UOL


São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

País agora admite dar poder aos iraquianos

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Sob pressão da opinião pública e do calendário eleitoral, o presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou ontem que os iraquianos devem "aumentar a sua responsabilidade" no governo do Iraque e reconheceu uma mudança de planos na transição política prevista para o país.
"Esse é um desdobramento positivo. Queremos os iraquianos mais envolvidos no governo de seu próprio país", disse Bush.
Durante meses, ele vinha dizendo que os EUA só deixariam o comando do Iraque depois que o país tivesse uma nova Constituição e realizasse eleições gerais.
Até lá, o Iraque continuaria sob a chefia do diplomata Paul Bremer, que comanda a Autoridade Provisória da Coalizão (APC).
Agora, os novos planos incluem a criação de dois comitês, um executivo e outro constitucional, "representados pela maioria dos iraquianos", para acelerar a transição política no país.
O comitê executivo pode continuar tendo como representantes os 24 membros do atual conselho consultivo que governa o Iraque sob o comando de Paul Bremer. Mas alguns de seus representantes teriam seu poder ampliado.
Esse grupo passaria a ter mais autonomia para mandar no país, enquanto o comitê constitucional prepararia a realização de uma nova Constituição e eleições gerais para meados de 2004.
Ainda não está claro como ficaria o controle dos contratos do governo dos EUA com empresas norte-americanas no Iraque.
Com as mudanças já feitas na lei iraquiana, que abriu totalmente a economia ao capital estrangeiro, é possível que as companhias tenham autonomia nos negócios.
A França disse que estaria disposta a ajudar na reconstrução do Iraque se os iraquianos tivessem sua soberania restabelecida.
Os EUA procuraram "vender" uma transição política mais acelerada como sendo um desejo dos próprios iraquianos. Mas declarações de membros do governo Bush deixam transparecer a necessidade de o presidente acelerar a transição e, principalmente, de evitar uma contínua perda de soldados americanos no Iraque às vésperas de um acirramento de sua campanha para a reeleição.
A viagem às pressas de Bremer a Washington, na terça-feira, para acertar os detalhes da mudança, por exemplo, foi determinada em meio a uma escalada de violência contra soldados americanos.
Há menos de um ano da eleição de 2004 e com a economia dando sinais de forte recuperação, Bush pretende agora neutralizar críticos e diminuir perdas políticas e de soldados no Iraque.
Nos últimos 40 dias, os EUA ampliaram de cerca de 60 mil para mais de 118 mil o número de policiais iraquianos treinados e equipados no país. Essa força garantiria a autonomia de um novo poder "independente" no Iraque.
Pesquisa divulgada pela Universidade de Maryland mostrou outro sinal de desgaste: 87% dos entrevistados acham que Bush exagerou no perigo representado pelo Iraque antes da guerra.


Texto Anterior: Iraque ocupado: Aliados dos EUA revêem ajuda militar
Próximo Texto: Após ataque, Itália envia mais 50 "carabinieri"
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.