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Ameaçada por Chávez, TV opositora é multada
Diretor da Globovisión diz à Folha que governo quer fechar empresa por decreto ou asfixia econômica
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Principal meio de comunicação opositor, o canal de notícias
venezuelano Globovisión está
mais do que nunca na berlinda
desde o último domingo, quando o presidente Hugo Chávez
disse que mudaria de nome se
não fechasse o canal.
Nesta semana, os atritos entre o canal e o governo têm sido
diários. Na manhã de ontem,
enquanto a Folha visitava a sede, representantes do Fundo
de Promoção e Financiamento
de Cinema (Fonprocine) apareceram para deixar uma notificação exigindo o pagamento
de R$ 2,4 milhões.
O valor foi calculado a partir
da Lei de Cinematografia, que
obriga os canais de sinal aberto
a uma contribuição a partir do
faturamento com publicidade.
O artigo 51, porém, isenta do
pagamento emissoras "com
fins exclusivamente informativos". A reportagem entrou em
contato com o Fonprocine,
mas não houve resposta ao pedido de entrevista.
"O governo quer nos fechar
por via administrativa ou pela
asfixia econômica", disse à Folha o diretor-geral da Globovisión, Alberto Federico Ravell.
"E terá de ser muito criativo para buscar argumentos legais
que sustentem o fechamento
de um meio de comunicação."
Chamado de "louco com um
canhão" por Chávez, Ravell, 63,
está longe de uma rotina normal. Costuma passar cerca de
16 horas por dia em seu escritório, que tem a parede ocupada
por aparelhos de TV e uma ampla mesa de reuniões. O vai-e-vem de pessoas dá um ar de desorganização que combina com
a camisa amarrotada e para fora da calça que vestia ontem.
Ravell diz que o canal está
respondendo neste momento a
60 procedimentos abertos pelo
governo, incluindo questões
tributárias e investigações sobre seu conteúdo. "É o único
canal do mundo que investe
mais em advogados do que em
engenheiros."
Além dos procedimentos administrativos, há também as
críticas diárias vindas do governo. Anteontem, o vice-ministro
de Comunicação Mauricio Rodríguez disse no canal estatal
VTV que, nos EUA, "teriam dado pena de morte aos donos dos
meios de comunicação se eles
tivessem participado de um
golpe de Estado", em alusão ao
apoio da Globovisión à tentativa de tirar Chávez do poder, em
abril de 2002.
As declarações foram imediatamente transformadas numa vinheta da Globovisión que,
com o texto "Você Viu", costuma reproduzir frases desastrosas de Chávez e seus correligionários. "Ele fala hipoteticamente de pena de morte para
diretores de meios de comunicação. Se disséssemos isso, já
estaríamos presos", diz Ravell.
Muitas vezes, a tensão resvala para a violência. A sede do canal é vigiada 24 horas por dia
pela Polícia Metropolitana para evitar novos ataques ao prédio, na maioria das vezes por
meio de pichações.
Com cerca de 11% de audiência, a Globovisión é o terceiro
canal mais visto do país, embora o seu sinal aberto só chegue
às três maiores cidades -no
restante do país, está disponível apenas por cabo. A sua grade mistura noticiários e programas de opinião, quase sempre
com críticas contra Chávez.
"Já disseram que Chávez
precisa da Globovisión como
inimiga", afirma Ravell. "Mas
também já disseram que nós
precisamos dele para existir."
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