São Paulo, terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Gaviria pede que países pressionem Chávez

Ex-secretário da OEA diz que apoiar luta armada é o mesmo que respaldar golpe militar; EUA e UE rechaçam proposta de venezuelano

Declaração de Chávez de que queria Farc fora da lista de grupos terroristas foi mal recebida em Bogotá, que teme apoio por Caracas

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

O ex-presidente colombiano César Gaviria (1990-1994) se somou ontem ao coro de duras críticas à proposta de Hugo Chávez de dar status político às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e contra suas declarações simpáticas à guerrilha de esquerda. Por meio do partido que dirige, o opositor Liberal (centro-esquerda), emitiu um duro comunicado pedindo que o presidente venezuelano não intervenha em "assuntos internos".
Fora da Colômbia, a exortação de Chávez para que as Farc deixem de ser classificadas de terroristas foi descartada pela União Européia e pelos EUA. O chefe de diplomacia da UE, Javier Solana, disse que não há motivos para que a guerrilha saia da lista de organizações terroristas do bloco. Já para o Departamento de Estado americano seria um "erro grave" mudar o estatuto das Farc.
Nesta entrevista à Folha, Gaviria, secretário-geral da OEA entre 1994 e 2004, pediu que a comunidade internacional pressione Chávez a não reconhecer as Farc como organização política e disse que respaldar a luta armada é o mesmo que apoiar um golpe militar.

 

FOLHA - Qual é a sua posição sobre a proposta de Chávez de dar status político às Farc?
CÉSAR GAVIRIA -
Chávez fez declarações que nós, do Partido Liberal, de oposição ao presidente [Álvaro] Uribe, consideramos muito ruins para a democracia colombiana. Seria muito ruim que, lançando mão de seqüestros, se conseguisse sair da lista de terroristas. Nós, colombianos -instituições e governo-, temos de tentar convencer a comunidade internacional a persuadir o presidente Chávez a não percorrer esse caminho.

FOLHA - Com Chávez dizendo que tem afinidades ideológicas com as Farc, o sr. vê o risco de a Venezuela virar uma base de apoio à guerrilha?
GAVIRIA -
Temos todas essas preocupações. O que o presidente Chávez e o seu ministro do Interior [Ramón Rodríguez Chacín] disseram pode ser visto como uma espécie de aceitação, de justificativa ou apoio à luta armada. Esse é um tema que nossos países deixaram para trás há muito tempo. Isso é da Guerra Fria, quando os governos podiam assumir esse tipo de posição. Mas a Colômbia é uma democracia legítima, e o governo de um país amigo não pode justificar, aceitar ou defender a luta armada.

FOLHA - As declarações reavivaram o debate sobre como classificar as Farc. Qual é a sua posição?
GAVIRIA -
Esses grupos não são terroristas porque foram colocados numa lista. São terroristas porque todos os dias seqüestram, atacam a população civil, usam bombas. Com isso não se pode brincar. Mas a Colômbia está disposta a dialogar com eles. Com o ELN (Exército de Libertação Nacional), há uma negociação de paz. Com as Farc, há uma negociação para libertar os seqüestrados. Não se pode pedir à comunidade internacional que, além disso, se premie ou respalde a atividade desses grupos.

FOLHA - O presidente do Equador, Rafael Correa, respaldou a posição de Chávez, enquanto o presidente Lula pediu a Uribe e às Farc que se chegue a um acordo sobre os reféns. Como está a relação da Colômbia com seus vizinhos?
GAVIRIA -
São temas diferentes. A Colômbia tem problemas com o Equador por causa de fumigações contra o narcotráfico. Vários países têm diferenças entre si por questões econômicas ou por suas relações com os EUA. E esses temas são todos legítimos. Daí a que o presidente de um país amigo pedir à comunidade internacional que os grupos guerrilheiros deixem de ser terroristas e passar a nutrir certa simpatia e apoio à luta armada é muito diferente. Esperamos que a comunidade internacional não percorra esse caminho porque dizer que pode haver luta armada é dizer que pode haver golpes militares.


Texto Anterior: Espanha: Eleições gerais serão em 9 de março
Próximo Texto: Lula faz apelo às Farc e a Uribe por libertações
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.