São Paulo, quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

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Guerra causa racha diplomático entre árabes

Qatar quer sediar cúpula amanhã para tratar de Gaza, mas Arábia Saudita e Egito defendem outras propostas de encontro

Embate traduz divergências entre países favoráveis à firmeza contra Israel e governos que consideram o Hamas como uma ameaça

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os ataques em Gaza acirram as profundas divergências geopolíticas no mundo árabe e sustentam a atual queda de braço diplomática entre os países coniventes com o objetivo israelense de enfraquecer o grupo islâmico Hamas e os partidários de uma ação diplomática mais firme contra Israel.
O racha na região está cristalizado em duas propostas rivais de cúpula para tratar dos ataques que deixaram até agora 1.024 palestinos mortos, despertando a fúria da opinião pública árabe e aumentando a pressão contra governos impopulares e ineficientes.
A primeira sugestão de um encontro de lideranças árabes partiu do Qatar, um país pequeno mas rico, adepto de uma diplomacia pró-árabe que a TV estatal Al Jazeera se encarrega de propagar por toda a região.
O governo qatariano convidou os líderes árabes a se reunirem amanhã em Doha para buscarem juntos maneiras de aumentar a pressão para o fim dos ataques israelenses.
Nas entrelinhas, o evento também pretende dar uma resposta às populações árabes, que exigem de seus governos atitudes mais contundentes.
Doha anunciou ontem ter recebido confirmação de participação de 15 dos 22 países da Liga Árabe, o que representaria o quórum suficiente de dois terços. Mas a Liga Árabe afirmou que o número de participantes confirmados é 13, dois a menos do que o necessário.

Egito e Arábia Saudita
As desistências -uma delas do Marrocos, a outra não especificada- resultam de pressões do Egito e da Arábia Saudita, as potências árabes aliadas de Washington que trabalham abertamente para minar os planos do Qatar.
O rei saudita, Abdullah al Saud, marcou ontem às pressas uma reunião para hoje com os vizinhos do golfo Pérsico.
Já o Egito quer tratar de Gaza às margens de uma cúpula econômica no Kuait, na próxima semana, agendada antes da crise. "Se formos a Doha, vamos matar a cúpula do Kuait", argumentou o chanceler egípcio, Ahmed Abul Gheit.
Segundo analistas, as manobras sauditas e egípcias visam acentuar as divisões entre árabes para dar tempo a Israel de continuar atacando o Hamas, considerado inimigo.
Apesar de ser o principal mediador na crise, o Egito atrai as maiores acusações de conivência com Israel. O governo do país árabe mais populoso vê o ataque a Gaza como maneira de acabar com o Hamas, ou no mínimo enfraquecê-lo, e, por tabela, desmoralizar a Irmandade Muçulmana, entidade oposicionista egípcia que inspirou o surgimento do grupo.
O Cairo também quer um Hamas mais fraco por considerá-lo um instrumento do Irã, rival persa do Egito na disputa por influência regional.


Com agências internacionais


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