Ex-candidato democrata pode ajudar senador justamente nas fatias do eleitorado que ainda preferem Hillary Clinton

"Como mostraram ontem os eleitores da Virgínia Ocidental, essa coisa está longe de ter terminado", reage campanha de rival

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Um dia depois de a previsível vitória de Hillary Clinton na Virgínia Ocidental evidenciar os pontos fracos de Barack Obama ante parte importante do eleitorado democrata, um ex-pré-candidato à Presidência dos EUA com forte apelo exatamente nessa fatia do eleitorado anunciou seu apoio ao senador.
"Há um homem que sabe que é hora de criar um só país e não dois, e esse homem é Barack Obama", disse John Edwards, 54, em comício na noite de ontem em Michigan. O ex-senador pela Carolina do Norte, que disputava com Obama e Hillary a candidatura democrata à Casa Branca até janeiro e concorreu como vice na chapa derrotada de John Kerry em 2004, fez o anúncio após elogiar longamente Hillary e sua "força".
Até desistir da corrida, Edwards fez sua campanha baseado numa plataforma de combate à pobreza pintada com tons populistas e voltada ao eleitor branco de origem operária, com menos renda e pouca instrução -três universos em que freqüentemente a ex-primeira-dama tem batido Obama nas prévias partidárias.
Desde então, fazia mistério sobre qual companheiro de partido apoiaria, embora tivesse liberado o comando de sua campanha e os políticos que o cercavam para tomar suas decisões. Um indício de que o escolhido seria Obama era o fato de a maior parte das pessoas ligadas a Edwards ter se bandeado para a campanha do senador.
O outro veio em entrevista a uma emissora de TV na última sexta-feira. Indagado sobre sua escolha na primária da Carolina do Norte, na terça anterior, Edwards respondera que tinha "votado nele" ("him", em inglês). O jornalista que o entrevistava quis confirmar, e então o ex-senador voltou atrás e disse aos risos que dissera ""em", abreviação de "them", "eles", usada por sulistas como ele.
A reação de Hillary foi imediata. "Nós respeitamos John Edwards, mas, como os eleitores da Virgínia Ocidental mostraram ontem [terça] à noite, essa coisa está longe de ter terminado", disse Terry McAuliffe, diretor de sua campanha. O apoio do ex-senador, que era cobiçado por ambos os candidatos, chega num péssimo momento para a ex-primeira-dama, que procurava usar a vitória de terça para retomar o impulso de sua candidatura.
Com o anúncio, Edwards indica uma direção aos 19 delegados partidários que arrebatou até desistir da corrida, embora estes sejam livres para escolher quem apoiar, pelas regras do partido. Seja como for, Obama continua batendo Hillary em número de delegados e superdelegados, membros do partido que votam como querem.
No cálculo da Associated Press, Obama tinha ontem 1.883,5 delegados, incluídos os superdelegados, ante 1.717 de Hillary, já computados os 28 da Virgínia Ocidental -divididos em 20 para a ex-primeira-dama e 8 para o senador. Lidera assim por 166,5. São necessários 2.025 para obter a indicação do partido. A campanha do senador crê que conseguirá os 141,5 que faltam até terça.
Nesse dia, Kentucky e Oregon vão às urnas, com 103 delegados em jogo. Hillary está à frente nas pesquisas do primeiro, Obama no segundo. Depois, votam Porto Rico, Dakota do Sul e Montana, até 3 de junho.


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