São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2008

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análise

Hora de decidir em um país machucado

DO ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Mario Cervi, principal colunista de "Il Giornale", o jornal da família Berlusconi, escreve, na capa de ontem, o que se espera do novo governo italiano: "Espera-se que o novo governo decida".
Em qualquer outro país, seria de uma obviedade escandalosa, indigna do mais remoto canto de qualquer página e, portanto, muito mais ainda da primeira página. Na Itália, não. Os governos, com escassas exceções, decidem sempre não decidir. Ficam paralisados ou pelas disputas internas em coligações heterogêneas e fragmentadas ou pelo poder de veto de outros atores, entre eles os sindicatos (patronais ou de assalariados).
O exemplo óbvio -apenas o mais recente- é o da Alitalia, a companhia aérea estatal, que perde 1 milhão de euros por dia, mas, mesmo assim, os sindicatos de trabalhadores vetam sua venda. Aliás, a Alitalia será o primeiro ponto na agenda de Berlusconi: terá que decidir se volta a negociar com a Air France, que já fez seu lance, ou se monta um grupo italiano para comprá-la (promessa de campanha).
Mas o grande desafio para Berlusconi tem a ver muito mais com a alma do que com o bolso da Itália. O país vive uma tremenda crise de auto-estima, medida em todas as pesquisas, e precisa de uma formidável injeção de ânimo.
Berlusconi é o homem certo para aplicá-la? Não, a julgar pelos resultados de seu governo anterior, assim avaliado por Geoff Andrews, do "openDemocracy", grupo liberal: "A economia da Itália sofreu rápido declínio durante o segundo período de Berlusconi no cargo, entre 2001 e 2006", diz texto colocado ontem na internet.
O declínio econômico é o nervo exposto da Itália, com as inevitáveis seqüelas de queda da renda, aumento dos pobres e, agora, parte de um fenômeno mundial, uma inflação acelerada. Em março, os preços subiram 3,3% na comparação com o mesmo mês de 2007, no que é a maior alta em 12 anos.
O receituário de Berlusconi para a crise é o usual: cortar impostos. Não o fez em suas gestões anteriores. Tudo somado, entende-se porque Mario Cervi pede que o novo governo decida. Seria insólito na Itália dos últimos muitos anos. (CR)


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