São Paulo, quinta-feira, 15 de março de 2007

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Vaticano censura teólogo salvadorenho

Obra de Jon Sobrino, um dos patriarcas da teologia da libertação, foi criticada por retratar um Jesus "muito histórico"

Jesuíta, que nos anos 80 escapou de massacre de agentes do governo salvadorenho, recebeu anúncio com "serenidade"

DA REDAÇÃO

O Vaticano tornou pública ontem uma advertência ao padre salvadorenho Jon Sobrino, jesuíta e um dos pioneiros da teologia da libertação -teoria que embasou a esquerda católica e cujo principal expoente no Brasil é Leonardo Boff.
O documento expedido pela Congregação para a Doutrina da Fé, dicastério que se originou do Santo Ofício e que era presidido pelo cardeal Ratzinger antes de ele se tornar o papa Bento 16, contém a conclusão da análise de duas obras teológicas de Sobrino, que nasceu na Espanha e é naturalizado salvadorenho. Segundo o texto, os livros "Jesuscristo Liberador -Lectura histórico-teológica de Jesus de Nazaret" (Jesus Cristo libertador - leitura histórico-teológica de Jesus de Nazaré) e "La Fe en Jesucristo" (a fé em Jesus Cristo) distanciam-se da fé católica. O texto afirma ainda que o conteúdo das obras pode ser perigoso para os fiéis.
Entre as críticas específicas aos escritos de Sobrino estão, sempre segundo o documento da Santa Sé, a tendência de "diminuir o valor (...) da divindade de Jesus Cristo" e uma valorização em demasia "do componente histórico da figura de Jesus, separando-a de sua dimensão divina". A advertência, no entanto, afirma que há um valor nas "preocupações do autor com os pobres".
Segundo o também jesuíta José María Tojeira, reitor da Universidade Centro-Americana de San Salvador, Sobrino recebeu a notificação com "serenidade e tranqüilidade" e está refletindo sobre ela.
Sobrino "é um dos teólogos mais sérios, mais evangélicos (...) e mais santos que temos", afirmou Leonardo Boff à agência de notícias France Presse.
Boff lembrou que Sobrino sobreviveu a uma chacina perpetrada por agentes do governo direitista de El Salvador, em 1989. Seis de seus companheiros jesuítas foram mortos.
Segundo contou ao "Corriere della Sera" o padre Italiano Federico Lombardi, diretor de Imprensa do Vaticano, "Sobrino é um homem que viu de perto a experiência dramática de seu povo, por isso desenvolveu uma "cristologia de baixo" e cultivou uma sintonia espiritual profunda com a humanidade de Cristo". Mas observa que isso "não deve chegar ao ponto de deixar de lado ou desvalorizar a dimensão que une Cristo a Deus".
Segundo o teólogo Fernando Altemeyer, ouvidor da PUC-SP, o principal das críticas do Vaticano é quanto a uma concepção de Cristo que o "desmitologiza". Sobrino insiste, diz Altemeyer, que o qualifica de "teólogo requintado", que na América Latina deve se partir do Jesus histórico para chegar no divino, e não o contrário. É uma diferença de concepção, em parte devido às particularidades da cultura européia e da cultura latino-americana.


Com agências internacionais


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