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Abismo de raças aumenta nos EUA
Estudo mostra que 69% das famílias negras de classe média caem na escala social, contra 32% das brancas
Números se baseiam em 30 anos de dados do Censo; para pesquisadora, não há muito progresso na redução das discrepâncias no país
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
O grande sonho americano
tem cor: é branco.
Segundo o Projeto Mobilidade Econômica, que reúne quatro organizações da sociedade
civil dos EUA para analisar e
debater o assunto, dois terços
das pessoas nascidas no início
da década de 60 no país ganham mais, hoje, do que os seus
pais naquela época. A possibilidade de ascensão se mostra
bem maior, porém, para os
brancos do que para os negros.
Entre as crianças brancas
mais pobres, a chance de galgar
faixas de renda é de 69%, enquanto entre as negras é de
46%. No mesmo grupo, a possibilidade de cair é de 10% para as
brancas e 27% para as negras.
Além disso, as famílias de
classe média negras apresentam maior dificuldade em sustentar o seu padrão ao longo
das gerações: as crianças negras
têm 69% de chance de recuar
nas faixas de renda e 17% de subir, porcentagens que são de
32% e 37%, respectivamente,
para as brancas. No topo da escala, nem existe um número estatisticamente satisfatório de
famílias negras para avaliação.
"Não são todos que têm se
beneficiado das riquezas produzidas pelo país. Para muitos,
a esperança de crescer e ter
uma vida melhor fica só na ilusão", afirmou à Folha Julia
Isaacs. Autora do estudo, divulgado ontem, ela é pesquisadora
da Brookings Institution, um
dos think-tanks envolvidos.
"Também podemos concluir, a
partir dos números, que não
está havendo muito progresso
na redução da distância entre
brancos e negros nos EUA."
Inclusão
Dados do Censo mostram
que, em 1970, 3,2% das famílias
brancas americanas estavam
na última faixa de renda, de ganhos inferiores a US$ 5.000
anuais; entre as negras, eram
7,4%. Em 2001, as porcentagens eram, na mesma ordem,
2,2% e 6%. No extremo oposto,
o dos rendimentos anuais superiores a US$ 100 mil, havia
6,3% das famílias brancas e
1,6% das famílias negras em
1970 e 19,2% das brancas e
8,4% das negras em 2001.
Isaacs diz não ter condições
de comentar os resultados das
políticas de ação afirmativa,
que visam à inclusão de negros,
levadas a cabo nos últimos
anos. Mas, na sua opinião, as
iniciativas governamentais fazem parte da solução para o
problema.
"Essencial é melhorar a educação das crianças mais pobres
para que elas tenham, no futuro, chances semelhantes à de
quem nasceu em um lar abastado", afirma. "É preciso, também, reforçar os programas
existentes. Um bom exemplo é
o que lava um agente à casa da
gestante com poucos recursos
para instruí-la sobre cuidados e
formação dos filhos."
O fato de ser mais difícil para
os negros do que para os brancos subirem na vida é explicado
pelas diferenças na taxa de desemprego e nos salários pagos,
resultado do preconceito, na visão dos pesquisadores responsáveis pelos levantamentos.
O estudo mostra ainda que a
renda dos homens negros recuou nas últimas décadas e a
dos homens brancos estagnou.
O contrapeso veio com a entrada das mulheres no mercado.
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