São Paulo, quarta-feira, 15 de abril de 2009

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EUA cogitam aceitar atividade nuclear do Irã

Proposta em discussão com europeus põe fim à exigência americana de que Teerã deixe de enriquecer urânio antes de começar diálogo

Medida visa atrair governo iraniano às negociações e rompe com política de Bush, considerada fracassada e "ridícula" por chefe da AIEA


DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES"

O governo Obama e aliados europeus preparam propostas ao Irã que derrubam a exigência dos EUA para que Teerã feche suas instalações nucleares no início das negociações sobre seu programa atômico, dizem autoridades ligadas ao debate.
A oferta -uma ruptura em relação ao governo Bush- pressionaria o Irã a abrir suas instalações nucleares gradativamente a inspeções. Mas também permitiria ao país manter seu programa por um período.
As propostas na mesa vão além da promessa do presidente Barack Obama durante a campanha eleitoral de abrir negociações com o Irã "sem condições prévias". Autoridades envolvidas na discussão disseram que a oferta visa atrair o Irã para conversações nucleares que Teerã vem rejeitando.
Uma revisão da política para o país ordenada por Obama ainda está em curso, e assessores do presidente dizem que não está claro por quanto tempo ele estaria disposto a permitir ao Irã produzir combustível. Mas, segundo autoridades europeias, em conversações com Obama e seus assessores concluiu-se que o Irã não aceitará o tipo de fechamento imediato de usinas que Bush exigia.
O objetivo final continua sendo, porém, o fim do enriquecimento de urânio pelo Irã, como preveem resoluções da ONU, declarou um representante de Washington. Mohamed El Baradei, diretor-geral da AIEA (agência atômica da ONU), cujos inspetores teriam papel-chave no processo, disse que os EUA não o consultaram sobre a tática. Mas fustigou a política de Bush.
"Foi uma abordagem ridícula. Eles pensavam que, se ameaçassem o suficiente, se enviassem [o ex-vice-presidente Dick] Cheney para agir como Darth Vader, os iranianos parariam", disse. "Se a meta era garantir que o Irã não teria conhecimento nem capacidade para produzir combustível nuclear, houve um fracasso total." Agora, afirmou, Obama não tem escolha senão aceitar que o Irã "já construiu 5.500 centrífugas", quase o suficiente para produzir urânio o bastante para fabricar duas bombas ao ano.
El Baradei argumenta que se deve deixar o Irã levar adiante uma capacidade pequena de enriquecer combustível nuclear, sob inspeção estreita, o suficiente para que Teerã não se sinta humilhada.
Em contraste, um funcionário do governo israelense afirmou que Obama tem até o fim deste ano para encerrar a produção de urânio no Irã. Depois desse ponto, disse, Israel pode reativar seu esforço para eliminar a usina de Natanz à força.

Tradução de CLARA ALLAIN


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