Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
UMA ANÁLISE ISRAELENSE
"Porta ainda está aberta a palestinos"
DA REPORTAGEM LOCAL
Jornalista do diário israelense
"Haaretz" e biógrafo de Ariel Sharon, Uzi Benziman diz que George W. Bush e o premiê israelense
tomaram as precauções verbais
necessárias para não fechar as
portas aos palestinos.
Mesmo assim, eles reagirão ao
fato de os EUA apoiarem a preservação dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e também
endossarem o projeto de Sharon
quanto aos refugiados, que perderiam o direito de retorno ao que é
hoje Israel e precisariam ser abrigados num futuro Estado palestino. Benziman acha ainda que
Bush pode ter ajudado Sharon a
não ser indiciado por corrupção.
(JBN)
Folha - O fato de Bush ter endossado os planos de Sharon fortaleceria o premiê no referendo que fará
em seu partido sobre seu plano de
saída de Gaza?
Uzi Benziman - Ninguém tem
certeza quanto ao resultado dessa
consulta no Likud, mas creio que
as chances de Sharon cresceram.
Mesmo assim, a oposição a ele
dentro do partido não ficará de
braços cruzados. Ela se opõe à saída de Gaza.
Folha - Sharon estava isolado
com relação a esse aspecto e também quanto à manutenção das colônias na Cisjordânia. Não mais?
Benziman - Foi essa justamente a
intenção que estava por detrás da
viagem dele a Washington. Creio
também que Bush se dispôs a tirar
Sharon da situação embaraçosa
de poder ser desautorizado por
seu próprio partido.
Folha - Como a retirada de Gaza é
vista em Israel?
Benziman - Para setores israelenses, o abandono de assentamentos em Gaza é algo de extrema gravidade. É algo que não será
facilmente aceito. O fato é que
Bush ajudou a vencer as resistências dentro do Likud.
Folha - E os palestinos?
Benziman - Devemos ler muito
cuidadosamente o que Bush e
Sharon disseram. Suponho que os
assessores da Casa Branca não
poderiam ignorar as imediatas
reações no mundo árabe. É então
possível que a formulação do comunicado tenha sido bastante habilidosa para não melindrar o outro lado. Os palestinos não foram
colocados diante de um impasse.
Eles podem evocar o comunicado
como posição a partir da qual poderiam negociar.
Folha - Mesmo assim não dá para
esconder que Israel tem a partir de
agora "costas quentes" da maior
potência global para manter seus
colonos na Cisjordânia.
Benziman - Os palestinos não ficarão felizes com essa parte do
documento. Mas creio também
que o presidente Bush e seus assessores não fechariam as portas.
Uma das interpretações possíveis
é de que há espaço ainda para
muitas negociações.
Folha - Bush qualificou o plano de
Sharon de "histórico".
Benziman - Não é bem isso que
deixará os palestinos com raiva.
Eles ficarão enraivecidos com a
questão dos refugiados e, sobretudo, com o direito que Bush reconheceu a Israel de anexar parte
da Cisjordânia.
Folha - Até que ponto o sucesso
de Sharon em Washington criaria
um ambiente favorável para que
ele não seja indiciado por suspeita
de corrupção?
Benziman - Teoricamente, política e Justiça não se misturam.
Dentro de cerca de duas semanas
o procurador-geral de Israel dirá
se aceita ou não o indiciamento
do premiê por corrupção. Mas esse ambiente psicológico poderá
influenciar a decisão do procurador-geral.
Texto Anterior: Uma análise palestina: "EUA deram sinal verde à anexação" Próximo Texto: Guerra sem limites: CIA admite despreparo contra terror Índice
|