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análise
Hora de decidir em um país machucado
DO ENVIADO ESPECIAL A ROMA
Mario Cervi, principal colunista de "Il Giornale", o
jornal da família Berlusconi,
escreve, na capa de ontem, o
que se espera do novo governo italiano: "Espera-se que o
novo governo decida".
Em qualquer outro país,
seria de uma obviedade escandalosa, indigna do mais
remoto canto de qualquer
página e, portanto, muito
mais ainda da primeira página. Na Itália, não. Os governos, com escassas exceções,
decidem sempre não decidir.
Ficam paralisados ou pelas
disputas internas em coligações heterogêneas e fragmentadas ou pelo poder de
veto de outros atores, entre
eles os sindicatos (patronais
ou de assalariados).
O exemplo óbvio -apenas
o mais recente- é o da Alitalia, a companhia aérea estatal, que perde 1 milhão de euros por dia, mas, mesmo assim, os sindicatos de trabalhadores vetam sua venda.
Aliás, a Alitalia será o primeiro ponto na agenda de Berlusconi: terá que decidir se
volta a negociar com a Air
France, que já fez seu lance,
ou se monta um grupo italiano para comprá-la (promessa de campanha).
Mas o grande desafio para
Berlusconi tem a ver muito
mais com a alma do que com
o bolso da Itália. O país vive
uma tremenda crise de auto-estima, medida em todas as
pesquisas, e precisa de uma
formidável injeção de ânimo.
Berlusconi é o homem certo para aplicá-la? Não, a julgar pelos resultados de seu
governo anterior, assim avaliado por Geoff Andrews, do
"openDemocracy", grupo liberal: "A economia da Itália
sofreu rápido declínio durante o segundo período de
Berlusconi no cargo, entre
2001 e 2006", diz texto colocado ontem na internet.
O declínio econômico é o
nervo exposto da Itália, com
as inevitáveis seqüelas de
queda da renda, aumento
dos pobres e, agora, parte de
um fenômeno mundial, uma
inflação acelerada. Em março, os preços subiram 3,3%
na comparação com o mesmo mês de 2007, no que é a
maior alta em 12 anos.
O receituário de Berlusconi para a crise é o usual: cortar impostos. Não o fez em
suas gestões anteriores. Tudo somado, entende-se porque Mario Cervi pede que o
novo governo decida. Seria
insólito na Itália dos últimos
muitos anos.
(CR)
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