São Paulo, sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

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Putin ficará no poder "por muito tempo" como premiê

Em coletiva, presidente da Rússia ataca apoio europeu à separação de Kosovo

Conselho de Segurança da ONU discute situação de Kosovo e Sérvia anula por antecipação ato anunciado para domingo por Província

DA REDAÇÃO

O presidente russo Vladimir Putin confirmou ontem que pretende ser primeiro-ministro "por muito tempo" após deixar o Kremlin, em maio. Em sua última entrevista coletiva anual no cargo, que se estendeu por quase cinco horas, ele disse que "o mais alto poder executivo no país é o governo da Federação Russa, liderado pelo premiê", mas negou que pretenda ditar ordens ao seu provável sucessor, Dmitri Medvedev.
"Eu nunca teria apoiado um candidato à Presidência que precisasse de cuidados e conselhos sobre como agir", afirmou, no evento transmitido ao vivo pela televisão russa. Chancelado por Putin, o primeiro vice-premiê Dmitri Anatolyevich Medvedev, 42, é o franco favorito nas eleições de 2 de março.
Cerca de 70% dos eleitores que pretendem votar apóiam Medvedev - e apenas 19% esperam que ele atue de forma independente, de acordo com pesquisa do instituto Levada.
Embora a Constituição concentre poderes na figura do presidente -o premiê tem funções sobretudo no planejamento econômico-, Putin não faz segredo de que exerceria o cargo de modo bastante peculiar.
"Você tem de concordar que, se eu chefiar o governo, a situação será de certo modo única porque eu próprio fui presidente por oito anos e, de modo geral, trabalhei muito bem." Impedido de concorrer a um terceiro mandato, Putin não pretende pendurar a fotografia do chefe de Estado no seu escritório, cortesia protocolar no país.
As menções de Putin a seu futuro papel como premiê suscitaram críticas dos Estados Unidos. "Não é o tipo de afirmação coerente com uma democracia saudável", disse o porta-voz do departamento de Estado, Sean McCormack. "Normalmente essas questões são respondidas primeiro pelo povo."

Kosovo
Reiterando a posição oficial da Rússia, Putin disse que a independência de Kosovo seria "imoral" -porque a União Européia, que pretende reconhecer o ato, não admite secção unilateral em seus próprios países- e "ilegal", por desrespeitar a soberania da Sérvia.
A Província semi-autônoma, cuja maioria da população é de origem albanesa, pretende proclamar-se independente no domingo. O fato já é considerado inevitável pela Sérvia, que adotou resolução anulando, antecipadamente, a secessão.
O premiê Vojislav Kostunica foi à TV em cadeia nacional para dizer ao país que se prepare para iminente declaração kosovar. Ele foi dúbio: disse que a perda da Província -que faz parte da construção da nacionalidade sérvia por causa de sucessivas batalhas contra conquistadores otomanos, a partir do século 15- é uma realidade, mas que o país não vai aceitá-la.
Também iniciou-se reunião extraordinária do Conselho de Segurança, solicitada pela Sérvia e pela Rússia para deliberar sobre o que consideram uma violação da Carta da ONU.
A independência está ensaiada passo a passo. A força da Otan na Província já está em alerta para conter conflitos entre os kosovares albaneses e sérvios. Reino Unido, Holanda, Alemanha e França devem ser os primeiros a reconhecerem o ato. Os EUA seguem a posição européia. Os embaixadores sérvios nos países que reconhecerem Kosovo voltariam a Belgrado na segunda, em protesto.


Com agências internacionais


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