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Sarkozy convida líder da rebelião de 1968
Médico, socialista e ex-líder grevista Bernard Kouchner pode assumir Ministério das Relações Exteriores
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Nicolas Sarkozy, eleito presidente da França prometendo
enterrar o que resta, se é que
resta, do espírito rebelde de
Maio de 1968, está para incluir
em cargo estratégico de seu governo um líder estudantil desse
período turbulento. Trata-se
do hoje médico Bernard
Kouchner, que há 40 anos chefiou o comitê de greve da Faculdade de Medicina de Paris.
O convite a Kouchner para
ser chanceler vazou de fontes
não-identificadas do círculo do
presidente eleito, por intermédio da agência France Presse, e
tornou-se o assunto principal
do noticiário, na antevéspera
da posse de Sarkozy, amanhã.
Ocorre que Kouchner é muito mais que ex-líder estudantil.
Foi inicialmente do Partido
Comunista, passou para o Partido Socialista, fundou a ONG
Médicos sem Fronteiras e participou ativamente da campanha presidencial da também
socialista Ségolène Royal.
Se for de fato convidado -e
aceitar-, quebrará a marca de
direitista empedernido com
que Sarkozy era visto em quase
todos os comentários, antes e
durante o período eleitoral.
Convém de todo modo ser
cuidadoso com a informação.
Fora as habituais "fontes" não
identificadas, ninguém a confirmou nem no QG de Sarkozy
nem do lado de Kouchner.
Além disso, no fim de semana já
havia vazado a informação de
que outro esquerdista, Hubert
Védrine, havia sido sondado
para o mesmo ministério.
Tanto Védrine como Kouchner foram ministros no governo do socialista Lionel Jospin.
Mais segura é a informação
de que um terceiro socialista,
Claude Allègre, ministro da
Educação com Jospin, estaria
"pronto a aceitar uma missão,
limitada no tempo, para ajudar
a universidade francesa", segundo o jornal "Le Parisien".
Se de fato Kouchner for para
a chancelaria, é pouco provável
que Sarkozy se torne aliado incondicional de Washington, ao
contrário do que diz, até agora,
a maioria dos comentários.
Não que Kouchner seja antiamericano. Mas ele, durante o
período prévio à invasão do Iraque, usava como lema "nem
Saddam nem guerra", ao contrário do que acabou sendo a
política de Washington. Mais:
Kouchner é conhecido pela defesa da tese de que ditaduras,
em qualquer parte do mundo,
não devem ser protegidas pelo
princípio da não-intervenção
em assuntos de outros países.
O suposto ou real convite a
socialistas está causando na
França o inverso do que o então
presidente brasileiro Fernando
Collor disse que provocaria, ou
seja, "indignação na direita e
perplexidade na esquerda".
De fato, a esquerda está tão
indignada que todos os seus integrantes que conversam com
Sarkozy já são preventivamente rotulados como traidores. A
direita não esconde sua perplexidade, embrulhada em ironia.
Patrick Devedjian, braço direito de Sarkozy e ministeriável,
aplaudiu a abertura a outros
grupos políticos, mas pediu que
ela fosse "longe, bem longe, para incluir até os sarkozystas".
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