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"EUA manterão preparativos militares"
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Como não crê que Bagdá venha
a respeitar todas as exigências da
resolução da ONU, Washington
deverá continuar a preparar-se
para uma ofensiva militar.
A afirmação é de Davis Bobrow,
do Centro Ridgway para Estudos
sobre Segurança Internacional
(EUA). Leia a seguir sua entrevista, por telefone, à Folha.
Folha - Como Washington deverá
reagir à nova atitude de Bagdá?
Davis Bobrow - Publicamente, a
administração americana dirá
que o modo como a questão está
sendo tratada é correto. Também
dirá que não acredita que o Iraque
venha a respeitar todas as exigências da ONU. Isso significa que os
EUA deverão manter-se atentos,
monitorando cada etapa da inspeção das armas iraquianas como
falcões que vigiam suas presas.
Para Washington, essa desconfiança legitima a continuação dos
preparativos para uma ação militar contra o regime de Saddam
Hussein. Na verdade, eles deverão
ser intensificados para mostrar ao
Iraque que a chamada "comunidade internacional" fala sério
quando ameaça uma ofensiva.
Folha - Se respeitar todas as exigências da ONU, Saddam não ficará
sem poder de barganha?
Bobrow - Tudo depende do que
Saddam pensa sobre seu futuro. É
claro que ele poderá respeitar todas as exigências da ONU se quiser. Ele é um ditador e poderá tomar qualquer decisão. Ademais,
ele poderá respeitar algumas exigências para ganhar tempo, mas
não aceitar outras mais tarde. Porém acredito que, mesmo nesse
caso, a guerra não seja inevitável.
Há uma maneira de evitá-la. Secretamente, já há altos funcionários internacionais que começam
a veicular a hipótese de Saddam
deixar o poder e partir para outro
país, o que, certamente, evitaria
um conflito maior. Todavia, para
tanto, ele teria de aceitar deixar o
poder. Os EUA já concordaram
com esse tipo de solução em outros casos. Diplomaticamente, é
sempre melhor evitar a guerra.
Folha - Mas o cronograma do texto da ONU nos leva a pensar que já
está tudo planejado para uma ação
militar no início de 2003, não?
Bobrow - Em parte, sim. Nenhuma ofensiva militar ocorrerá durante o Ramadã [mês sagrado para os muçulmanos], pois isso poderia transformar a situação numa guerra de religiões. Ela também não deverá ser ordenada antes do Natal, que é algo muito importante para os americanos.
A data exata depende de quando Saddam deixará de cooperar
com a ONU -se isso ocorrer- e
das negociações no Conselho de
Segurança. Embora tenham o direito de atacar sem ajuda de ninguém, os EUA preferem fazê-lo
com um verniz multilateralista,
para evitar o recrudescimento do
antiamericanismo que já existe
em alguns países muçulmanos.
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