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China pobre sofre mais com terremoto
Cidades mais afetadas, em Sichuan, exibem precariedade ausente nas grandes metrópoles; mortos chegam a 14.866
Agricultores perdem filhos e casas e contam com doações e ajuda de voluntários, mas acesso às áreas afetadas ainda é muito problemático
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A SHIFANG
A pobreza presente no interior chinês só aumentou a potência destrutiva do terremoto
de segunda-feira, que deixou
14.866 mortos, segundo balanço mais recente do governo, e
milhares de soterrados e desaparecidos. As cidades mais afetadas, na Província de Sichuan,
exibem uma precariedade ausente em todas as exibições de
riqueza da nova China.
O acesso de donativos e de
militares e médicos é difícil a
cidades montanhosas de Sichuan. O governo isolou Wenchuan, epicentro do terremoto,
onde o primeiro-ministro Wen
Jiabao esteve ontem. Até soldados e médicos chegaram lá a pé.
A Folha viu apenas um helicóptero sobrevoando a região
-ontem à noite, Wen ordenou
que mais 90 fossem para lá.
A reportagem levou quase
quatro horas para chegar de
Chengdu, capital da Província,
a Liu Shui, distrito completamente destruído de Shifang
-cidade onde 2.500 pessoas
morreram e mais de 30 mil estão desaparecidas.
Estradas de terra e pedrinhas são as vias de acesso para
a maioria desses vilarejos. O cenário: fábricas abandonadas,
construções inacabadas e casebres, destruídos pelo tremor.
Agricultores que ainda usam
o arado manual e mulheres que
carregam grãos em cestos nas
costas mostram que a vida em
Shifang não mudou muito nas
últimas décadas. A maioria tem
dentes cariados, pele muito
queimada e aparência frágil.
O desenvolvimento acelerado (e desigual) da China fica
para trás, em Chengdu, de 12
milhões de habitantes, com diversas lojas de marcas como
Louis Vuitton, Mercedes-Benz
e Porsche e vários shoppings.
Sem o filho único
Em Shifang, mães aos gritos
continuam ao redor das escolas
destruídas. Ao menor sinal de
que equipes de resgate querem
abandonar os trabalhos, atrás
de sobreviventes em outros locais, partem para cima do Exército. Num país onde filho único
é determinação do governo,
sentem que perderam tudo.
"Minha filha está machucada, mas foi a única que sobreviveu na classe dela. Ela tinha saído da sala, o que a salvou", diz
Chen Xian Min, 36. Agricultora, nesta época devia estar semeando arroz. Mas agora, falando da tenda onde se abriga, só quer saber onde vai morar.
"Meu consultório foi reduzido a pó, mas sou um afortunado
porque consegui sair correndo.
Na montanha, há cadáveres por
todos os lados, gente soterrada,
e o acesso aqui é terrível", diz o
dentista Luo Hua Xing, 56.
"Hoje foi o primeiro dia em que
recebi água e comida."
Um casal de agricultores arma uma tenda no meio da rua,
misturando compensado, telhas de amianto e sacos plásticos. "Minha casa desmoronou e
eu caí no chão, machuquei o
corpo inteiro, mas consegui fugir, estava de pijama. Estou comendo graças aos meus parentes, nem sei para onde vamos", diz Zhang Shi Xu, 60.
Além de parentes, voluntários não param de chegar às regiões devastadas. Dezenas de
pessoas enfrentavam as estradas precárias levando donativos para as regiões montanhosas. Filas para a doação de sangue se repetiram por todo o
país. Celebridades, como o ator
Jackie Chan, anunciaram doações milionárias às vítimas.
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