individuais e o de empréstimos para estudantes, compra de carros, de casas e para o pagamento de cartões de crédito atrasados.
A iniciativa serve para consolidar a liderança do democrata numa fatia do público que vem se mostrando fundamental para impulsionar seu descolamento do republicano John McCain nas pesquisas. É o bloco recém-batizado de "eleitorado econômico", que coloca a crise em primeiro lugar em suas preocupações ao votar.
Segundo levantamento divulgado ontem pelo jornal "Washington Post" e a emissora ABC, são 55% os que dizem que essa é a questão mais importante do pleito -o outro assunto mais importante, segurança nacional, que favorece McCain, vem num distante segundo lugar, com 11%. Entre os "econômicos", Obama domina na proporção de quase dois para um: 62% o preferem, ante 33% que optam por McCain.
No eleitorado geral, segundo o mesmo estudo, Obama lidera ainda nos quesitos "vai ajudar mais a classe média" (59% a 31%) e "tem maior compreensão dos problemas econômicos por que os norte-americanos passam" (58% a 28%). A pesquisa, que no geral confirma vantagem de dez pontos de Obama (53% a 43%), foi feita por telefone entre os dias 8 e 11, com 1.101 adultos, e tem margem de erro de três pontos.
"Não vou fingir que será fácil", disse Obama ao anunciar as medidas em discurso de 30 minutos para 3.000 pessoas ontem em Toledo, Ohio, um dos Estados indecisos mais importantes da corrida e um dos mais atingidos pela crise. "George Bush cavou um buraco fundo para nós. Vai levar um tempo para que saiamos dele."

Front republicano
Pouco antes, John McCain falava de suas idéias econômicas em discurso em Virginia Beach, na Virgínia, outro Estado importante. Sua campanha tinha avisado que também o republicano anunciaria novas propostas para a crise, mas o senador mudou de idéia na última hora. Ele resistiu a pressões de seu partido no fim de semana para que apoiasse mais cortes em impostos.
A base do plano de Obama é um corte de impostos que atinge 95% das "famílias trabalhadoras". Segundo relatos no fim de semana, caciques do partido governista apresentaram mais de 30 propostas com impacto similar a McCain, que recusou todas, por achar que vendiam "truques" ao eleitor. Ontem, preferiu falar das pesquisas.
"Deixe-me dar a vocês o balanço da corrida até agora e um pouco de conversa franca", disse, retomando seu slogan, sob gritos de uma platéia de 20 mil pessoas. "Nós temos 22 dias [até as eleições] e estamos atrás seis pontos [em algumas pesquisas]. A mídia nacional já nos excluiu. Mas eles esqueceram de deixar vocês decidirem."
Antes, Tucker Bounds, assessor de McCain, havia criticado uma das medidas de Obama, a que pede moratória de 90 dias para mutuários inadimplentes que mostrem esforço para pagar as prestações e cujos credores estejam sendo ajudados pelo plano de resgate do governo. "É interessante ele ter proposto uma medida que criticou quando foi feita por sua então concorrente, Hillary Clinton", disse. "Isso mostra que ele está preocupado com as eleições, não com os interesses do povo."
Os dois candidatos se encontram amanhã para o último debate presidencial, em Hempstead, a 40 minutos de Manhattan. Mais uma vez, a crise econômica deve dominar a noite.


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