São Paulo, terça-feira, 15 de janeiro de 2008

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Em tour, Sarkozy reafirma parceria com os árabes

Presidente tido como pró-Israel vem seguindo passos de antecessores na região

Visita a países do Golfo Pérsico abre mercado para empresas francesas nas áreas civil e militar e poderá render contratos bilionários

Eric Feferberg/France Presse
Sarkozy (esq.) brinca com o príncipe saudita Abdulaziz durante cerimônia tradicional, em Riad


SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na segunda etapa de uma viagem pelo Golfo Pérsico, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, chegou na noite de ontem ao Qatar, depois de passar pela Arábia Saudita. Ele visitará ainda os Emirados Árabes Unidos, numa turnê que confirma o empenho do presidente empossado há oito meses em dissipar a imagem de aliado incondicional de Israel e EUA.
O caminho percorrido por Sarkozy, que já esteve também no Egito e nos três países do Magreb, indica um claro esforço para reconquistar o mundo árabe, depois de ter defendido durante a campanha presidencial uma ruptura na tradição francesa de relações privilegiadas com os governos da região.
Em Riad, Sarkozy afirmou ontem que "a França quer ser amiga do mundo árabe" e, num elogio polêmico, declarou-se impressionado com os avanços em matéria de direitos da mulher e liberdade de expressão implementados pelo regime saudita, um dos mais conservadores em todo o mundo.
Cortejos à parte, a visita a Riad rendeu às empresas francesas promessas de contratos avaliadas em 40 bilhões de euros nas áreas "civil e militar". No Qatar, foram assinados um acordo de 407 milhões para a construção de uma usina elétrica e um memorando sobre energia nuclear.
Na prática, Sarkozy está perpetuando a tradição francesa, iniciada nos anos 60 por Charles de Gaulle, de apostar nos países árabes como plataforma de influência econômica, política e cultural. Além das viagens, Sarkozy recebeu com pompa o ditador líbio Muamar Gaddafi, reuniu em Paris doadores que prometerem US$ 7,4 bilhões aos palestinos e esboçou uma reaproximação com o regime sírio para tentar mediar a crise no Líbano.
As manobras surpreenderam os próprios árabes, já que Sarkozy, antes de ser eleito, aceitou sem relutar o apelido de "Sarkô, o americano" e anunciou, diante de embaixadores árabes atônitos, que Israel se tornaria "prioridade" de sua política externa. Em 2006, ele havia enfurecido boa parte do Oriente Médio ao dizer que o Hizbollah era culpado dos ataques israelenses ao Líbano.

Pragmático
Sarkozy adotou o pragmatismo. "Algum assessor deve ter conseguido convencê-lo sobre a importância do mercado árabe", disse à Folha Stéphane Lacroix, analista do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
A atitude não surpreende Didier Billion, do instituto parisiense Iris. "Na campanha, ele queria se diferenciar dos adversários, mas a linguagem muda sempre que se chega ao cargo supremo", avalia. "Sarkozy tomou rapidamente uma atitude de realpolitik, que tem rendido bons frutos", diz.
Paris não só conseguiu bilhões para as empresas francesas como também saiu na frente da concorrência de Rússia e EUA para satisfazer a nova ambição atômica dos árabes, que Sarkozy fez questão de defender. "Compartilhar a energia nuclear civil é um pilar da confiança entre o Ocidente e o mundo muçulmano."
Além do interesse comercial, Sarkozy busca o apoio dos árabes para o seu projeto "União do Mediterrâneo", que pretende reforçar a influência européia na África do Norte e no Oriente Médio. "Sem o apoio pleno dos árabes, essa idéia é inviável", diz Lacroix.


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