|
Próximo Texto | Índice
Crise automotiva opõe republicanos hoje
Michigan sofre com desaceleração do setor e maior desemprego dos EUA; líderes nas pesquisas, McCain e Romney têm propostas inversas
Primária no Estado, focada na economia, pode ajudar a definir quadro embolado no partido e colocar fim à corrida de ex-governador
DANIEL BERGAMASCO
JOSÉ AUGUSTO AMORIM
ENVIADOS ESPECIAIS A DETROIT
Os dois candidatos republicanos favoritos a vencer hoje a
primária de Michigan passaram a véspera da eleição reforçando discursos opostos sobre
o principal tema da campanha
local: a crise da indústria automotiva, maior culpada por o
Estado ser atualmente o campeão do desemprego no país
(7,4% em novembro).
Projetado por cinco das oito
pesquisas mais recentes como
vencedor da primária local, o
ex-governador de Massachussets Mitt Romney promete injetar dinheiro na região para
recuperar o setor. Já o senador
do Arizona John McCain,
apontado como vencedor nas
outras três pesquisas, diz que o
encolhimento da produção de
automóveis no Estado não tem
volta e que é preciso buscar
uma outra alternativa para a
economia local.
Romney -para quem ganhar
em Michigan é quase caso de vida ou morte da candidatura,
após derrotas em Iowa e New
Hampshire- apresentou ontem um novo plano para salvar
a economia local: ampliar de
US$ 4 bilhões para US$ 20 bilhões o investimento federal
em pesquisa de tecnologia de
automóveis, combustíveis e
energia no Estado.
Diante de cerca de 500 eleitores, Romney alfinetou o "pessimismo" de John McCain. "Os
pessimistas dizem que as centenas de milhares de empregos
que perdemos foram perdidos
para sempre. Os pessimistas
estão errados. A indústria automotiva e todos seus empregos
[250 mil a menos entre 2000 e
2006, segundo o "Financial Times"] não têm que ser perdidos. E eu sou o homem que vai
trabalhar por isso", declarou.
Para Margaret Levenstein,
analista de economia da Universidade de Michigan, a visão
de McCain de que é preciso investir em outras alternativas
faz sentido e pode ser bem recebida pelos eleitores. "Todos
aqui sabem que a concorrência
da Ásia é muito forte e que será
difícil para Michigan recuperar
sua indústria automotiva. Há
consenso de que é preciso aproveitar essa mão-de-obra qualificada em outros setores tecnológicos, como a produção de
energia verde [combustíveis
menos poluentes, proposta de
McCain]", disse ela à Folha.
"O que as pessoas querem
aqui é uma solução para a crise
econômica, independentemente do setor que traga a
prosperidade. O consumo em
Michigan já é apenas dois terços do consumo americano. E
os moradores estão migrando
para outros Estados atrás de
trabalho", diz ela.
Freio
A tensão no mercado automotivo de Michigan cresce com
a aproximação do final do mês,
quando a General Motors -sediada no Estado, assim como a
Ford- anunciará seus números de venda em 2007. A expectativa do mercado é de que a
GM tenha perdido o posto de
maior produtora de automóveis para a japonesa Toyota.
"Um dos problemas do setor
em Michigan foi a demora para
perceber que o consumidor
queria veículos menores e mais
econômicos, algo que os asiáticos dominam", disse à Folha
Martin Zimmerman, ex-executivo da Ford e pesquisador da
Universidade de Michigan.
Outra questão apontada por
Zimmerman é o número de encargos trabalhistas, que fazem
os EUA perderem competitividade. As montadoras, que por
lei são obrigadas a estender benefícios, como planos de saúde,
para funcionários aposentados,
travam negociações constantes
com o sindicato United Auto
Workers, que levou a General
Motors a enfrentar em 2007
sua primeira greve em décadas.
O presidente mundial da
GM, Rick Wagoner, cita outros
fatores. Ele disse à Folha que o
atual governo republicano não
dá a atenção devida a pedidos
das montadoras, como mais investimento em biodiesel.
"Quando vou a Washington e
cito o sucesso do álcool no Brasil, me pedem: "Você pode não
falar mais de Brasil?'".
José Augusto Amorim, editor-assistente de
Veículos, viaja a convite da Anfavea
Próximo Texto: Punidos, democratas do Estado não têm direito a delegados Índice
|