São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2006

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Invasão alimenta tensão entre palestinos

Funcionários públicos agridem parlamentares do Hamas e exigem pagamento de salários atrasados desde fevereiro

Na França, o premiê de Israel, Ehud Olmert, afirma que seu plano de retirada unilateral é irreversível, com ou sem negociação


DA REDAÇÃO

Dezenas de funcionários públicos palestinos invadiram ontem o Parlamento durante uma sessão em Ramallah, na Cisjordânia. Eles exigiram o pagamento dos salários atrasados há quatro meses e agrediram parlamentares.
O segundo ataque contra o Parlamento nesta semana evidencia a disputa interna de poder entre facções palestinas, que vem se intensificando desde que o grupo terrorista Hamas derrotou o Fatah nas eleições legislativas de janeiro. Nas últimas semanas, os confrontos já mataram 22 pessoas.
Ontem, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas (Fatah), e o premiê Ismail Haniyeh (Hamas) iniciaram uma segunda rodada de conversas, que deve durar uma semana, para negociar a pacificação.
De tendência moderada, Abbas tem pressionado o Hamas a aceitar um acordo que inclua o reconhecimento implícito do Estado de Israel.
Ele apóia o plano como uma maneira de retomar as negociações de paz com Israel e interromper as sanções econômicas que impossibilitam o governo palestino de pagar, desde fevereiro, os salários de um terço da população. O Hamas, que prega a destruição do Estado judeu, é contra.
"Estamos famintos", gritavam as centenas de manifestantes que protestavam do lado de fora, supostamente membros do Fatah.
Os funcionários agrediram parlamentares do Hamas com garrafas de água, caixas de lenços de papel e outros, e subiram em suas mesas.
O porta-voz Abdel Aziz Duaik, do Hamas, fugiu protegido por uma forte escolta antes que a multidão invadisse o prédio. "Não voltarei enquanto eles não saírem", disse.
O tumulto durou 45 minutos, e a sessão parlamentar foi retomada em seguida.

Dinheiro na bagagem
Horas depois, segundo autoridades do Hamas, o ministro palestino das Finanças, Mahmoud Zahar, voltou de um tour por nações muçulmanas com US$ 20 milhões na bagagem, furando o boicote ocidental.
No mês passado, um funcionário do Hamas foi pego contrabandeando US$ 800 mil em Gaza. O grupo terrorista afirma já ter coletado mais de US$ 60 milhões de nações árabes e muçulmanas.
No fim do dia, simpatizantes do Hamas fizeram uma manifestação pacífica em Ramallah condenando os ataques contra prédios do governo.
"Nós perguntamos: vocês estão servindo aos interesses de quem com essas ações, incendiando nossas instituições?", disse um dos líderes do Hamas, Farhat Assad, em um discurso. "É pior do que as práticas da ocupação israelense."
No início da semana, centenas de agentes de segurança pró-Fatah atiraram contra e incendiaram prédios públicos, em protestos contra o governo liderado pelo Hamas.
Parte da disputa de poder se concentra na questão do controle sobre as forças de segurança. No mês passado, o Hamas passou a empregar uma milícia privada com cerca de 3.000 homens. Abbas exige que a milícia seja extinta.
Em mais um incidente ontem, um membro do Hamas foi morto no sul da faixa de Gaza pouco depois de o comandante de uma das agências de segurança palestinas ter sido atacado. Em retaliação, a casa do comandante foi incendiada.
"Lamentamos esses incidentes", disse Haniyeh durante o encontro com Abbas em Gaza. "Estamos muito preocupados e queremos acabar com essa deterioração. O governo cumprirá sua responsabilidade com as forças de segurança para manter a lei e a ordem."

Plano irreversível
Ontem, o premiê israelense, Ehud Olmert, disse que seu plano de redesenhar unilateralmente as fronteiras com os territórios palestinos é irreversível, mas que ainda espera negociar o tema com a ANP. Olmert visita a França e o Reino Unido em busca de apoio.
Pelo plano de convergência, dezenas de assentamentos judaicos na Cisjordânia seriam removidos. Outros seriam anexados com a proteção de uma fronteira fortificada, em áreas disputadas pelos palestinos.
"O plano de realinhamento é irreversível. Não pode ser impedido. Será implementado", disse Olmert após um encontro com o presidente francês, Jacques Chirac. "Espero que ele possa ser implementado dentro de uma solução negociada, mas será levado adiante com ou sem ela."
A França e o Reino Unido têm pressionado o governo israelense a negociar um acordo em vez de agir unilateralmente. Segundo autoridades francesas, Chirac disse a Olmert no encontro que isso é "uma prioridade absoluta".
Olmert disse que "fará todos os esforços", mas que só negocia se o governo palestino reconhecer o Estado de Israel, renunciar à violência e aceitar acordos de paz prévios -condições que o Hamas rejeita.


Com agências internacionais

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