São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 1998

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TURISMO
Fluxo de turistas cresce no país, conhecido por receber mal os estrangeiros; governo ensina a tratar bem visitantes
França luta contra fama de mal-educada

MARIANE COMPARATO
de Paris

Não estranhe se, ao tentar decifrar o mapa de alguma cidade na França, algum francês vier ao seu socorro. Essa cena está ficando cada vez mais comum.
Ciente da fama de mal-educados que têm os franceses, a Secretaria do Turismo do país lançou há quatro anos a campanha "Bonjour" (bom-dia), que visa ensinar aos franceses como receber bem os turistas.
É verdade que o inglês nem sempre está afiadíssimo, mas não é mais preciso insistir com o garçom para que ele traduza os pratos do cardápio do restaurante.
O responsável pela campanha, Jean-Charles Petitpierre, concorda: "Conseguimos sensibilizar os profissionais do turismo. Todos perceberam uma melhora da qualidade dos serviços e da recepção".
O profissional assina um contrato com a secretaria, no qual se compromete a seguir corretamente a cartilha em troca de maior divulgação do estabelecimento.
O texto é tão didático que algumas obrigações parecem óbvias. Alguns exemplos: "Devo prestar atenção no que o meu interlocutor diz", "Peço desculpas em caso de falta de informações, mesmo se a culpa não for minha", "Mantenho um tom cortês, mesmo se me sentir agredido".
"Acho triste que o governo seja obrigado a fazer uma campanha para educação dos profissionais do turismo. Deveria ser lógico receber bem os estrangeiros", disse a hoteleira Corinne Maes-Place.
Fidelidade
O estabelecimento de Corinne, o Victoria-Châtelet, é um exemplo de cortesia: "Ainda recebo clientes que se hospedaram aqui quando minha mãe dirigia o hotel".
Outra vantagem, pelo menos para os brasileiros, é que Corinne fala fluentemente português. Apaixonou-se pelo Brasil ao engatar um namoro com um brasileiro. Segundo ela, o atendimento que dá é o que gostaria de encontrar quando viaja para fora.
Alguns clientes são famosos: o músico Jacques Morelembaum ficou hospedado no hotel durante uma turnê de Caetano Veloso na Europa, em 1996. "No ano seguinte ele voltou com a família toda e ainda pediu para ficar no mesmo quarto", conta Corinne.
Números crescentes
A eficiência da campanha permitiu que o número de turistas, estagnado em 94, aumentasse. De 96 para 97, a França recebeu 8% a mais de turistas estrangeiros, 67 milhões ao todo, segundo dados da secretaria do turismo. "Esperamos um aumento de pelo menos 10% para este ano. A mentalidade está mudando", diz Petitpierre.
A estudante brasileira Rafaela Veríssimo nem bem chegou à França e sentiu a diferença. No aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, pegou sua bagagem e resolveu ir até a cidade com o RER (metrô rápido). "Só durante esse trajeto, nada menos que três franceses vieram perguntar se eu não queria alguma ajuda", conta. "E olha que eu estava com a maior cara de turista, cheia de mala."



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