São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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Crise grega expõe falhas do Estado em cativar jovens

Desemprego entre recém-formados, principal setor insatisfeito, deve bater 20%

Desaprovação a reforma do ensino e status histórico que deixa alunos virtualmente impunes por tumultos acirram as manifestações

KERIN HOPE
DO "FINANCIAL TIMES"

Constantine Karamanlis, o mais bem-sucedido dos premiês gregos do século 20, disse certa vez que "governar a Grécia pode ser quase impossível". A declaração dele parecia muito atual nos últimos dias, enquanto seu sobrinho Costas Karamanlis batalhava para impor a autoridade do governo grego depois de dias de batalhas de rua, incêndios criminosos e saques na região central de Atenas. O governo direitista do primeiro-ministro parecia ter perdido o controle, diante da inquietação intensa despertada quando a polícia abateu a tiros há oito dias o estudante Alexis Grigorópulos, 15.
A tentativa de Karamanlis de promover um consenso logo fracassou. Em lugar disso, ele teve de reagir a pedidos de eleições antecipadas. Os líderes da oposição populista grega exacerbaram as tensões ao convocar imensas manifestações de rua, em lugar de pedir por calma e reflexão.
A violência coloca em destaque a incapacidade de sucessivos governos de atender às preocupações dos jovens, que variam da baixa qualidade de ensino oferecida pelo sistema universitário profundamente politizado à frustração pela falta de oportunidades de emprego. Muitos jovens gregos se sentem excluídos diante de um sistema político e econômico que põe elos familiares sobre qualificações profissionais.
As universidades estatais, que controlam completamente o ensino superior grego, contam com quadros e verbas insuficientes. A despeito dos índices elevados de crescimento econômico que o país vem registrando desde a metade dos anos 90, o investimento do governo no ensino superior é de menos de 5.000 anuais por aluno, o menor da zona do euro, -20% inferior ao português e 25% menor que espanhol.
O desemprego entre os recém-formados aparentemente supera os 20%, ainda que o índice geral de desemprego no país tenha mantido média inferior a 8% nos últimos dois anos. A tentativa de Karamanlis de modernizar o ensino superior, dois anos atrás, foi bloqueada por três meses de manifestações de rua dos estudantes, apoiados pelos professores. Karamanlis também não conseguiu o apoio de outros partidos para suspender a proibição constitucional a ações policiais nas universidades.
Os estudantes desfrutam de status privilegiado na sociedade grega por seu papel na rebelião contra a ditadura militar no país em 1973, que conduziu ao colapso do regime no ano seguinte. Como resultado, os políticos não se dispõem a reprimir os manifestantes e os extremistas que exploram as "leis de asilo em campus", que integram a Constituição. Na semana passada, estudantes que se declaram anarquistas montaram barricadas no interior da Politécnica de Atenas e estão acumulando estoques de bombas incendiárias e outros projéteis, seguros de que a polícia não pode interferir com suas atividades. Dadas as ordens rigorosas para que os policiais não utilizem armas de fogo contra manifestantes, os extremistas obtiveram vantagem.
"Os estudantes protestam e vão para casa. Depois chegam anarquistas e destroem a cidade", disse Taki Michas, colunista do "Eleftherotypia", diário ateniense de esquerda.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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