São Paulo, terça-feira, 15 de janeiro de 2008

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Crise automotiva opõe republicanos hoje

Michigan sofre com desaceleração do setor e maior desemprego dos EUA; líderes nas pesquisas, McCain e Romney têm propostas inversas

Primária no Estado, focada na economia, pode ajudar a definir quadro embolado no partido e colocar fim à corrida de ex-governador

DANIEL BERGAMASCO
JOSÉ AUGUSTO AMORIM
ENVIADOS ESPECIAIS A DETROIT

Os dois candidatos republicanos favoritos a vencer hoje a primária de Michigan passaram a véspera da eleição reforçando discursos opostos sobre o principal tema da campanha local: a crise da indústria automotiva, maior culpada por o Estado ser atualmente o campeão do desemprego no país (7,4% em novembro).
Projetado por cinco das oito pesquisas mais recentes como vencedor da primária local, o ex-governador de Massachussets Mitt Romney promete injetar dinheiro na região para recuperar o setor. Já o senador do Arizona John McCain, apontado como vencedor nas outras três pesquisas, diz que o encolhimento da produção de automóveis no Estado não tem volta e que é preciso buscar uma outra alternativa para a economia local.
Romney -para quem ganhar em Michigan é quase caso de vida ou morte da candidatura, após derrotas em Iowa e New Hampshire- apresentou ontem um novo plano para salvar a economia local: ampliar de US$ 4 bilhões para US$ 20 bilhões o investimento federal em pesquisa de tecnologia de automóveis, combustíveis e energia no Estado.
Diante de cerca de 500 eleitores, Romney alfinetou o "pessimismo" de John McCain. "Os pessimistas dizem que as centenas de milhares de empregos que perdemos foram perdidos para sempre. Os pessimistas estão errados. A indústria automotiva e todos seus empregos [250 mil a menos entre 2000 e 2006, segundo o "Financial Times"] não têm que ser perdidos. E eu sou o homem que vai trabalhar por isso", declarou.
Para Margaret Levenstein, analista de economia da Universidade de Michigan, a visão de McCain de que é preciso investir em outras alternativas faz sentido e pode ser bem recebida pelos eleitores. "Todos aqui sabem que a concorrência da Ásia é muito forte e que será difícil para Michigan recuperar sua indústria automotiva. Há consenso de que é preciso aproveitar essa mão-de-obra qualificada em outros setores tecnológicos, como a produção de energia verde [combustíveis menos poluentes, proposta de McCain]", disse ela à Folha.
"O que as pessoas querem aqui é uma solução para a crise econômica, independentemente do setor que traga a prosperidade. O consumo em Michigan já é apenas dois terços do consumo americano. E os moradores estão migrando para outros Estados atrás de trabalho", diz ela.

Freio
A tensão no mercado automotivo de Michigan cresce com a aproximação do final do mês, quando a General Motors -sediada no Estado, assim como a Ford- anunciará seus números de venda em 2007. A expectativa do mercado é de que a GM tenha perdido o posto de maior produtora de automóveis para a japonesa Toyota.
"Um dos problemas do setor em Michigan foi a demora para perceber que o consumidor queria veículos menores e mais econômicos, algo que os asiáticos dominam", disse à Folha Martin Zimmerman, ex-executivo da Ford e pesquisador da Universidade de Michigan.
Outra questão apontada por Zimmerman é o número de encargos trabalhistas, que fazem os EUA perderem competitividade. As montadoras, que por lei são obrigadas a estender benefícios, como planos de saúde, para funcionários aposentados, travam negociações constantes com o sindicato United Auto Workers, que levou a General Motors a enfrentar em 2007 sua primeira greve em décadas.
O presidente mundial da GM, Rick Wagoner, cita outros fatores. Ele disse à Folha que o atual governo republicano não dá a atenção devida a pedidos das montadoras, como mais investimento em biodiesel. "Quando vou a Washington e cito o sucesso do álcool no Brasil, me pedem: "Você pode não falar mais de Brasil?'".


José Augusto Amorim, editor-assistente de Veículos, viaja a convite da Anfavea


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