São Paulo, sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

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Hizbollah promete "guerra aberta" a Israel

Líder do grupo xiita acusa israelenses de terem agido "fora do campo de batalha" em atentado que matou seu chefe militar

Governo israelense põe de prontidão tropa na fronteira libanesa e reforça proteção de embaixadas; EUA crêem que ameaça "é alarmante"

DA REDAÇÃO

O líder do grupo radical xiita Hizbollah, xeque Hassan Nasrallah, ameaçou ontem desencadear contra Israel "uma guerra aberta", ao responsabilizar aquele país pelo atentado que matou anteontem, na Síria, o comandante militar do grupo, Imad Moughniyeh.
"Sionistas, caso vocês queiram essa forma de guerra aberta, que o mundo inteiro saiba que haverá uma guerra aberta", afirmou em gravação exibida num telão em Beirute, durante as cerimônias de sepultamento do líder terrorista morto.
Nasrallah disse que, ao cometer um atentado na Síria, Israel deslocou para "fora do campo de batalha" um conflito até agora circunscrito ao Líbano. Com isso, afirmou, o governo israelense passava a se expor a ações do grupo islâmico em países estrangeiros.
Moughniyeh era há duas décadas um dos homens mais procurados por Israel e pelos Estados Unidos, em razão de sua participação direta em atentados terroristas, como os que mataram 241 militares americanos no Líbano, nos anos 80, ou os 95 ocupantes de um centro cultural judaico em Buenos Aires, em 1994.
A ameaça do líder do Hizbollah levou Israel a decretar alerta máximo e a adotar "todas as precauções no ar, em terra e no mar para proteger a fronteira ao norte [com o Líbano] e outros interesses israelenses", afirmou o general Gabi Ashkenazi. As embaixadas de Israel estão com segurança reforçada.
A ministra israelense do Exterior, Tzipi Livni, disse que seu país sabe enfrentar as ameaças e qualificou o Hizbollah de terrorista. Quem compareceu à cerimônia do Hizbollah foi o ministro iraniano das Relações Exteriores, Manouchehr Mottaki. Ele leu uma mensagem do presidente Mahmoud Ahmadinejad. O gesto sinaliza de forma explícita a ligação do grupo libanês com o Irã, país de maioria xiita. O Hizbollah também tem apoio sírio.
Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, qualificou de "alarmante" a ameaça do grupo xiita contra Israel.

Divisão em Beirute
Israel negou estar por trás da explosão que matou o dirigente xiita, embora, segundo a Reuters, o serviço secreto israelense, Mossad, o mantivesse em sua lista negra. Moughniyeh é o mais alto líder do Hizbollah a ser morto desde 1992, quando um helicóptero israelense localizou e alvejou, ao sul do Líbano, o então secretário-geral do grupo, Abbas Mussawi.
O sepultamento de Moughniyeh foi uma oportunidade para que os libaneses partidários da Síria dessem uma demonstração de força, reunindo dezenas de milhares de simpatizantes em manifestações de rua ao sul de Beirute.
Ao mesmo tempo que uma multidão sepultava Moughniyeh, milhares de adversários do grupo islâmico se reuniam na praça dos Mártires, centro de Beirute, para homenagear o ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, ali sepultado e lembrado pelo terceiro aniversário do atentado terrorista que o matou.
O Exército ocupou Beirute com 8.000 soldados para evitar que as manifestantes do Hizbollah entrassem em atrito com manifestantes anti-Síria.
Investigações de uma comissão da ONU apontaram autoridades sírias como prováveis responsáveis pelo atentado de fevereiro 2005, o que Damasco nega. Em meio a milhares de bandeiras libanesas, o filho de Hariri, Saad, deputado e seu sucessor político, afirmou que sua mão estava "estendida" à oposição apoiada pela Síria. Nasrallah diria depois que aceitava o gesto por considerá-lo sincero.
O Ministério do Interior afirmou que a manifestação pró-Hariri reuniu 1 milhão de pessoas, embora jornalistas presentes constatassem apenas "dezenas de milhares".


Com agências internacionais


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