São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2004

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Pragmática, Colômbia reage com alívio ao continuísmo americano

MAURICIO A. SÁENZ
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE BOGOTÁ

O governo colombiano reagiu sem pressa à reeleição do presidente George W. Bush. Demorou algumas horas para se manifestar, com uma cautela aprendida talvez em 2002, quando vários funcionários colombianos de alto nível se apressaram em saudar a queda, pouco depois revertida, do presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Apenas no final da tarde, após uma reunião com a chanceler Carolina Barco, o presidente Álvaro Uribe fez sua primeira e previsível declaração. "Quero felicitar o presidente Bush pela vitória obtida. Ao senador [John] Kerry, pela bela campanha. Aos dois, por esse exemplo de democracia. E ao povo dos Estados Unidos, pela eficiência e eficácia de sua democracia", disse Uribe.
Que Uribe tenha se expressado sobriamente não surpreendeu a ninguém na Colômbia. A linha oficial, passada à Folha por uma alta funcionária da Chancelaria, é que, independentemente do vitorioso, não haveria mudanças na posição americana em relação ao país. "O Plano Colômbia é uma política que não está sujeita a grandes variações. Não se pode esquecer que esse programa nasceu na Presidência de Bill Clinton [1993-2001]", diz a diplomata.
Apesar disso, para a maioria dos analistas políticos colombianos, está claro que para Uribe seria mais cômoda a continuidade nos EUA, já que o presidente colombiano tem uma "boa química" com Bush. Uribe também se identifica com o americano na concepção da política a partir da guerra ao terror.
É importante lembrar que a Colômbia foi um dos poucos países latino-americanos que apoiaram, na ONU, a invasão do Iraque.
É uma relação de via dupla. Recentemente, o governo Bush apoiou dobrar para 800 o número de militares americanos que colaboram com as Forças Armadas locais contra a guerrilha financiada pelo narcotráfico. E os recursos não deixam de fluir para o Plano Colômbia.
Com tanta afinidade, é apenas um passo supor que a reeleição de Bush seja positiva para a tentativa do próprio Uribe de duplicar seu tempo no poder.
O governo colombiano também ficou satisfeito com a vitória republicana nas eleições legislativas americanas. O motivo é que um Congresso com maioria democrata tem a tendência histórica de colocar mais restrições à ajuda por razões humanitárias, sobretudo pelo tema das violações aos direitos humanos.
A associação entre membros das Forças Armadas e os grupos paramilitares ilegais é um grande peso que o Estado carrega em suas costas. Não importa que a associação não seja institucional e que o governo faça o que possa para pôr fim a ela. A necessidade de demonstrar que o governo não tem envolvimentos é desgastante. Um Congresso democrata teria feito essa carga mais pesada.
O triunfo de Bush produziu no Palácio de Nariño um controlado suspiro de alívio. Como disse à revista "Semana" um alto funcionário do governo: "Trata-se de exercer o pragmatismo político. É como quando se tem diante de si um amigo e um desconhecido. Prefere-se o amigo".

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