|
Próximo Texto | Índice
Chile revogará aplicação da Lei da Anistia
Pacote de direitos humanos será lançado pela presidente às vésperas do Natal, segundo Secretaria da Presidência
Decreto baixado pelo
regime militar em 1978 é
obstáculo à investigação de
crimes da ditadura e à
punição dos culpados
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
A presidente chilena, Michelle Bachelet, anunciará na sexta-feira que antecede o Natal
um pacote de medidas de direitos humanos que inclui o fim da
aplicação da Lei da Anistia editada em 1978 pelo ditador Augusto Pinochet Ugarte, segundo confirmou ontem à Folha o
Ministério da Secretaria Geral
da Presidência do Chile.
Conhecido como "lei", o texto que se tornou um dos maiores obstáculos para a investigação dos crimes da ditadura é na
verdade um decreto redigido
pelo regime militar, publicado
quando o Congresso estava dissolvido havia cinco anos. Em
seu preâmbulo, cita motivos
como "fortalecer os vínculos
que unem o Chile como nação,
deixando para trás o ódio".
O decreto proíbe processos e
condenações por delitos de
"motivação política" praticados entre 11 de setembro de
1973 (dia do golpe que derrubou o presidente Salvador
Allende) e 10 de março de 1978
-o exato período em que durou o estado de sítio no Chile,
marcado por seqüestros, homicídios e outras violações aos direitos humanos.
De acordo com o governo, foram feitos estudos jurídicos
apontando três saídas para liquidar o texto: a declaração da
nulidade integral do decreto
(com efeitos como se ele nunca
houvesse existido), a derrogação (revogando parte) do decreto ou a imposição de uma
nova interpretação para o texto. Segundo o ministério, a decisão sobre qual caminho seguir é "política" e será tomada
pela própria presidente. Para a
efetivação, porém, entram em
campo Legislativo (o pacote terá que ser aprovado pelo Congresso) e Judiciário.
O governo diz que os estudos
foram encomendados por Bachelet à ministra e secretária-geral da Presidência, Paulina
Veloso, no mês de abril. Segundo a Folha apurou, o plano inicial de Bachelet era anunciar o
pacote no último dia 10, aproveitando o Dia Internacional
dos Direitos Humanos -mas
houve atrasos nos estudos e,
depois, a morte de Pinochet.
O pacote, que deve contar
com seis medidas, também determinará a criação de um Instituto Nacional de Direitos Humanos e de um museu, ambas
entidades que ajudarão a preservar a memória sobre violações cometidas na ditadura.
Em 26 de setembro deste
ano, a Corte Interamericana de
Direitos Humanos sancionou o
Chile por aplicar a anistia no
caso da morte do professor
Luis Almonacid, executado por
uma patrulha em 1973. A sentença determinou que o Chile
estudasse proposta legislativa
para adequar sua legislação.
Em outubro, Bachelet manifestou, em discurso no Parque
pela Paz Villa Grimaldi -um
dos principais centros de detenção clandestina da ditadura,
onde a própria presidente esteve presa com sua mãe-, a intenção de aceitar a decisão da
corte e reformular a lei.
O caminho interpretativo foi
o utilizado pelo governo Tabaré Vázquez, no Uruguai, para
permitir pela primeira vez a
abertura de processos contra
militares e policiais que violaram direitos humanos na ditadura (1973-1984). Foi reduzido
o alcance da Lei da Caducidade
da Pretensão Punitiva, de 1986,
para permitir a punição por
crimes ocorridos fora do país.
Na Argentina, o presidente
Néstor Kirchner, revogou as
chamadas "leis do perdão"
criadas durante o governo do
presidente Raúl Alfonsín e pediu à Justiça a nulidade dos indultos concedidos pelo presidente Carlos Menem em 1989 e
1990 -o que já foi decidido pelos tribunais em alguns casos,
embora estejam pendentes recursos.
Próximo Texto: Leis de anistia no Cone Sul Índice
|