São Paulo, terça-feira, 15 de maio de 2007

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Após mortes, Paquistão faz greve contra Musharraf

Oposição defende magistrado que foi afastado da Suprema Corte pelo ditador

Manifestações deixaram 41 mortos no fim de semana; para adversários, ditador aliado aos EUA afastou juiz para continuar no poder

DA REDAÇÃO

Uma greve geral nas principais cidades do Paquistão marcou ontem os protestos contra o governo do ditador Pervez Musharraf. A paralisação, que atingiu cidades como Lahore e a capital, Islamabad, afetou principalmente Karachi, na Província de Sindh, onde no final de semana 41 pessoas morreram em confrontos entre oposicionistas e milícias pró-governo. Além disso, uma greve de advogados paralisa o sistema Judiciário paquistanês.
A fim de impedir mais manifestações, o governo da Província deu às forças policiais permissão para atirar.
A maior crise política recente do Paquistão começou de fato em março deste ano e foi ganhando corpo até culminar no derramamento de sangue de sábado e domingo, em Karachi.
No dia 9 de março, o ditador Pervez Musharraf afastou de suas funções, sob a acusação geral de abuso de poder, o presidente da Suprema Corte do Paquistão, Iftikhar Muhammad Chaudhry. O juiz, que entrou na Suprema Corte em junho de 2000, pouco mais de oito meses após o general Musharraf haver se tornado presidente por meio de um golpe de Estado, foi com o tempo se tornando referência e porta-voz dos opositores ao regime ditatorial paquistanês.
Ele não só começou a investigar o desaparecimento de ativistas políticos nos primeiros anos da ditadura como, mais tarde, deu declarações sugerindo que o Judiciário estava sendo pressionado pelo governo.
Após sua destituição por Musharraf, seguiu-se uma greve de advogados, ainda em março deste ano, e manifestações em apoio a Chaudhry pelo país.
Segundo a oposição, Musharraf suspendeu o juiz Chaudhry para eliminar eventuais entraves ao seu plano de permanecer mais cinco anos no poder.
O que começou como uma disputa entre o governo e simpatizantes de Chaudhry tornou-se um confronto aberto entre o partido governista, MQM (Movimento Mutahida Qaumi, da sigla em inglês), e agremiações de oposição, como o Partido do Povo, da ex-premiê exilada Benazir Butho, que querem o retorno de Chaudhry às suas funções.

Assassino
Na Assembléia Nacional, ontem, cerca de uma centena de parlamentares da oposição gritavam "Musharraf assassino" no plenário, em referência às mortes do fim de semana. Mas Musharraf, no próprio sábado, em um comício organizado pelos governistas em seu apoio na cidade de Islamabad, culpou o juiz Chaudhry pela violência.
A oposição rebateu a acusação: Farhatullah Babar, porta-voz do Partido do Povo, afirmou que Musharraf planejou a matança em Karachi.
Mesmo sendo ditatorial, o regime paquistanês é aliado dos EUA. Os americanos consideram o Paquistão um parceiro-chave no combate ao Taleban, que tem recuperado força no sul do Afeganistão, exatamente na região da fronteira com o Paquistão.

Mais mortes
Também ontem, um alto funcionário da Justiça que era próximo de Iftikhar Chaudhry foi morto a tiros na porta de sua casa, em Islamabad.
Segundo informa a rede de notícias britânica BBC, os advogados que defendem Chaudhry no caso de sua suspensão afirmaram que Syed Hammad Raza, o homem assassinado, era "importante" para o processo da defesa.


Com agências internacionais


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