São Paulo, segunda-feira, 15 de junho de 2009

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Após eleição, Irã vive onda de detenções

Mir Hossein Mousavi, derrotado pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, entra com um pedido de anulação da votação

Centenas de opositores e líderes reformistas são presos nos últimos 2 dias; candidato rival não aparece em público desde sexta

Associated Press
Simpatizantes de Mir Hossein Mosavi, derrotado nas eleições,
fogem da polícia e de milicianos em Teerã; centenas foram presos


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ

Com violência e protestos nas ruas de Teerã e centenas de manifestantes presos, o candidato derrotado à Presidência do Irã, o reformista moderado Mir Hossein Mousavi, pediu ontem a anulação da eleição de sexta-feira, que reelegeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad com 62,7% dos votos.
Mousavi, que teve 33% dos votos, acusa o pleito de "irregularidades em massa". Depois de uma campanha acirrada e do desgaste da crise econômica, Ahmadinejad teve quase o dobro dos votos do opositor e 10 milhões de votos a mais do que em 2005, número considerado irreal pela oposição.
Desde sábado, mais de cem políticos reformistas e centenas de manifestantes foram presos. É desconhecido o paradeiro de Mousavi desde sexta-feira à noite. Suas mensagens pedindo calma foram divulgadas por seu comitê, que se encontra cercado pela polícia nos últimos dois dias.
Dezenas de pequenas manifestações aconteceram ontem pelo segundo dia consecutivo contra o resultado. A maior delas reuniu 2.000 estudantes na Universidade de Teerã, que gritavam "Morte ao ditador" e "Fomos roubados", mas foi violentamente reprimida pela polícia. Ônibus, motos e lixeiras foram incendiados. Houve protestos ainda em Mashhad, Shiraz e Tabriz, três das maiores cidades do país.
Vídeos das manifestações foram colocados no YouTube, site bloqueado no país, por mecanismos que driblam a censura. O sistema de envio de mensagens por celular continua indisponível no país e a internet está ainda mais lenta que o normal. As aulas em todas as universidades iranianas estão suspensas até nova ordem.
Na noite de domingo -que é dia útil no Irã-, a capital parecia viver um toque de recolher informal. Restaurantes e shoppings vazios, pouco trânsito e forte presença militar.
A Folha percorreu 19 km da avenida Valiasr, a principal da cidade, e viu camburões estacionados com militares, paramilitares e policiais em motos em praticamente todos os quarteirões.
Um jornalista canadense e dois belgas foram presos enquanto cobriam os protestos. O canadense viu pelo menos 100 pessoas detidas, ajoelhadas no chão e algemadas, no Ministério do Interior. Os belgas estavam com outros 13 presos no Ministério da Informação.
A emissora Al Arabiya, de Dubai, teve seu escritório fechado ontem por uma semana e foi advertida "para ter mais cuidado ao noticiar caos".
O ex-vice-presidente Mohammad Ali Abtahi confirmou à Folha que diversos dirigentes reformistas "foram detidos em suas casas na madrugada de sábado para domingo". Seu blog, o mais lido no país entre os blogs políticos, foi bloqueado.
Entre os políticos opositores detidos estão o ex-vice-chanceler Abdulá Ramezamzadeh e Mohammad Reza Khatami, irmão do ex-presidente reformista Mohammad Khatami.
Segundo a agência estatal de notícias Irna, os presos estão "envolvidos em orquestrar os protestos de sábado".
O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo político e religioso do país, que controla as Forças Armadas, a mídia e a Justiça, disse no sábado que a eleição foi limpa e que "todos deveriam apoiar o vitorioso".
O economista Saeed Laylaz, professor da Universidade Shahid Beheshti, disse à Folha que teme pela falta de negociação. "O apoio declarado do aiatolá Khamenei colocou um fim às negociações políticas a partir do topo", disse. "Mas temo que toda essa juventude revoltada não volte logo para casa. Corremos risco de ver várias praças da Paz Celestial por aqui."


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