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Rezek vê pragmatismo; Lafer e Lampreia, risco
Ministros de FHC temem credibilidade solapada
DA REPORTAGEM LOCAL
Antecessores de Celso Amorim à frente da diplomacia brasileira, Celso Lafer (1998-2002) e Luiz Felipe Lampreia
(1994-98) criticam a "incoerência" da atual política externa
em direitos humanos, enquanto Francisco Rezek (1990-92)
vê "análise séria dos problemas
globais" por parte do governo
Luiz Inácio Lula da Silva.
Os três ex-chanceleres consultados pela Folha só concordam num ponto: o Brasil tem
longa tradição de cooperação
com os organismos jurídicos
internacionais.
Mas os dois ministros do governo de Fernando Henrique
Cardoso acreditam que as posições hoje defendidas pelo Itamaraty, como a suposta anuência em relação às violações dos
direitos humanos cometidas
pelo governo sudanês, ameaçam a credibilidade do Brasil.
"Há oportunidades em que
conversas bilaterais podem ser
mais úteis do que condenações
multilaterais, mas é lamentável
a benevolência do governo brasileiro em relação ao Sudão, um
caso alucinante de violação dos
direitos humanos", diz Lafer.
"Não entendo a boa vontade
e compreensão com certos países e a posição inflexível em relação a Israel", questiona o ex-ministro, que cita também uma
suposta complacência de Lula
com a China, "em nome dos interesses econômicos".
Concorda Lampreia, que
acusa o governo brasileiro de
atropelar a prevalência pelos
direitos humanos estipulada
na Constituição em nome da
campanha por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU -críticas a Cartum diminuiriam o apoio de
países árabes e africanos.
"O caso do Sudão é escandaloso e mostra que o política de
direitos humanos está subordinada a esse objetivo", diz.
O ex-ministro concorda, no
entanto, em que o Brasil está
longe de ser o único país a seguir na prática uma política diferente daquela que prega.
Chanceler nos dois primeiros anos do governo de Fernando Collor, Francisco Rezek
diz que "houve [na atual gestão
do Itamaraty] gafes e coisas
que poderiam ter sido ditas ou
caladas", em relação a Cuba e
China, por exemplo.
Mas Rezek elogia o governo
Lula por "saber o que é importante e o que não é".
O ex-ministro afirma que endossar críticas ao Sudão e à
China acabaria servindo aos interesses das potências ocidentais, que tentam, segundo ele,
"apontar para ditadores periféricos para desviar o foco dos
problemas reais, como Iraque e
Palestina".
"As posições brasileiras são
sempre ponderadas. Independe de governo, está na marca
genética de nossas gestões, que
nunca deram resultado negativo", diz.
(SAMY ADGHIRNI)
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