São Paulo, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

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Paquistão defende diálogo EUA-Taleban

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Vizinho mais afetado pelos problemas do Afeganistão, o Paquistão defende mais ajuda, mais conversa e menos violência para derrotar o Taleban.
Foi o que disse à Folha a subsecretária geral da Chancelaria paquistanesa para as Américas, embaixadora Attiya Mahmood.
Ela esteve em São Paulo na semana passada, em um giro de conversas comerciais e diplomáticas que a levou também a Brasília e Ottawa (Canadá). Na conversa, Mahmood também cobrou mais ajuda americana ao Paquistão.

 


FOLHA - Como avalia a estratégia de Barack Obama para o Afeganistão?
ATTIYA MAHMOOD - Acho que pode funcionar a sua ideia de aumentar tropas para recuperar áreas rebeldes antes de passar o controle dessas zonas para as tropas afegãs, e ir embora gradualmente. Mas deixar as forças afegãs prontas em um ano me parece um pouco difícil. De qualquer maneira, melhoras só surgirão quando houver maior enfoque no desenvolvimento do Afeganistão. A perspectiva agressiva sozinha não dá certo. As pessoas precisam sentir que têm um Estado no qual podem confiar.

FOLHA - O que a sra. responde ao vice-presidente americano, Joe Biden, que dias atrás se disse mais preocupado com o Paquistão do que com Afeganistão ou Irã?
MAHMOOD - Sempre dissemos aos americanos que o problema é o Afeganistão, não o Paquistão. Eles têm que resolver o que acontece por lá e parar de empurrar o problema para o nosso lado e nos culpar. Às vezes eles parecem entender isso, e às vezes fazem declarações erradas.

FOLHA - Mas a fronteira comum permeável torna indissociáveis os problemas afegão e paquistanês.
MAHMOOD - A fronteira é um assunto muito difícil. É uma região montanhosa, árida, pobre, com demarcação pouco clara dos limites de cada território.
Há famílias e clãs espalhados pelos dois lados, e essa gente tem contato, se visita. Cerca de 40 mil pessoas atravessam diariamente a fronteira. Não há soluções milagrosas. O fato é que o Paquistão sempre se ofereceu para treinar as forças armadas e a polícia afegã. Também podemos dar bolsas de estudo e ajudar o país a se desenvolver. Se o nosso vizinho não estiver em paz, nós também não estaremos. Cada vez mais americanos defendem a ideia de conversas com o Taleban.

FOLHA - A sra. está dizendo que é preciso dialogar com o Taleban?
MAHMOOD - Sim, é algo que há anos colocamos em discussão. Não nos davam ouvidos, e agora as pessoas estão começando a entender que a solução inclui alguns elementos contra quem se combateu.

FOLHA - Os EUA dizem que o Paquistão não está se empenhando o suficiente para acabar com os radicais em seu próprio território.
MAHMOOD - É fácil falar a distância. Desde que entramos nesse período de guerra, o custo para nossa economia foi de US$ 35 bilhões. Perdemos em combate mais de 5.000 homens das Forças Armadas. Quem diz que não estamos fazendo o bastante não enxerga as coisas.

FOLHA - Os EUA poderiam fazer mais pelo Paquistão?
MAHMOOD - Claro. Deveriam ao menos reembolsar o que nos devem em despesas logísticas e militares. Há, ainda, o novo pacote de ajuda prometido no ano passado. Sabemos que está tramitando no Congresso, mas até agora não vimos o dinheiro.


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