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Após eleição, Irã vive onda de detenções
Mir Hossein Mousavi, derrotado pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, entra com um pedido de anulação da votação
Centenas de opositores e líderes reformistas são presos nos últimos 2 dias; candidato rival não aparece em público desde sexta
Associated Press
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Simpatizantes de Mir Hossein Mosavi, derrotado nas eleições,
fogem da polícia e de milicianos em Teerã; centenas foram presos
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ
Com violência e protestos
nas ruas de Teerã e centenas de
manifestantes presos, o candidato derrotado à Presidência
do Irã, o reformista moderado
Mir Hossein Mousavi, pediu
ontem a anulação da eleição de
sexta-feira, que reelegeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad com 62,7% dos votos.
Mousavi, que teve 33% dos
votos, acusa o pleito de "irregularidades em massa". Depois de
uma campanha acirrada e do
desgaste da crise econômica,
Ahmadinejad teve quase o dobro dos votos do opositor e 10
milhões de votos a mais do que
em 2005, número considerado
irreal pela oposição.
Desde sábado, mais de cem
políticos reformistas e centenas de manifestantes foram
presos. É desconhecido o paradeiro de Mousavi desde sexta-feira à noite. Suas mensagens
pedindo calma foram divulgadas por seu comitê, que se encontra cercado pela polícia nos
últimos dois dias.
Dezenas de pequenas manifestações aconteceram ontem
pelo segundo dia consecutivo
contra o resultado. A maior delas reuniu 2.000 estudantes na
Universidade de Teerã, que gritavam "Morte ao ditador" e
"Fomos roubados", mas foi violentamente reprimida pela polícia. Ônibus, motos e lixeiras
foram incendiados. Houve protestos ainda em Mashhad, Shiraz e Tabriz, três das maiores
cidades do país.
Vídeos das manifestações foram colocados no YouTube, site bloqueado no país, por mecanismos que driblam a censura.
O sistema de envio de mensagens por celular continua indisponível no país e a internet está
ainda mais lenta que o normal.
As aulas em todas as universidades iranianas estão suspensas até nova ordem.
Na noite de domingo -que é
dia útil no Irã-, a capital parecia viver um toque de recolher
informal. Restaurantes e shoppings vazios, pouco trânsito e
forte presença militar.
A Folha percorreu 19 km da
avenida Valiasr, a principal da
cidade, e viu camburões estacionados com militares, paramilitares e policiais em motos
em praticamente todos os
quarteirões.
Um jornalista canadense e
dois belgas foram presos enquanto cobriam os protestos. O
canadense viu pelo menos 100
pessoas detidas, ajoelhadas no
chão e algemadas, no Ministério do Interior. Os belgas estavam com outros 13 presos no
Ministério da Informação.
A emissora Al Arabiya, de
Dubai, teve seu escritório fechado ontem por uma semana
e foi advertida "para ter mais
cuidado ao noticiar caos".
O ex-vice-presidente Mohammad Ali Abtahi confirmou
à Folha que diversos dirigentes
reformistas "foram detidos em
suas casas na madrugada de sábado para domingo". Seu blog,
o mais lido no país entre os
blogs políticos, foi bloqueado.
Entre os políticos opositores
detidos estão o ex-vice-chanceler Abdulá Ramezamzadeh e
Mohammad Reza Khatami, irmão do ex-presidente reformista Mohammad Khatami.
Segundo a agência estatal de
notícias Irna, os presos estão
"envolvidos em orquestrar os
protestos de sábado".
O aiatolá Ali Khamenei, líder
supremo político e religioso do
país, que controla as Forças Armadas, a mídia e a Justiça, disse no sábado que a eleição foi
limpa e que "todos deveriam
apoiar o vitorioso".
O economista Saeed Laylaz,
professor da Universidade Shahid Beheshti, disse à Folha que
teme pela falta de negociação.
"O apoio declarado do aiatolá
Khamenei colocou um fim às
negociações políticas a partir
do topo", disse. "Mas temo que
toda essa juventude revoltada
não volte logo para casa. Corremos risco de ver várias praças
da Paz Celestial por aqui."
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