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ANÁLISE
Pleito traz indícios sombrios, mais ao Irã que ao Ocidente
No âmbito interno, governo Ahmadinejad oprimiu população e freou desenvolvimento; mas a política nuclear e uma eventual aproximação dos EUA são decididas pelo aiatolá
ADRIAN HAMILTON
DO "INDEPENDENT"
Este não é um bom momento
para o Irã. Certamente não é
um bom momento para os iranianos que queriam a liberalização de sua sociedade. E não é
um bom momento para aqueles que esperavam por um dia
em que um presidente americano de mentalidade mais
aberta pudesse encorajar o país
a sair do isolamento e suspender suas atividades nucleares.
Mas este tampouco é o momento de impormos ao Irã os
desejos de um mundo externo
que gostaria que a eleição tivesse sido diferente.
A última vez em que um candidato presidencial vencera por
margem tão grande numa eleição iraniana foi em 1997, quando um reformista, Mohammad
Khatami, foi eleito por mais de
70% dos votos. Como Mahmoud Ahmadinejad desta vez,
Khatami foi reeleito quatro
anos mais tarde por uma margem ainda maior, apenas para
se tornar inoperante em seus
últimos anos no cargo pela autoridade dos clérigos conservadores e do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.
Será que essa última eleição,
então, faz parte do padrão pelo
qual progressistas ocasionalmente são autorizados a ter
voz, mas nunca a ameaçar o sistema? É o que pensam reformistas e observadores ocidentais, após um pleito em que os
resultados parecem uniformes
demais para serem dignos de
crédito.
Quer a contagem dos votos
tenha sido fraudada ou não -e
vale recordar que Ahmadinejad
tem considerável base de apoio
entre os pobres e a linha dura-,
o fato de que os reformistas obtiveram uma parcela tão pequena dos votos deixa seus partidários gravemente insatisfeitos. Houve energia demais na
campanha para que o aiatolá
Khamenei agora diga que os
partidos reformistas devem recuar e aceitar "o veredicto da
maioria".
Isso não quer dizer que o
mundo em geral esteja diante
de um país mais hostil ou mais
implacável do que antes. A política em relação ao desenvolvimento nuclear e as respostas à
mão estendida por Obama não
são decididas pelo presidente
do Irã, mas pelo aiatolá.
A eleição traz maus agouros
ao próprio Irã. Sob Ahmadinejad, o país se tornou mais
opressor e mais incompetente
na administração da economia.
O custo de uma política que
bloqueou investimentos, freou
o desenvolvimento e restringiu
os mercados é pesado e ficará
mais ainda, a não ser que acorram mudanças reais.
Uma década atrás, os reformistas pensaram que tinham
inaugurado um novo começo
com Khatami, apenas para sofrerem uma desilusão e se introverterem. O Irã está mudando, por conta de fatores demográficos, educacionais e de comunicações. Talvez desta vez
seja diferente. Uma vez deslanchado, o ímpeto por transformações pode ser irrefreável.
Assim, mais uma vez, o Ocidente se vê diante de um dilema que opõe seus princípios a
seus interesses. Seus princípios
podem exigir que conteste o
pleito no Irã. Seus interesses o
aconselham a tratar com quem
quer que esteja no poder. Seria
conveniente fazê-lo. Todas as
esperanças e expressões de
apoio do mundo externo não
ajudaram os reformistas nesta
ocasião. E é pouco provável que
o façam depois dela.
Tradução de CLARA ALLAIN
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