São Paulo, sábado, 15 de março de 2008

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Jobim "venderá" conselho de defesa nos EUA

Ministro chega na terça a Washington para promover projeto do presidente Lula de orgão coordenado sul-americano

Ele se reúne com colega da Defesa e com Rice; estratégia é ter simpatia de Washington à proposta e participação de Caracas

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, chega a Washington na terça para uma visita de quatro dias. Um dos objetivos é reforçar junto ao governo Bush a necessidade da criação de um conselho de segurança da América do Sul e obter apoio à iniciativa. O brasileiro será recebido por seu colega norte-americano, o secretário da Defesa Robert Gates, e pela secretária de Estado, Condoleezza Rice.
Em 14 de abril, Jobim deve visitar Caracas, onde fará o mesmo com o venezuelano Hugo Chávez. Ambas as viagens acontecem como parte do plano do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de criação do Conselho Regional de Defesa, proposto por ele no dia 4 de março último, após a crise gerada pela operação militar colombiana no Equador.
Agora, Jobim testará as águas no Pentágono -os EUA não fariam parte do conselho, mas o fato de não oferecerem oposição a ele ajudaria o Brasil a ganhar a simpatia de aliados do país, como a Colômbia. Para tanto, o ministro da Defesa falará não só com Gates e Rice, mas também fará palestras à comunidade de defesa local.
Então, fará o mesmo com Hugo Chávez. Com o apoio dos dois principais antagonistas do continente, o Itamaraty crê que a aceitação da idéia pelos demais países será mais fácil.
Jobim afirmou ontem, no Rio de Janeiro, já ter conversado preliminarmente com os ministros da Argentina e do Chile sobre o conselho. Rejeitou o rótulo de "Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) do Sul": "Queremos a formação de um grande plano de defesa coincidente, para o continente".
Sobre as declarações de Rice de que os países devem cuidar de suas fronteiras de modo a evitar que escondam terroristas, Jobim disse que o Brasil "não tem problemas de fronteira". "Nossa grande fronteira é a Amazônia, que está toda monitorada", afirmou.

Sondagem com Rice
Lula tocou no tema em reunião com Rice na quinta-feira, em Brasília. Para ele, o Brasil poderia ser o representante de tal mecanismo junto ao Conselho de Segurança da ONU.
Se a criação da nova entidade contou com a simpatia da chefe da diplomacia americana, a representação na ONU não teve a mesma receptividade. À imprensa ela diria que não vê problemas na criação do conselho e que estava contando com a liderança brasileira.
Mas defendeu a Organização dos Estados Americanos (OEA) como um fórum natural para esse tipo de discussões. "Obviamente, a OEA é um meio hemisférico de coordenação", disse, referindo-se ao organismo regional com forte influência dos EUA. O país banca cerca de 60% do orçamento da entidade, com sede em Washington.
O Brasil joga com o temor nos EUA do que o país chama de corrida armamentista venezuelana na América do Sul. A preocupação foi o assunto principal do depoimento do comandante-em-chefe do Comando Sul (Southcom, na sigla em inglês) ao comitê das Forças Armadas da Câmara dos Representantes, na quinta-feira.
Depois de afirmar que a resolução pacífica do conflito entre Colômbia e Equador foi "encorajadora", o responsável do Pentágono pela região diria ter "dificuldade em entender" por que o atual nível de armamento é necessário para a Venezuela. "Porque, como vimos, essa é uma região não-inclinada a ir à guerra, mas com capacidade de resolver pacificamente seus problemas", disse o almirante James Stavridis.


Coloborou a Sucursal do Rio


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