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Gaviria pede que países pressionem Chávez
Ex-secretário da OEA diz que apoiar luta armada é o mesmo que respaldar golpe militar; EUA e UE rechaçam proposta de venezuelano
Declaração de Chávez de que queria Farc fora da lista de grupos terroristas foi mal recebida em Bogotá, que teme apoio por Caracas
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ
O ex-presidente colombiano
César Gaviria (1990-1994) se
somou ontem ao coro de duras
críticas à proposta de Hugo
Chávez de dar status político às
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e contra suas declarações simpáticas
à guerrilha de esquerda. Por
meio do partido que dirige, o
opositor Liberal (centro-esquerda), emitiu um duro comunicado pedindo que o presidente venezuelano não intervenha
em "assuntos internos".
Fora da Colômbia, a exortação de Chávez para que as Farc
deixem de ser classificadas de
terroristas foi descartada pela
União Européia e pelos EUA. O
chefe de diplomacia da UE, Javier Solana, disse que não há
motivos para que a guerrilha
saia da lista de organizações
terroristas do bloco. Já para o
Departamento de Estado americano seria um "erro grave"
mudar o estatuto das Farc.
Nesta entrevista à Folha, Gaviria, secretário-geral da OEA
entre 1994 e 2004, pediu que a
comunidade internacional
pressione Chávez a não reconhecer as Farc como organização política e disse que respaldar a luta armada é o mesmo
que apoiar um golpe militar.
FOLHA - Qual é a sua posição sobre
a proposta de Chávez de dar status
político às Farc?
CÉSAR GAVIRIA - Chávez fez declarações que nós, do Partido
Liberal, de oposição ao presidente [Álvaro] Uribe, consideramos muito ruins para a democracia colombiana. Seria
muito ruim que, lançando mão
de seqüestros, se conseguisse
sair da lista de terroristas. Nós,
colombianos -instituições e
governo-, temos de tentar
convencer a comunidade internacional a persuadir o presidente Chávez a não percorrer
esse caminho.
FOLHA - Com Chávez dizendo que
tem afinidades ideológicas com as
Farc, o sr. vê o risco de a Venezuela
virar uma base de apoio à guerrilha?
GAVIRIA - Temos todas essas
preocupações. O que o presidente Chávez e o seu ministro
do Interior [Ramón Rodríguez
Chacín] disseram pode ser visto como uma espécie de aceitação, de justificativa ou apoio à
luta armada. Esse é um tema
que nossos países deixaram para trás há muito tempo. Isso é
da Guerra Fria, quando os governos podiam assumir esse tipo de posição. Mas a Colômbia
é uma democracia legítima, e o
governo de um país amigo não
pode justificar, aceitar ou defender a luta armada.
FOLHA - As declarações reavivaram
o debate sobre como classificar as
Farc. Qual é a sua posição?
GAVIRIA - Esses grupos não são
terroristas porque foram colocados numa lista. São terroristas porque todos os dias seqüestram, atacam a população
civil, usam bombas. Com isso
não se pode brincar. Mas a Colômbia está disposta a dialogar
com eles. Com o ELN (Exército
de Libertação Nacional), há
uma negociação de paz. Com as
Farc, há uma negociação para
libertar os seqüestrados. Não se
pode pedir à comunidade internacional que, além disso, se
premie ou respalde a atividade
desses grupos.
FOLHA - O presidente do Equador,
Rafael Correa, respaldou a posição
de Chávez, enquanto o presidente
Lula pediu a Uribe e às Farc que se
chegue a um acordo sobre os reféns.
Como está a relação da Colômbia
com seus vizinhos?
GAVIRIA - São temas diferentes.
A Colômbia tem problemas
com o Equador por causa de fumigações contra o narcotráfico.
Vários países têm diferenças
entre si por questões econômicas ou por suas relações com os
EUA. E esses temas são todos
legítimos. Daí a que o presidente de um país amigo pedir à comunidade internacional que os
grupos guerrilheiros deixem de
ser terroristas e passar a nutrir
certa simpatia e apoio à luta armada é muito diferente. Esperamos que a comunidade internacional não percorra esse caminho porque dizer que pode
haver luta armada é dizer que
pode haver golpes militares.
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