|
Texto Anterior | Índice
Rice nega existir uma nova Guerra Fria
Secretária de Estado chega a Moscou e reconhece que EUA e Rússia passam por momento de relacionamento difícil
Putin acredita que o escudo
antimíssil procura intimidar
seu país e comparou os EUA
ao Terceiro Reich; Rice pede
uma retórica menos hostil
DA REDAÇÃO
Os Estados Unidos e a Rússia
atravessam um período de relacionamento difícil, mas as tensões bilaterais estão longe de
caracterizar uma nova Guerra
Fria, declarou ontem a secretária de Estado Condoleezza Rice, ao iniciar visita de três dias a
Moscou. Ela jantou com o primeiro-ministro Serguei Ivanov
e se encontrará hoje com o presidente Vladimir Putin.
"O momento é de intenso esforço diplomático", afirmou.
Disse ainda que Washington
pretende trabalhar sobre os
pontos de litígio, sobretudo
com relação à desconfiança
russa -que o governo americano julga ser infundada- sobre
o escudo antimíssil: dez silos de
lançamento na Polônia e um
poderoso radar na República
Tcheca, dois países que no período soviético integravam o
Pacto de Varsóvia, bloco militar
do Leste Europeu.
O Pentágono planejou o dispositivo para se contrapor a futuros ataques que se originem
do Irã ou da Coréia do Norte.
Mas o governo russo acredita
se tratar de um mecanismo de
dissuasão que tem por endereço seu sistema defensivo.
Essa preocupação, disse ontem Rice, "é infundada".
"Eu não usaria levianamente
a expressão Guerra Fria", disse
Rice aos repórteres que a
acompanhavam em seu vôo. "A
relação é bastante complicada,
mas não é de modo algum algo
que se assemelhe a uma hostilidade implacável."
Bush e a Otan
Afirmou que, apesar de tudo,
os presidentes Putin e George
W. Bush mantêm boas relações
pessoais. Conversaram por telefone na semana passada e
marcaram de se encontrar a
dois, durante a cúpula do G8
(países mais industrializados),
em junho, na Alemanha.
Rice disse que os EUA e a
Otan (aliança militar ocidental)
pretendem manter suas forças
convencionais na Europa. Ingressaram na Otan países que
nos tempos do comunismo integravam a esfera de influência
soviética, razão pela qual a Rússia lamenta que a "cortina de
ferro" -designação ocidental
da fronteira entre os dois blocos, no período da Guerra
Fria- esteja hoje bem mais
próxima de suas fronteiras.
Putin teme por esses arsenais e os qualificou há dias de
um "desrespeito à vida humana", que lembra as práticas "do
Terceiro Reich". A comparação, por ter sido excessivamente forte, levou o Kremlin a sublinhar, em seguida, que não
associou o governo Bush ao regime nazista. Mas o estrago retórico já estava feito.
Sem se referir ao incidente,
Rice afirmou ontem que "algumas vezes observações carregadas de emoção não são construtivas". Aconselhou os russos a
evitarem no futuro termos que
"possam sugerir hostilidade".
Pendência de Kosovo
Em sua agenda, a secretária
de Estado também disse que
procuraria convencer o governo russo a aceitar a independência plena de Kosovo, Província da Sérvia hoje sob administração da ONU. O Kremlin,
aliado da Sérvia, vê com maus
olhos a fragmentação daquele
território e seu conseqüente
enfraquecimento estratégico.
Relação com a Europa
Na sexta-feira, a chanceler
alemã, Angela Merkel, estará
na cidade russa de Samara para,
em nome da União Européia,
cuja presidência rotativa ela
exerce, tentar aparar os litígios
do bloco com a Rússia.
Ela conversou anteontem
com Putin e determinou que
seu ministro do Exterior,
Frank-Walter Steinmeir, esteja
em Moscou já na quinta-feira,
para se avistar com o próprio
Putin e com seu ministro do
Exterior, Serguei Lavrov.
A Europa se sente insegura
quanto ao fluxo de fornecimento do gás russo, que chegou a
ser empregado como instrumento de pressão contra ex-Repúblicas soviéticas.
Há ainda as recentes tensões
com a Estônia e, sobretudo, o litígio de há dois anos com a Polônia, que é membro da UE e é
objeto de um embargo comercial de Moscou, que evocou "razões de higiene" para vetar a
importação de carne e produtos agrícolas daquele país.
A embaixadora americana na
OCDE (Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), Constance
Morella, disse ontem que a
Rússia poderá integrar aquele
bloco de países, desde que
"cumpra algumas condições",
que não especificou. "Nós reconhecemos que a Rússia é uma
grande potência", afirmou.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Polícia portuguesa isola casa de britânico perto de onde menina sumiu Índice
|