São Paulo, sexta-feira, 15 de maio de 2009

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Ameaçada por Chávez, TV opositora é multada

Diretor da Globovisión diz à Folha que governo quer fechar empresa por decreto ou asfixia econômica

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Principal meio de comunicação opositor, o canal de notícias venezuelano Globovisión está mais do que nunca na berlinda desde o último domingo, quando o presidente Hugo Chávez disse que mudaria de nome se não fechasse o canal.
Nesta semana, os atritos entre o canal e o governo têm sido diários. Na manhã de ontem, enquanto a Folha visitava a sede, representantes do Fundo de Promoção e Financiamento de Cinema (Fonprocine) apareceram para deixar uma notificação exigindo o pagamento de R$ 2,4 milhões.
O valor foi calculado a partir da Lei de Cinematografia, que obriga os canais de sinal aberto a uma contribuição a partir do faturamento com publicidade. O artigo 51, porém, isenta do pagamento emissoras "com fins exclusivamente informativos". A reportagem entrou em contato com o Fonprocine, mas não houve resposta ao pedido de entrevista.
"O governo quer nos fechar por via administrativa ou pela asfixia econômica", disse à Folha o diretor-geral da Globovisión, Alberto Federico Ravell. "E terá de ser muito criativo para buscar argumentos legais que sustentem o fechamento de um meio de comunicação."
Chamado de "louco com um canhão" por Chávez, Ravell, 63, está longe de uma rotina normal. Costuma passar cerca de 16 horas por dia em seu escritório, que tem a parede ocupada por aparelhos de TV e uma ampla mesa de reuniões. O vai-e-vem de pessoas dá um ar de desorganização que combina com a camisa amarrotada e para fora da calça que vestia ontem.
Ravell diz que o canal está respondendo neste momento a 60 procedimentos abertos pelo governo, incluindo questões tributárias e investigações sobre seu conteúdo. "É o único canal do mundo que investe mais em advogados do que em engenheiros."
Além dos procedimentos administrativos, há também as críticas diárias vindas do governo. Anteontem, o vice-ministro de Comunicação Mauricio Rodríguez disse no canal estatal VTV que, nos EUA, "teriam dado pena de morte aos donos dos meios de comunicação se eles tivessem participado de um golpe de Estado", em alusão ao apoio da Globovisión à tentativa de tirar Chávez do poder, em abril de 2002.
As declarações foram imediatamente transformadas numa vinheta da Globovisión que, com o texto "Você Viu", costuma reproduzir frases desastrosas de Chávez e seus correligionários. "Ele fala hipoteticamente de pena de morte para diretores de meios de comunicação. Se disséssemos isso, já estaríamos presos", diz Ravell.
Muitas vezes, a tensão resvala para a violência. A sede do canal é vigiada 24 horas por dia pela Polícia Metropolitana para evitar novos ataques ao prédio, na maioria das vezes por meio de pichações.
Com cerca de 11% de audiência, a Globovisión é o terceiro canal mais visto do país, embora o seu sinal aberto só chegue às três maiores cidades -no restante do país, está disponível apenas por cabo. A sua grade mistura noticiários e programas de opinião, quase sempre com críticas contra Chávez.
"Já disseram que Chávez precisa da Globovisión como inimiga", afirma Ravell. "Mas também já disseram que nós precisamos dele para existir."


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