São Paulo, quarta-feira, 14 de novembro de 2007

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Abismo de raças aumenta nos EUA

Estudo mostra que 69% das famílias negras de classe média caem na escala social, contra 32% das brancas

Números se baseiam em 30 anos de dados do Censo; para pesquisadora, não há muito progresso na redução das discrepâncias no país

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

O grande sonho americano tem cor: é branco.
Segundo o Projeto Mobilidade Econômica, que reúne quatro organizações da sociedade civil dos EUA para analisar e debater o assunto, dois terços das pessoas nascidas no início da década de 60 no país ganham mais, hoje, do que os seus pais naquela época. A possibilidade de ascensão se mostra bem maior, porém, para os brancos do que para os negros.
Entre as crianças brancas mais pobres, a chance de galgar faixas de renda é de 69%, enquanto entre as negras é de 46%. No mesmo grupo, a possibilidade de cair é de 10% para as brancas e 27% para as negras.
Além disso, as famílias de classe média negras apresentam maior dificuldade em sustentar o seu padrão ao longo das gerações: as crianças negras têm 69% de chance de recuar nas faixas de renda e 17% de subir, porcentagens que são de 32% e 37%, respectivamente, para as brancas. No topo da escala, nem existe um número estatisticamente satisfatório de famílias negras para avaliação.
"Não são todos que têm se beneficiado das riquezas produzidas pelo país. Para muitos, a esperança de crescer e ter uma vida melhor fica só na ilusão", afirmou à Folha Julia Isaacs. Autora do estudo, divulgado ontem, ela é pesquisadora da Brookings Institution, um dos think-tanks envolvidos. "Também podemos concluir, a partir dos números, que não está havendo muito progresso na redução da distância entre brancos e negros nos EUA."

Inclusão
Dados do Censo mostram que, em 1970, 3,2% das famílias brancas americanas estavam na última faixa de renda, de ganhos inferiores a US$ 5.000 anuais; entre as negras, eram 7,4%. Em 2001, as porcentagens eram, na mesma ordem, 2,2% e 6%. No extremo oposto, o dos rendimentos anuais superiores a US$ 100 mil, havia 6,3% das famílias brancas e 1,6% das famílias negras em 1970 e 19,2% das brancas e 8,4% das negras em 2001.
Isaacs diz não ter condições de comentar os resultados das políticas de ação afirmativa, que visam à inclusão de negros, levadas a cabo nos últimos anos. Mas, na sua opinião, as iniciativas governamentais fazem parte da solução para o problema.
"Essencial é melhorar a educação das crianças mais pobres para que elas tenham, no futuro, chances semelhantes à de quem nasceu em um lar abastado", afirma. "É preciso, também, reforçar os programas existentes. Um bom exemplo é o que lava um agente à casa da gestante com poucos recursos para instruí-la sobre cuidados e formação dos filhos."
O fato de ser mais difícil para os negros do que para os brancos subirem na vida é explicado pelas diferenças na taxa de desemprego e nos salários pagos, resultado do preconceito, na visão dos pesquisadores responsáveis pelos levantamentos.
O estudo mostra ainda que a renda dos homens negros recuou nas últimas décadas e a dos homens brancos estagnou. O contrapeso veio com a entrada das mulheres no mercado.


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