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Pequim quer criar "CNN chinesa"
Governo chinês investe US$ 7 bilhões em canal internacional em inglês para divulgar ao mundo sua visão das notícias
Estatal CCTV já tem canais em espanhol e em francês e prepara canais em árabe e em russo; consultor admite déficit em imparcialidade
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O governo chinês quer lançar
até o final deste ano um canal
de televisão com 24 horas de
notícias para apresentar "a voz
chinesa ao mundo".
Tratada como segredo de Estado, a chamada "CNN chinesa" faz parte de um plano de
US$ 7 bilhões que prevê, além
do canal, o dobro de escritórios
internacionais para a agência
estatal Xinhua (chegará a 200)
e um novo diário em inglês.
Nas últimas três semanas,
jornais americanos têm publicado anúncios da futura "CNN
chinesa" buscando candidatos
a vagas. "Inglês nativo, habilidade de repórter, boa saúde,
disponibilidade para viajar
muito e trabalhar longas jornadas, salário competitivo", diz
um dos anúncios.
Estima-se que pelo menos
cem jornalistas americanos,
britânicos e australianos participem da empreitada, principalmente frente às câmeras,
junto a jornalistas chineses que
tenham vivido muitos anos no
exterior.
O projeto bilionário faz parte
de uma política do presidente
chinês, Hu Jintao, que disse há
dois anos que "a voz da China
deve ser mais bem ouvida em
assuntos internacionais". A rede estatal CCTV lançou em
2008 canais em espanhol e
francês e lançará no segundo
semestre de 2009 canais em
árabe e russo.
A primeira ação internacional da CCTV foi com seu canal
em inglês, criado em 2000.
"A força da nossa voz não se
compara com nossa posição no
mundo", diz Yu Guoming, vice-diretor da Faculdade de Jornalismo da Universidade Popular
de Pequim, um dos consultores
da "CNN chinesa".
"Até agora tivemos resultados ruins, admito, pois nossos
canais não alcançam o desejo
de equilíbrio que é demandado
pela audiência ocidental."
Com 10 mil funcionários e
uma nova sede orçada em US$ 1
bilhão, a CCTV tem sido criticada em público por manipular
as notícias e pela baixa qualidade de sua produção.
"É natural que uma potência
global em alta aspire a aumentar seu "soft power" [poder de
influência] com maior voz na
arena internacional", diz o pesquisador francês Nicholas Bequelin, de Hong Kong.
"A diferença é que o governo
chinês e o Partido Comunista
ainda exercem forte controle
das notícias e informação. Será
que o canal pode competir com
CNN e BBC? Ou sua busca pela
audiência internacional pode
levar as regras de censura a começarem a ser mais relaxadas?", pergunta.
Censura e credibilidade
Em tempos de crise na mídia
comercial em diversos países
ocidentais, TVs e jornais em inglês mantidos por ditaduras
com ambições globais vivem
um inesperado auge.
O Irã lançou nos últimos dois
anos três diferentes canais de
televisão, dois em árabe e um
em inglês, a PressTV, com noticiário seguindo os pontos de
vista de Teerã, mas com a linguagem televisiva da CNN.
A agência estatal chinesa de
notícias, Xinhua, que já conta
com cem escritórios internacionais, tem planos de expansão para chegar até 186 representações no exterior até 2010.
O jornal "Global Times",
mantido pelo Partido Comunista chinês e que se especializa
em política internacional, vai
lançar sua edição em inglês no
mês que vem.
Com 1,1 milhão de exemplares diários, a versão original
chinesa é a mais agressiva e nacionalista voz da imprensa chinesa. O que pode mudar na versão para o inglês para atrair
uma audiência internacional?
A Folha conversou com dois
jornalistas envolvidos nos projetos. Eles ainda não sabem se a
liberdade editorial será maior.
Um deles compara com a célebre emissora do Catar.
"Apesar do ponto de vista
muçulmano, a Al Jazeera, por
exemplo, sempre entrevista israelenses, mesmo que os apresentadores sejam duros com
eles. Não dá para imaginar que
aqui se permita entrevistar
quem defenda a independência
do Tibete."
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