São Paulo, segunda-feira, 15 de junho de 2009

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Presidente compara manifestações a futebol

DO ENVIADO A TEERÃ

O presidente reeleito do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, comparou a prisão de centenas de manifestantes e políticos da oposição a uma torcida de futebol. "Quando acontece uma partida de futebol e um time perde, os torcedores saem muito zangados, pegam o carro e desrespeitam os sinais vermelhos, então a polícia precisa multar", disse ontem em entrevista coletiva no complexo presidencial.
"Torcedor fica bravo quando perde, mas todos temos que aprender a não ultrapassar o sinal vermelho."
Não foi a única indireta do presidente à oposição. "Se estrangeiros se meterem na eleição, 70 milhões de iranianos se levantarão. O Judiciário tomará conta dos iranianos que colaborarem com estrangeiros contra o país", disse.
Ahmadinejad disse que a eleição "foi livre, justa e épica", e que o país virou um novo "modelo de democracia, baseado em valores éticos".
A entrevista coletiva foi realizada horas antes de um megacomício de comemoração pela sua vitória, realizado à noite na praça Valiasr ("liderança" em persa), com cerca de 50 mil pessoas. Protestos da oposição não foram autorizados pelo governo, apesar de boatos de que Mousavi tentará organizar um protesto hoje à tarde em Teerã.
No comício, Ahmadinejad ironizou o discurso do presidente americano Barack Obama no Cairo, há duas semanas. "Obama disse que via o Irã pronto para mudar. De fato, que o Irã deveria mudar. Os iranianos escolheram do seu jeito. Abaixo os EUA", discursou.

Programa nuclear
Já na coletiva com os jornalistas, ele se apresentou menos agressivo com o americano. Reafirmou que quer fazer um debate com Obama, mas não sobre o programa nuclear iraniano, dizendo que "isso é coisa do passado". Mas afirmou que participaria de um diálogo para o desarmamento nuclear no mundo, "além de temas de governança mundial".
"O mundo deve mudar, deve recriar suas instituições, inspirado na ética, no amor, na justiça, na amizade", disse.
A coletiva foi aberta com 5 minutos de orações pelo alto-falante. Das 30 perguntas, todas selecionadas previamente pelo governo, 23 eram de jornalistas da mídia estatal do Irã, que davam parabéns a Ahmadinejad e lhe faziam elogios.
Em uma comprovação da grande batalha que acontece dentro do poder iraniano, uma jornalista de um jornal estatal perguntou ao presidente sobre a "traição" do ex-presidente Hashemi Rafsanjani. "O senhor não foi cumprimentado por ele ainda, que mandou uma carta contra o senhor ao líder supremo. Há quem continue nas sombras, tentando promover incidentes", disse a jornalista.
Em temas de direitos humanos, que dominaram parte da campanha, Ahmadinejad afirmou que não há discriminação contra as mulheres no Irã.
"As mulheres têm mais direitos que os homens no Irã. Acho que existe discriminação contra o homem", falou, rindo.
Ao ser questionado sobre uma garota que foi enforcada no mês passado e sobre a Justiça do país, ele disse que o "Judiciário é independente" e que era contra a pena de morte. "Ninguém deveria cometer crimes para não haver pena de morte, é melhor que não tenha crimes." (RJL)



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