São Paulo, terça-feira, 15 de março de 2011

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Cenário apocalíptico marca as cidades na região da usina

Entorno de Fukushima tem ruas desertas e empoeiradas, trens abandonados, casas devastadas e abrigos lotados

Em Iwaki, único prédio movimentado é escola que abriga 1.400, 700 dos quais idosos; ajuda tem boa organização

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À PROVÍNCIA

DE FUKUSHIMA (JAPÃO)

Ameaçadas pela usina nuclear Fukushima 1, as cidades vizinhas ficaram praticamente desertas ontem após a orientação para os moradores permanecerem em casa.
Trens de passageiros abandonados no meio dos trilhos, casas devastadas pelo tsunami e ruas comerciais vazias e empoeiradas da lama já seca compunham um cenário apocalíptico.
Na cidade de Iwaki, onde 38 pessoas morreram por causa do tsunami, quase nenhum dos cerca de 350 mil moradores estava à vista.
A falta de luz em várias partes da cidade tornava difícil saber se eles deixaram o local ou se apenas obedeciam às recomendações do governo.
O único prédio movimentado era a escola de ensino fundamental que serve de abrigo para cerca de 1.400 desabrigados, divididos entre os que perderam a casa para o terremoto ou para o tsunami e os que moram perto da usina nuclear, que fica a apenas 30 km dali.
Vizinho da usina, o motorista de caminhão Ryo Takahashi, 31, deixou a casa no sábado com a mulher, a filha e os sogros. A previsão inicial de uma semana no abrigo se tornou sem prazo ontem de manhã, após nova explosão na usina nuclear.
"Tenho de acreditar nas informações do governo", disse Takahashi, ao ser questionado se ele se considera fora do alcance da radiação. "As pessoas do abrigo me transmitem segurança, não estou sozinho, mas no fundo isso não quer dizer nada."
Ao todo, o governo japonês retirou 210 mil pessoas de um raio de 20 km da usina. Somente em Iwaki, há oito abrigos, todos eles com capacidade parecida.
No imenso ginásio de esporte onde as famílias dormem, chama a atenção a presença de muitos idosos, reflexo da grande população japonesa acima dos 65 anos -22,9% do total. Para comparar: no Brasil, esse porcentual é de 6,7%.
Cerca de metade dos desabrigados é idosa, segundo a funcionária da prefeitura Yaoi Matsumoto, uma das coordenadores do abrigo.
Ela explica que há quatro salas apenas com idosos transferidos de dois asilos vizinhos à usina. Uma de suas funções é cuidar dos idosos desacompanhados.
"Temos de tratar muito bem as pessoas, sempre sorrir. Tenho uma imensa gratidão pelos vizinhos e ONGs que têm doado água e brinquedos", afirma Matsumoto. "Na verdade, eu sinto vontade de chorar, mas me seguro", acrescenta.
A ajuda, administrada por funcionários da prefeitura local, parece bastante organizada. Ontem à noite, chegou um carregamento de guarda-chuvas, por causa da previsão de chuva para hoje.
Os desabrigados dormem em colchões finos e dispõem de cobertores para enfrentar as noites frias e sem calefação. A impressão de limpeza é reforçada pela ausência de mau cheiro, apesar de haver algumas centenas de pessoas no mesmo local.
Mas a comida mostra um pouco de precariedade: o jantar consistia apenas em uma porção de arroz e uma garrafa de água.

Com ROBERTO MAXWELL


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