São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

Chanceler iraquiano entrega carta ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan; EUA reagem com ceticismo

Bagdá diz que aceita a resolução da ONU

DA REDAÇÃO

O Iraque disse ontem que aceitou a nova resolução do Conselho de Segurança adotada na sexta-feira, que dá a Bagdá a "oportunidade final" para cooperar com inspetores de armas da ONU e se desarmar ou enfrentar "sérias consequências".
"Informamos por meio desta que lidaremos com a resolução 1441, apesar de seu conteúdo ruim", afirmou o chanceler iraquiano Naji Sabri em carta de oito páginas ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
O Parlamento iraquiano recomendara anteontem ao ditador Saddam Hussein que a resolução fosse rejeitada.
A carta foi entregue pelo embaixador do Iraque na ONU, Mohammed Aldouri, em resposta à resolução do CS, aprovada unanimemente, que dava ao Iraque uma semana -até amanhã- para aceitá-la.
Sabri acusou os EUA e o Reino Unido, que propuseram a resolução, de manipular a opinião mundial para atingir seus interesses e ajudar Israel, país ao qual se referiu como "entidade sionista".
"As mentiras e as manipulações do governo americano e do governo britânico serão expostas, enquanto o mundo verá o quão verdadeiros e corretos são os iraquianos no que dizem e fazem", afirmou Sabri na carta.
Aldouri disse que seu país havia concordado com a medida para evitar um ataque dos EUA. "É parte de nossa política proteger nosso país, proteger nossa região da ameaça da guerra, que é real."
Os EUA reagiram com ceticismo. Scott McClellan, porta-voz da Casa Branca, afirmou: "Já ouvimos isso antes de Saddam e do regime iraquiano. Agora, queremos ver ações de Saddam. O ônus continua recaindo sobre Saddam."
Após reunir-se com Annan em Washington, o presidente George W. Bush disse: "O mundo espera que Saddam Hussein se desarme em nome da paz. A ONU cumpriu suas responsabilidades."
Um grupo de técnicos da ONU deve chegar a Bagdá na segunda-feira para preparar as inspeções, que devem começar em uma ou duas semanas. Eles serão acompanhados pelo chefe dos inspetores da ONU, Hans Blix, e do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed el Baradei.
Na carta, Sabri negou que o Iraque tenha desenvolvido armas de destruição em massa, "sejam elas nucleares, químicas ou biológicas, como alegam pessoas más".
O próximo passo é a submissão pelo Iraque de "uma declaração precisa, integral e completa" até 8 de dezembro de todos os seus programas químicos, biológicos e nucleares, incluindo os que o país alega não serem relacionados à produção de armas, e de mísseis de longo alcance.
Segundo Sabri, o Iraque dará atenção à conduta dos inspetores, incluindo a dos "mal-intencionados", para garantir que respeitem "a dignidade, a independência e a segurança" do país. O Iraque expulsou os inspetores em 1998, acusando-os de espiões.
"Estamos ansiosos para vê-los cumprir seus deveres de acordo com as leis internacionais, o quanto antes", disse Sabri. "Se eles o fizerem, de forma profissional e legal, sem nenhuma intenção premeditada, suas mentiras serão expostas à opinião pública."
Ele disse que o Conselho teria então o dever de levantar as sanções contra o Iraque, impostas após o país ter invadido o Kuait, em 1990. O chanceler iraquiano também observou que a resolução 687 de cessar-fogo da Guerra do Golfo (91) exigia que o Oriente Médio ficasse livre de armas de destruição em massa e que a cláusula deveria ser aplicada a Israel.
"O número de pessoas justas no mundo vai então aumentar, e isso possibilitará que o Iraque afaste o grasnado dos corvos do mal que diariamente invadem seu território, matam iraquianos e destroem sua propriedade com suas bombas", disse o chanceler.
O atual presidente do Conselho, o chinês Yishan Zhang, disse que o órgão estava satisfeito com a "decisão correta" do Iraque.
O chanceler da Rússia, Igor Ivanov, disse: "Estávamos confiantes de que o Iraque tomaria essa decisão, que abre caminho para uma decisão política da situação".
O líder da Liga Árabe, o egípcio Amr Moussa, afirmou que a aceitação era um "desenvolvimento importante na direção da solução do problema atual via ONU".


Com agências internacionais


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