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Crise grega expõe falhas do Estado em cativar jovens
Desemprego entre recém-formados, principal setor insatisfeito, deve bater 20%
Desaprovação a reforma do ensino e status histórico que deixa alunos virtualmente impunes por tumultos acirram as manifestações
KERIN HOPE
DO "FINANCIAL TIMES"
Constantine Karamanlis, o
mais bem-sucedido dos premiês gregos do século 20, disse
certa vez que "governar a Grécia pode ser quase impossível".
A declaração dele parecia
muito atual nos últimos dias,
enquanto seu sobrinho Costas
Karamanlis batalhava para impor a autoridade do governo
grego depois de dias de batalhas
de rua, incêndios criminosos e
saques na região central de Atenas. O governo direitista do primeiro-ministro parecia ter perdido o controle, diante da inquietação intensa despertada
quando a polícia abateu a tiros
há oito dias o estudante Alexis
Grigorópulos, 15.
A tentativa de Karamanlis de
promover um consenso logo
fracassou. Em lugar disso, ele
teve de reagir a pedidos de eleições antecipadas.
Os líderes da oposição populista grega exacerbaram as tensões ao convocar imensas manifestações de rua, em lugar de
pedir por calma e reflexão.
A violência coloca em destaque a incapacidade de sucessivos governos de atender às
preocupações dos jovens, que
variam da baixa qualidade de
ensino oferecida pelo sistema
universitário profundamente
politizado à frustração pela falta de oportunidades de emprego. Muitos jovens gregos se
sentem excluídos diante de um
sistema político e econômico
que põe elos familiares sobre
qualificações profissionais.
As universidades estatais,
que controlam completamente
o ensino superior grego, contam com quadros e verbas insuficientes. A despeito dos índices elevados de crescimento
econômico que o país vem registrando desde a metade dos
anos 90, o investimento do governo no ensino superior é de
menos de 5.000 anuais por
aluno, o menor da zona do euro, -20% inferior ao português
e 25% menor que espanhol.
O desemprego entre os recém-formados aparentemente
supera os 20%, ainda que o índice geral de desemprego no
país tenha mantido média inferior a 8% nos últimos dois anos.
A tentativa de Karamanlis de
modernizar o ensino superior,
dois anos atrás, foi bloqueada
por três meses de manifestações de rua dos estudantes,
apoiados pelos professores.
Karamanlis também não
conseguiu o apoio de outros
partidos para suspender a proibição constitucional a ações
policiais nas universidades.
Os estudantes desfrutam de
status privilegiado na sociedade grega por seu papel na rebelião contra a ditadura militar
no país em 1973, que conduziu
ao colapso do regime no ano seguinte. Como resultado, os políticos não se dispõem a reprimir os manifestantes e os extremistas que exploram as "leis
de asilo em campus", que integram a Constituição.
Na semana passada, estudantes que se declaram anarquistas montaram barricadas
no interior da Politécnica de
Atenas e estão acumulando estoques de bombas incendiárias
e outros projéteis, seguros de
que a polícia não pode interferir com suas atividades.
Dadas as ordens rigorosas
para que os policiais não utilizem armas de fogo contra manifestantes, os extremistas obtiveram vantagem.
"Os estudantes protestam e
vão para casa. Depois chegam
anarquistas e destroem a cidade", disse Taki Michas, colunista do "Eleftherotypia", diário
ateniense de esquerda.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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