São Paulo, quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

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Mortos na faixa de Gaza já superam mil

Emissário do governo israelense viaja hoje ao Cairo para discutir proposta egípcia que recebeu aval dúbio do Hamas

Diplomacia avança a passos lentos ante a distância entre as exigências de cada lado; ONU denuncia novo ataque israelense a um veículo seu

Hatem Moussa/ Associated Press
Palestinos inspecionam danos após bombardeios na cidade de Gaza; para Comitê Internacional da Cruz Vermelha, situação na área após 19 dias é "chocante"

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SDEROT

O número de mortos em 19 dias de ofensiva israelense contra o grupo fundamentalista Hamas na faixa de Gaza passou ontem de mil, enquanto persistem as dificuldades para estabelecer um cessar-fogo. Hoje um emissário do governo israelense chega ao Cairo para discutir uma proposta egípcia que recebeu um dúbio aval do grupo extremista palestino.
Um grande número de tropas israelenses continua posicionado na fronteira com Gaza, conforme pôde comprovar a reportagem da Folha, à espera de uma ordem para ampliar a ofensiva caso a diplomacia fracasse. Embora esse compasso de espera detenha, por ora, uma ação terrestre mais profunda, os ataques continuam intensos em torno dos principais centros urbanos de Gaza.
Fontes médicas palestinas informaram ontem que o total de mortos chegou a 1.024, sendo 40% civis. Um terço dos civis mortos, de acordo com as mesmas fontes, é de crianças. O Exército israelense contabiliza 930 mortos, mas afirma que 75% deles são militantes do Hamas. Treze israelenses foram mortos desde o início da operação, entre eles três civis atingidos por foguetes.
O presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Jakob Kellenberger, esteve ontem dos dois lados do conflito e pediu a ambos que respeitem a distinção entre civis e militares. Kellenberger descreveu a situação em Gaza como "chocante", após visitar um hospital no território palestino.
"A situação humanitária é dramática. Há um número crescente de mulheres e crianças feridos", disse Kellenberger, que definiu como "um passo positivo, mas insuficiente" a trégua humanitária de três horas que Israel mantém diariamente. Após deixar Gaza, Kellenberger visitou a cidade israelense de Sderot, maior alvo de foguetes palestinos.
Apesar das dificuldades, Kellenberger diz que a ajuda médica está chegando aos hospitais de Gaza: "Em geral os médicos não reclamaram da falta de equipamentos ou material".
Ele disse não ter visto indícios de que Israel esteja usando armas proibidas, como afirmado por algumas organizações.
Ontem mais um incidente envolvendo a ajuda humanitária criou embaraço para Israel. Segundo Chris Gunnes, porta-voz da ONU, um veículo da organização foi atingido por forças israelenses na Cidade de Gaza, deixando o motorista ferido. Ataque parecido na semana passada provocou a suspensão das ações da ONU em Gaza por alguns dias. O Exército negou a autoria dos disparos.

Negociações
A ofensiva militar completa hoje 20 dias sob a expectativa de que a frente diplomática possa finalmente produzir uma trégua. Depois que a resolução de cessar-fogo aprovada pelo Conselho de Segurança foi ignorada tanto por Israel como pelo Hamas, as esperanças se voltaram para as negociações conduzidas pelo Cairo.
Nos dois últimos dias surgiram indícios de que o grupo teria superado suas divisões e estaria próximo de aceitar a proposta de cessar-fogo egípcia. Ontem, porém, um emissário do Hamas ao Cairo disse que o grupo ainda tem reservas e mantém suas exigências.
"Vamos tentar alcançar nossos objetivos como for possível, para terminar a agressão, suspender o cerco e abrir as fronteiras", disse Salah Bardawil, em uma confusa entrevista coletiva. "A proposta egípcia é a única que recebemos. Nós apresentamos nossa visão e esperamos que ela se concretize."
Hoje as condições do Hamas serão transmitidas pelos egípcios ao representante israelense, mas acredita-se que a distância ainda seja grande para um acordo. Enquanto os fundamentalistas exigem a retirada das tropas inimigas e a abertura das fronteiras para aceitar um cessar-fogo temporário, Israel quer "uma nova realidade de segurança".
Isso significa, sobretudo, um mecanismo de monitoramento da fronteira entre Egito e Gaza, que impeça a entrada de armas para os militantes. A ideia de uma trégua temporária também é inaceitável para Israel.
"Israel não aceitará uma situação em que o Hamas ganhe um período temporário de calma para se rearmar e que termine com mais foguetes sendo disparados contra Israel", disse Mark Regev, porta-voz do premiê Ehud Olmert.
Se o Hamas não chega a uma posição única, o governo de Israel tampouco. Ontem, assessores de Olmert criticaram o ministro da Defesa, Ehud Barak, que pediu uma trégua humanitária de uma semana.


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