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Pragmática, Colômbia reage com alívio ao continuísmo americano
MAURICIO A. SÁENZ
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE BOGOTÁ
O governo colombiano reagiu
sem pressa à reeleição do presidente George W. Bush. Demorou
algumas horas para se manifestar,
com uma cautela aprendida talvez em 2002, quando vários funcionários colombianos de alto nível se apressaram em saudar a
queda, pouco depois revertida, do
presidente venezuelano, Hugo
Chávez.
Apenas no final da tarde, após
uma reunião com a chanceler Carolina Barco, o presidente Álvaro
Uribe fez sua primeira e previsível
declaração. "Quero felicitar o presidente Bush pela vitória obtida.
Ao senador [John] Kerry, pela bela campanha. Aos dois, por esse
exemplo de democracia. E ao povo dos Estados Unidos, pela eficiência e eficácia de sua democracia", disse Uribe.
Que Uribe tenha se expressado
sobriamente não surpreendeu a
ninguém na Colômbia. A linha
oficial, passada à Folha por uma
alta funcionária da Chancelaria, é
que, independentemente do vitorioso, não haveria mudanças na
posição americana em relação ao
país. "O Plano Colômbia é uma
política que não está sujeita a
grandes variações. Não se pode
esquecer que esse programa nasceu na Presidência de Bill Clinton
[1993-2001]", diz a diplomata.
Apesar disso, para a maioria dos
analistas políticos colombianos,
está claro que para Uribe seria
mais cômoda a continuidade nos
EUA, já que o presidente colombiano tem uma "boa química"
com Bush. Uribe também se identifica com o americano na concepção da política a partir da
guerra ao terror.
É importante lembrar que a Colômbia foi um dos poucos países
latino-americanos que apoiaram,
na ONU, a invasão do Iraque.
É uma relação de via dupla. Recentemente, o governo Bush
apoiou dobrar para 800 o número
de militares americanos que colaboram com as Forças Armadas
locais contra a guerrilha financiada pelo narcotráfico. E os recursos não deixam de fluir para o Plano Colômbia.
Com tanta afinidade, é apenas
um passo supor que a reeleição de
Bush seja positiva para a tentativa
do próprio Uribe de duplicar seu
tempo no poder.
O governo colombiano também
ficou satisfeito com a vitória republicana nas eleições legislativas
americanas. O motivo é que um
Congresso com maioria democrata tem a tendência histórica de
colocar mais restrições à ajuda
por razões humanitárias, sobretudo pelo tema das violações aos direitos humanos.
A associação entre membros
das Forças Armadas e os grupos
paramilitares ilegais é um grande
peso que o Estado carrega em
suas costas. Não importa que a associação não seja institucional e
que o governo faça o que possa
para pôr fim a ela. A necessidade
de demonstrar que o governo não
tem envolvimentos é desgastante.
Um Congresso democrata teria
feito essa carga mais pesada.
O triunfo de Bush produziu no
Palácio de Nariño um controlado
suspiro de alívio. Como disse à revista "Semana" um alto funcionário do governo: "Trata-se de exercer o pragmatismo político. É como quando se tem diante de si um
amigo e um desconhecido. Prefere-se o amigo".
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