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Pressão internacional sobre Cuba não resolve, afirma Marco Aurélio
DA REDAÇÃO
Marco Aurélio Garcia, assessor
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva para assuntos internacionais, falou à Folha sobre direitos
humanos em Cuba.
(FM)
Folha - Por que o governo decidiu
repetir o voto e se abster na Comissão de Direitos Humanos da ONU
em relação a Cuba?
Marco Aurélio Garcia - Não há
nenhum fato novo que nos aconselhe a mudar o voto com relação
ao ano passado.
Folha - Cuba recusou a entrada da
enviada especial da ONU.
Garcia - Esse problema já estava
colocado anteriormente. O fundamento do voto brasileiro você
sabe qual é. [A resolução anti-Cuba] é um ato que tende a isolar o
caso cubano, politizá-lo unilateralmente, e tem se revelado absolutamente ineficaz, só contribui
para o isolamento de Cuba. Não
acreditamos que o melhor sistema que existe para resolver os
problemas do país de um modo
geral seja tentar isolá-lo internacionalmente por meio de sanções.
Folha - Em setembro, Lula visitou
Cuba, onde, conversou com Fidel
sobre as prisões políticas. Houve
algum resultado dessa conversa?
Garcia - Eu tenho a impressão de
que as coisas estão caminhando.
Agora, isso não nos cabe... Nesse
tipo de iniciativa, nesse tipo de
conversa, quanto menos ruído se
fizer, melhor. Nós entendemos
muito bem que Cuba, como qualquer outro país, queira preservar
sua soberania nacional. Não nos
parece que o sistema de pressões
internacionais seja um bom sistema. No ano passado, nós fizemos
uma observação na declaração de
voto lamentando as execuções
etc., mas acreditamos que, na situação dos direitos humanos, tenha havido um progresso.
Folha - O sr. poderia ser mais específico com respeito ao "estão caminhando"?
Garcia - Não, não... Evidentemente, não posso ser mais específico. Acho que nós vamos ter bons
resultados, seja na votação seja na
solução do problema.
Folha - Mas o Brasil reconhece
que há repressão em Cuba?
Garcia -Não, o Brasil não reconhece. Cuba tem condenações feitas em tribunais, você pode dizer
que as condenações são severas,
não são severas, isso é outra coisa.
É a mesma coisa que você dizer,
em outros países do mundo, que
há repressão porque há condenações que você possa considerar
severas. Mas não reconhecemos
nem deixamos de reconhecer.
Não opinamos sobre o assunto.
Folha - O governo tem várias pessoas com ligações pessoais com Cuba. Qual é o peso disso?
Garcia - Nenhum. A posição brasileira é a mesma que atravessou
todo o governo FHC. Não estamos votando contra a moção, estamos nos abstendo dessa votação por razões que constam no
voto do ano passado e que seguramente serão reiteradas neste ano.
Folha - Mas não é um fato novo a
prisão de 75 dissidentes com relação ao governo FHC?
Garcia -Não, já tinha havido processos durante o governo FHC.
Não quero ser mais explícito: se
formos adotar o critério de problemas de direitos humanos, você
sabe onde vamos parar.
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