São Paulo, terça-feira, 15 de maio de 2007

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México vive explosão de violência em guerra à droga

Mil pessoas morreram em confrontos, ajustes de contas e assassinatos só em 2007

Presidente Felipe Calderón mandou 30 mil soldados a Estados onde o tráfico é mais forte; país discute plano de ajuda americana

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um alto funcionário da Procuradoria Geral da República, que trabalha com investigação do crime organizado, foi assassinado ontem, com um tiro no rosto, quando andava de carro na Cidade do México. No fim de semana, foi anunciado o seqüestro de dois jornalistas da rede de tevê Azteca em Monterrey, no norte do país.
Segundo estatísticas oficiais, entre janeiro e abril, mil pessoas morreram em crimes ligados ao narcotráfico, entre execuções, enfrentamentos e ajustes de contas. Em todo o ano passado, foram 2.100, e em 2005, 1.300. Uma emboscada organizada por traficantes matou cinco soldados na semana passada no Estado de Michoacán. A cabeça de um mecânico foi posta diante de um quartel em Veracruz, no golfo do México, com uma mensagem: "Vamos continuar a lutar contra as tropas federais".
Estimativas do governo americano apontam que 90% da cocaína que entra nos EUA sai do México. Mais de 80% das metanfetaminas que entram no mercado americano são produzidas ou distribuídas pelo país. Ao contrário do consumo de cocaína, estagnado, metanfetaminas como o ecstasy ou o cristal são produtos em ascensão no mercado das drogas.
Como 90% da cocaína nas ruas americanas é produzida na Colômbia, especialistas ouvidos pela Folha dizem que, com o fim dos grandes cartéis de Medellín e Cali, em meados dos anos 90, os grandes cartéis mexicanos assumiram o controle da distribuição da cocaína colombiana.
Simultaneamente à redução de homicídios e seqüestros na Colômbia, o México vive a explosão da violência.

De Giuliani à intervenção
Para reduzir a criminalidade, principalmente a relacionada com o narcotráfico, o México tem tentando de tudo. Um consórcio de grandes empresários junto com a prefeitura da Cidade do México contratou a consultoria do ex-prefeito nova-iorquino Rudolph Giuliani, responsável pelo programa Tolerância Zero, que levou à queda drástica da violência na metrópole americana nos anos 90.
Depois de ter garantia de que os narcotraficantes não seriam condenados à pena de morte, o presidente conservador Felipe Calderón extraditou quase 20 chefões da droga aos EUA.
Logo no início de seu governo, em dezembro passado, Calderón aumentou o salário dos militares e ordenou ações de combate ao narcotráfico em oito Estados do país. Trinta mil soldados continuam nessas operações, em conjunto com as polícias locais.
"O México é mais forte que um grupo de delinqüentes, por isso estamos empenhados nesse esforço", disse o presidente ontem. Para Calderón, o aumento da violência é a resposta às ações mais enérgicas do governo. Números oficiais do Exército mexicano dizem que foram destruídas em ações militares 670 toneladas de droga e 311 pistas de pouso clandestinas usadas pelos cartéis. Mais de 1.200 pessoas foram presas.
"Algumas cidades do país são controladas pelo narcotráfico há tempos, e os chefões têm influência há três décadas. Essa realidade fala de um vazio de autoridade durante muito tempo", disse à Folha o colunista do jornal "El Universal", da Cidade do México, Raymundo Riva Palacio. "Alguns lugares parecem sob estado de sítio, com vários abusos e atropelos dos direitos humanos."
Segundo o jornal americano "Dallas Morning News", Calderón negocia com o governo Bush a criação de uma versão mexicana do Plano Colômbia de combate ao narcotráfico.
Os americanos patrocinariam aparelhamento das forças mexicanas de combate às drogas e equipamentos para monitoramento de seu espaço aéreo. O governo mexicano não desmentiu a informação.

Ligações perigosas
Houve uma escalada na hierarquia de militares assassinados -o que mostra que a ousadia dos cartéis também aumentou. Na semana passada, quatro seguranças do governador do Estado do México, que circunda a capital, foram assassinados pelo crime organizado.
Fontes do governo ouvidas pela Folha dizem que a maior dificuldade é combater a corrupção dentro da força policial e do Exército. Só no governo anterior, 700 policiais foram expulsos e presos por vínculos com cartéis.
Em meados dos anos 90, o czar da luta antidroga do México, general José de Jesús Gutiérrez, foi preso apenas três meses depois de sua nomeação ao cargo. Ele havia recebido subornos e oferecido proteção ao chefe de um cartel.


Com agências internacionais


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