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Invasão alimenta tensão entre palestinos
Funcionários públicos agridem parlamentares do Hamas e exigem pagamento de salários atrasados desde fevereiro
Na França, o premiê de Israel, Ehud Olmert, afirma que seu plano de retirada unilateral é irreversível,
com ou sem negociação
DA REDAÇÃO
Dezenas de funcionários públicos palestinos invadiram ontem o Parlamento durante uma
sessão em Ramallah, na Cisjordânia. Eles exigiram o pagamento dos salários atrasados
há quatro meses e agrediram
parlamentares.
O segundo ataque contra o
Parlamento nesta semana evidencia a disputa interna de poder entre facções palestinas,
que vem se intensificando desde que o grupo terrorista Hamas derrotou o Fatah nas eleições legislativas de janeiro. Nas
últimas semanas, os confrontos
já mataram 22 pessoas.
Ontem, o presidente da Autoridade Nacional Palestina,
Mahmoud Abbas (Fatah), e o
premiê Ismail Haniyeh (Hamas) iniciaram uma segunda
rodada de conversas, que deve
durar uma semana, para negociar a pacificação.
De tendência moderada, Abbas tem pressionado o Hamas a
aceitar um acordo que inclua o
reconhecimento implícito do
Estado de Israel.
Ele apóia o plano como uma
maneira de retomar as negociações de paz com Israel e interromper as sanções econômicas
que impossibilitam o governo
palestino de pagar, desde fevereiro, os salários de um terço da
população. O Hamas, que prega
a destruição do Estado judeu, é
contra.
"Estamos famintos", gritavam as centenas de manifestantes que protestavam do lado
de fora, supostamente membros do Fatah.
Os funcionários agrediram
parlamentares do Hamas com
garrafas de água, caixas de lenços de papel e outros, e subiram
em suas mesas.
O porta-voz Abdel Aziz
Duaik, do Hamas, fugiu protegido por uma forte escolta antes que a multidão invadisse o
prédio. "Não voltarei enquanto
eles não saírem", disse.
O tumulto durou 45 minutos,
e a sessão parlamentar foi retomada em seguida.
Dinheiro na bagagem
Horas depois, segundo autoridades do Hamas, o ministro
palestino das Finanças, Mahmoud Zahar, voltou de um tour
por nações muçulmanas com
US$ 20 milhões na bagagem,
furando o boicote ocidental.
No mês passado, um funcionário do Hamas foi pego contrabandeando US$ 800 mil em
Gaza. O grupo terrorista afirma
já ter coletado mais de US$ 60
milhões de nações árabes e muçulmanas.
No fim do dia, simpatizantes
do Hamas fizeram uma manifestação pacífica em Ramallah
condenando os ataques contra
prédios do governo.
"Nós perguntamos: vocês estão servindo aos interesses de
quem com essas ações, incendiando nossas instituições?",
disse um dos líderes do Hamas,
Farhat Assad, em um discurso.
"É pior do que as práticas da
ocupação israelense."
No início da semana, centenas de agentes de segurança
pró-Fatah atiraram contra e incendiaram prédios públicos,
em protestos contra o governo
liderado pelo Hamas.
Parte da disputa de poder se
concentra na questão do controle sobre as forças de segurança. No mês passado, o Hamas passou a empregar uma
milícia privada com cerca de
3.000 homens. Abbas exige que
a milícia seja extinta.
Em mais um incidente ontem, um membro do Hamas foi
morto no sul da faixa de Gaza
pouco depois de o comandante
de uma das agências de segurança palestinas ter sido atacado. Em retaliação, a casa do comandante foi incendiada.
"Lamentamos esses incidentes", disse Haniyeh durante o
encontro com Abbas em Gaza.
"Estamos muito preocupados e
queremos acabar com essa deterioração. O governo cumprirá sua responsabilidade com as
forças de segurança para manter a lei e a ordem."
Plano irreversível
Ontem, o premiê israelense,
Ehud Olmert, disse que seu plano de redesenhar unilateralmente as fronteiras com os territórios palestinos é irreversível, mas que ainda espera negociar o tema com a ANP. Olmert
visita a França e o Reino Unido
em busca de apoio.
Pelo plano de convergência,
dezenas de assentamentos judaicos na Cisjordânia seriam
removidos. Outros seriam anexados com a proteção de uma
fronteira fortificada, em áreas
disputadas pelos palestinos.
"O plano de realinhamento é
irreversível. Não pode ser impedido. Será implementado",
disse Olmert após um encontro
com o presidente francês, Jacques Chirac. "Espero que ele
possa ser implementado dentro de uma solução negociada,
mas será levado adiante com ou
sem ela."
A França e o Reino Unido
têm pressionado o governo israelense a negociar um acordo
em vez de agir unilateralmente.
Segundo autoridades francesas, Chirac disse a Olmert no
encontro que isso é "uma prioridade absoluta".
Olmert disse que "fará todos
os esforços", mas que só negocia se o governo palestino reconhecer o Estado de Israel, renunciar à violência e aceitar
acordos de paz prévios -condições que o Hamas rejeita.
Com agências internacionais
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