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Vaticano censura teólogo salvadorenho
Obra de Jon Sobrino, um dos patriarcas da teologia da libertação, foi criticada por retratar um Jesus "muito histórico"
Jesuíta, que nos anos 80 escapou de massacre de agentes do governo salvadorenho, recebeu anúncio com "serenidade"
DA REDAÇÃO
O Vaticano tornou pública
ontem uma advertência ao padre salvadorenho Jon Sobrino,
jesuíta e um dos pioneiros da
teologia da libertação -teoria
que embasou a esquerda católica e cujo principal expoente no
Brasil é Leonardo Boff.
O documento expedido pela
Congregação para a Doutrina
da Fé, dicastério que se originou do Santo Ofício e que era
presidido pelo cardeal Ratzinger antes de ele se tornar o papa
Bento 16, contém a conclusão
da análise de duas obras teológicas de Sobrino, que nasceu na
Espanha e é naturalizado salvadorenho. Segundo o texto, os livros "Jesuscristo Liberador
-Lectura histórico-teológica de
Jesus de Nazaret" (Jesus Cristo
libertador - leitura histórico-teológica de Jesus de Nazaré) e
"La Fe en Jesucristo" (a fé em
Jesus Cristo) distanciam-se da
fé católica. O texto afirma ainda
que o conteúdo das obras pode
ser perigoso para os fiéis.
Entre as críticas específicas
aos escritos de Sobrino estão,
sempre segundo o documento
da Santa Sé, a tendência de "diminuir o valor (...) da divindade
de Jesus Cristo" e uma valorização em demasia "do componente histórico da figura de Jesus, separando-a de sua dimensão divina". A advertência, no
entanto, afirma que há um valor nas "preocupações do autor
com os pobres".
Segundo o também jesuíta
José María Tojeira, reitor da
Universidade Centro-Americana de San Salvador, Sobrino recebeu a notificação com "serenidade e tranqüilidade" e está
refletindo sobre ela.
Sobrino "é um dos teólogos
mais sérios, mais evangélicos
(...) e mais santos que temos",
afirmou Leonardo Boff à agência de notícias France Presse.
Boff lembrou que Sobrino sobreviveu a uma chacina perpetrada por agentes do governo
direitista de El Salvador, em
1989. Seis de seus companheiros jesuítas foram mortos.
Segundo contou ao "Corriere
della Sera" o padre Italiano Federico Lombardi, diretor de
Imprensa do Vaticano, "Sobrino é um homem que viu de perto a experiência dramática de
seu povo, por isso desenvolveu
uma "cristologia de baixo" e cultivou uma sintonia espiritual
profunda com a humanidade
de Cristo". Mas observa que isso "não deve chegar ao ponto de
deixar de lado ou desvalorizar a
dimensão que une Cristo a
Deus".
Segundo o teólogo Fernando
Altemeyer, ouvidor da PUC-SP,
o principal das críticas do Vaticano é quanto a uma concepção
de Cristo que o "desmitologiza". Sobrino insiste, diz Altemeyer, que o qualifica de "teólogo requintado", que na América Latina deve se partir do Jesus histórico para chegar no divino, e não o contrário. É uma
diferença de concepção, em
parte devido às particularidades da cultura européia e da
cultura latino-americana.
Com agências internacionais
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