São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Alvo dos ataques terroristas foi o bem protegido porto de Ashdod

Duplo atentado mata 10 em Israel

DA REDAÇÃO

Um duplo atentado suicida matou ontem dez israelenses no porto de Ashdod, o segundo mais movimentado de Israel. Essa foi a primeira ação terrorista desde a eclosão da Intifada (levante palestino), em setembro de 2000, que teve como alvo uma instalação estratégica de Israel, elevando os temores de que as ações dos grupos palestinos se tornassem mais sofisticadas a partir de agora.
Horas antes, o Exército de Israel matara três integrantes do Hamas perto do assentamento judaico de Netzarim (faixa de Gaza).
Após o duplo atentado, o premiê israelense, Ariel Sharon, cancelou um encontro que teria amanhã com o premiê palestino, Ahmed Korei. A ANP (Autoridade Nacional Palestina) condenou o atentado, mas lamentou o cancelamento da reunião.
Os grupos terroristas Hamas e Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, ligadas ao Fatah (grupo político de Korei e do presidente da ANP, Iasser Arafat), reivindicaram conjuntamente o atentado em comunicado enviado à rede de TV libanesa Al Manar, que pertence ao grupo extremista Hizbollah.
Para o analista militar israelense Zeev Shiff, do diário "Haaretz", essa cooperação entre o Hamas e o Fatah (Brigadas de Al Aqsa) começou há algumas semanas e está se solidificando.
O primeiro dos terroristas se explodiu na entrada do portão principal do porto às 17h, quando muitos funcionários deixavam o porto -domingo é dia útil em Israel. O segundo conseguiu entrar nas instalações do porto, onde detonou os explosivos presos a seu corpo alguns minutos depois.
Ao menos 20 pessoas ficaram feridas no duplo atentado.
O chefe de polícia da região sul de Israel, Moshe Karadi, disse que os suicidas utilizaram um tipo de explosivo diferente do usado normalmente em atentados. Ele suspeita ainda que os terroristas tivessem como alvo tanques com agentes químicos. Caso esses locais fossem atingidos, o número de vítimas seria bem maior, disse.
Abu Qusay, chefe das Brigadas dos Mártires de Al Aqsa em Gaza, disse que os atentados de ontem servem para mostrar "que nós podemos atingir Israel em qualquer lugar, mesmo nos lugares mais bem protegidos, como um porto ou um aeroporto".
Nos atentados de ontem, os suicidas eram originários da faixa de Gaza. Nas outras ações cometidas durante a Intifada, os terroristas eram provenientes da Cisjordânia. A única exceção foi em um ataque em um bar em Tel Aviv no ano passado. Porém os terroristas eram militantes islâmicos britânicos, não palestinos.
Nagib Massoud, 17, e Mahmoud Salem, 17 -os suicidas de ontem-, eram colegas em um colégio no campo de refugiados de Jabaliya. Seus pais disseram ontem estar orgulhosos dos filhos. Os ataques foram comemorados nas ruas da faixa de Gaza.
Não está claro como os dois terroristas conseguiram entrar em Israel, já que a faixa de Gaza é inteiramente cercada.
Há três possibilidades: eles podem ter penetrado por meio de alguma falha na cerca; podem ter atravessado por meio de um túnel no campo de refugiados de Rafah para o Sinai (Egito) e de lá para o Negev em Israel; existe ainda a possibilidade de eles terem chegado de barco. Ashdod se localiza a apenas 40 km da faixa de Gaza.
A ação de ontem trouxe à tona mais uma vez a discussão sobre o plano de Sharon de remover unilateralmente a maior parte dos assentamentos na faixa de Gaza.
Analistas afirmam que os grupos terroristas podem tentar intensificar as ações contra Israel com objetivo de mostrar que os israelenses estariam deixando a região após uma derrota militar, o que os fortaleceria dentro dos territórios palestinos.


Com agências internacionais


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