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País agora admite dar
poder aos iraquianos
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Sob pressão da opinião pública
e do calendário eleitoral, o presidente dos EUA, George W. Bush,
afirmou ontem que os iraquianos
devem "aumentar a sua responsabilidade" no governo do Iraque e
reconheceu uma mudança de planos na transição política prevista
para o país.
"Esse é um desdobramento positivo. Queremos os iraquianos
mais envolvidos no governo de
seu próprio país", disse Bush.
Durante meses, ele vinha dizendo que os EUA só deixariam o comando do Iraque depois que o
país tivesse uma nova Constituição e realizasse eleições gerais.
Até lá, o Iraque continuaria sob
a chefia do diplomata Paul Bremer, que comanda a Autoridade
Provisória da Coalizão (APC).
Agora, os novos planos incluem
a criação de dois comitês, um executivo e outro constitucional, "representados pela maioria dos iraquianos", para acelerar a transição política no país.
O comitê executivo pode continuar tendo como representantes
os 24 membros do atual conselho
consultivo que governa o Iraque
sob o comando de Paul Bremer.
Mas alguns de seus representantes teriam seu poder ampliado.
Esse grupo passaria a ter mais
autonomia para mandar no país,
enquanto o comitê constitucional
prepararia a realização de uma
nova Constituição e eleições gerais para meados de 2004.
Ainda não está claro como ficaria o controle dos contratos do
governo dos EUA com empresas
norte-americanas no Iraque.
Com as mudanças já feitas na lei
iraquiana, que abriu totalmente a
economia ao capital estrangeiro, é
possível que as companhias tenham autonomia nos negócios.
A França disse que estaria disposta a ajudar na reconstrução do
Iraque se os iraquianos tivessem
sua soberania restabelecida.
Os EUA procuraram "vender"
uma transição política mais acelerada como sendo um desejo dos
próprios iraquianos. Mas declarações de membros do governo
Bush deixam transparecer a necessidade de o presidente acelerar
a transição e, principalmente, de
evitar uma contínua perda de soldados americanos no Iraque às
vésperas de um acirramento de
sua campanha para a reeleição.
A viagem às pressas de Bremer a
Washington, na terça-feira, para
acertar os detalhes da mudança,
por exemplo, foi determinada em
meio a uma escalada de violência
contra soldados americanos.
Há menos de um ano da eleição
de 2004 e com a economia dando
sinais de forte recuperação, Bush
pretende agora neutralizar críticos e diminuir perdas políticas e
de soldados no Iraque.
Nos últimos 40 dias, os EUA
ampliaram de cerca de 60 mil para mais de 118 mil o número de
policiais iraquianos treinados e
equipados no país. Essa força garantiria a autonomia de um novo
poder "independente" no Iraque.
Pesquisa divulgada pela Universidade de Maryland mostrou outro sinal de desgaste: 87% dos entrevistados acham que Bush exagerou no perigo representado pelo Iraque antes da guerra.
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