São Paulo, domingo, 15 de março de 2009

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Rezek vê pragmatismo; Lafer e Lampreia, risco

Ministros de FHC temem credibilidade solapada

DA REPORTAGEM LOCAL

Antecessores de Celso Amorim à frente da diplomacia brasileira, Celso Lafer (1998-2002) e Luiz Felipe Lampreia (1994-98) criticam a "incoerência" da atual política externa em direitos humanos, enquanto Francisco Rezek (1990-92) vê "análise séria dos problemas globais" por parte do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Os três ex-chanceleres consultados pela Folha só concordam num ponto: o Brasil tem longa tradição de cooperação com os organismos jurídicos internacionais.
Mas os dois ministros do governo de Fernando Henrique Cardoso acreditam que as posições hoje defendidas pelo Itamaraty, como a suposta anuência em relação às violações dos direitos humanos cometidas pelo governo sudanês, ameaçam a credibilidade do Brasil.
"Há oportunidades em que conversas bilaterais podem ser mais úteis do que condenações multilaterais, mas é lamentável a benevolência do governo brasileiro em relação ao Sudão, um caso alucinante de violação dos direitos humanos", diz Lafer.
"Não entendo a boa vontade e compreensão com certos países e a posição inflexível em relação a Israel", questiona o ex-ministro, que cita também uma suposta complacência de Lula com a China, "em nome dos interesses econômicos".
Concorda Lampreia, que acusa o governo brasileiro de atropelar a prevalência pelos direitos humanos estipulada na Constituição em nome da campanha por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU -críticas a Cartum diminuiriam o apoio de países árabes e africanos.
"O caso do Sudão é escandaloso e mostra que o política de direitos humanos está subordinada a esse objetivo", diz.
O ex-ministro concorda, no entanto, em que o Brasil está longe de ser o único país a seguir na prática uma política diferente daquela que prega.
Chanceler nos dois primeiros anos do governo de Fernando Collor, Francisco Rezek diz que "houve [na atual gestão do Itamaraty] gafes e coisas que poderiam ter sido ditas ou caladas", em relação a Cuba e China, por exemplo.
Mas Rezek elogia o governo Lula por "saber o que é importante e o que não é".
O ex-ministro afirma que endossar críticas ao Sudão e à China acabaria servindo aos interesses das potências ocidentais, que tentam, segundo ele, "apontar para ditadores periféricos para desviar o foco dos problemas reais, como Iraque e Palestina".
"As posições brasileiras são sempre ponderadas. Independe de governo, está na marca genética de nossas gestões, que nunca deram resultado negativo", diz. (SAMY ADGHIRNI)


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