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Paquistão defende diálogo EUA-Taleban
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Vizinho mais afetado pelos
problemas do Afeganistão, o
Paquistão defende mais ajuda,
mais conversa e menos violência para derrotar o Taleban.
Foi o que disse à Folha a subsecretária geral da Chancelaria
paquistanesa para as Américas,
embaixadora Attiya Mahmood.
Ela esteve em São Paulo na semana passada, em um giro de
conversas comerciais e diplomáticas que a levou também a
Brasília e Ottawa (Canadá). Na
conversa, Mahmood também
cobrou mais ajuda americana
ao Paquistão.
FOLHA - Como avalia a estratégia
de Barack Obama para o Afeganistão?
ATTIYA MAHMOOD - Acho que pode funcionar a sua ideia de aumentar tropas para recuperar
áreas rebeldes antes de passar o
controle dessas zonas para as
tropas afegãs, e ir embora gradualmente. Mas deixar as forças afegãs prontas em um ano
me parece um pouco difícil. De
qualquer maneira, melhoras só
surgirão quando houver maior
enfoque no desenvolvimento
do Afeganistão. A perspectiva
agressiva sozinha não dá certo.
As pessoas precisam sentir que
têm um Estado no qual podem
confiar.
FOLHA - O que a sra. responde ao
vice-presidente americano, Joe Biden, que dias atrás se disse mais
preocupado com o Paquistão do que
com Afeganistão ou Irã?
MAHMOOD - Sempre dissemos
aos americanos que o problema
é o Afeganistão, não o Paquistão. Eles têm que resolver o que
acontece por lá e parar de empurrar o problema para o nosso
lado e nos culpar. Às vezes eles
parecem entender isso, e às vezes fazem declarações erradas.
FOLHA - Mas a fronteira comum
permeável torna indissociáveis os
problemas afegão e paquistanês.
MAHMOOD - A fronteira é um
assunto muito difícil. É uma região montanhosa, árida, pobre,
com demarcação pouco clara
dos limites de cada território.
Há famílias e clãs espalhados
pelos dois lados, e essa gente
tem contato, se visita. Cerca de
40 mil pessoas atravessam diariamente a fronteira. Não há
soluções milagrosas. O fato é
que o Paquistão sempre se ofereceu para treinar as forças armadas e a polícia afegã. Também podemos dar bolsas de estudo e ajudar o país a se desenvolver. Se o nosso vizinho não
estiver em paz, nós também
não estaremos. Cada vez mais
americanos defendem a ideia
de conversas com o Taleban.
FOLHA - A sra. está dizendo que é
preciso dialogar com o Taleban?
MAHMOOD - Sim, é algo que há
anos colocamos em discussão.
Não nos davam ouvidos, e agora as pessoas estão começando
a entender que a solução inclui
alguns elementos contra quem
se combateu.
FOLHA - Os EUA dizem que o Paquistão não está se empenhando o
suficiente para acabar com os radicais em seu próprio território.
MAHMOOD - É fácil falar a distância. Desde que entramos
nesse período de guerra, o custo para nossa economia foi de
US$ 35 bilhões. Perdemos em
combate mais de 5.000 homens das Forças Armadas.
Quem diz que não estamos fazendo o bastante não enxerga
as coisas.
FOLHA - Os EUA poderiam fazer
mais pelo Paquistão?
MAHMOOD - Claro. Deveriam
ao menos reembolsar o que nos
devem em despesas logísticas e
militares. Há, ainda, o novo pacote de ajuda prometido no ano
passado. Sabemos que está tramitando no Congresso, mas até
agora não vimos o dinheiro.
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